Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Uma rede sem restrição ou discriminação

O colega Carlos Rocha [ver ‘A proposta original de uma rede digital para rádio e TV‘] representa um determinado pensamento existente em parte das universidades federais que demoniza qualquer iniciativa integradora no campo da televisão universitária lutando para separar as instituições federais do restante do segmento, composto por universidades públicas estaduais, universidades comunitárias, privadas, leigas ou confessionais, enfim, instituições de ensino superior de qualquer natureza. A ABTU repudia completamente esse pensamento sectário, divisionista e redutor. Felizmente, ele não é acompanhado pela maioria das IFES, nem pela Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), que firmou conosco um Protocolo de Intenções para a defesa conjunta da TV universitária e a coordenação de ações para o seu desenvolvimento.

Na TV universitária, conseguimos manter a unidade do campo porque, independente da natureza jurídica das instituições, todas têm o mesmo problema: o de fazer televisão de qualidade, prestando serviços úteis com recursos limitados. A Rede de Intercâmbio de Televisão Universitária (RITU), idealizada pela ABTU há muitos anos e implementada agora em oportuna parceria com a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), oferece uma solução simples e barata para a falta de programação na maioria dos canais universitários. Propõe que todos compartilhem os programas que fazem, sem restrições a qualquer instituição, sem formar nenhum clube exclusivo de federais, sem discriminar universidades privadas, confessionais ou comunitárias.

Um esforço coletivo

Os participantes da RITU, conforme expliquei em meu texto [‘Sonho da rede nacional virou realidade‘], poderão acessar os programas disponíveis on-demand, baixando apenas os que lhe interessarem, quando quiserem. Mas poderão também, se quiserem, receber uma grade contínua, empacotada sob responsabilidade da ABTU, com base nos programas disponibilizados. Serão duas formas de acesso para facilitar a vida dos participantes e servi-los melhor, o que nada tem a ver com pretensão de dirigismo na programação ou qualquer fantasma semelhante. Canais universitários que já têm programação e precisam apenas complementá-la, usarão mais o acesso on-demand. Canais que não têm volume suficiente de programação usarão a grade nacional e a complementarão com os seus próprios programas.

Por outro lado, se mudamos a concepção original de utilizar satélite para a distribuição dos programas, substituindo-a pelo uso das redes de dados de alta velocidade da RNP, foi porque a tecnologia nessa área evoluiu e mostrou-se, de fato, mais compatível com a realidade financeira da televisão universitária. A UFPR enxergou isso antes da ABTU? Parabéns para ela, sinceramente. Pena que não enxergue o quanto ganharíamos todos – ela, as outras universidades e a sociedade brasileira – se aderisse ao esforço coletivo de construção da televisão universitária no país, em vez de fomentar a divisão e a enfraquecimento do nosso setor.

Quanto aos valores solicitados por Carlos Rocha, informo que a RNP aplicará no projeto RITU pouco mais de 168 mil reais – valor inferior, como eu disse, a três capítulos de telenovela. Brasileira, não mexicana, que é mais barata e, nesse caso, o valor seria inferior a quatro ou cinco capítulos.

As universidades que desejarem aderir ao sistema de compartilhamento de programação, acessível às afiliadas da ABTU e a todas as universidades federais, gastarão apenas 7.500 reais no equipamento necessário, como a RNP demonstrou na cerimônia de lançamento da rede, em 13 de dezembro último, na Universidade de Brasília. Se esses valores não representam um bom investimento de recursos públicos, para a finalidade que cumprirão – a viabilização de mais de 50 canais universitários e o estímulo ao surgimento de novos – ignoro o que seja gastar bem o dinheiro do contribuinte.

Divididos, nada ganhamos

Finalmente, a ABTU apresenta-se como legítima representante do segmento de televisão universitária porque soma quase dez anos de luta intensa, desde as primeiras articulações para a sua criação. Uma luta travada em defesa de todos, sem sectarismo de qualquer espécie, que nos leva a ter hoje 40 associados, entre os quais diversas universidades públicas e federais. A ABTU é reconhecida no segmento e fora dele, na universidade e na televisão, no setor público, no mundo privado e no terceiro setor, e a sua legitimidade vem desse amplo reconhecimento de seu papel construtivo, não da nossa mera pretensão.

A ABTU é um fato político concreto, enquanto seus detratores jamais conseguiram articular uma alternativa a ela, embora sigam tentando, reféns que são de sua inconseqüência. Mas, com o melhor espírito de concórdia e entendimento, que sempre nos animou, conclamamos todos os colegas da UFPR e demais instituições que ainda não aderiram à nossa associação que tragam suas divergências para discutirmos e que não se isolem no processo de construção da TV universitária brasileira. Nada temos a ganhar divididos. Tudo podemos fazer, se estivermos unidos. É o que a experiência vem demonstrando.

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Jornalista, professor, diretor de televisão e presidente da ABTU