Atualmente a humanidade está vivendo um momento desafiador com o acirramento de crises ambientais de grande amplitude. As conseqüências da degradação ambiental estão se fazendo cada vez mais notáveis, ameaçadoras e crescentes. O aumento do efeito estufa vem causando o aquecimento da temperatura global e a conseqüente elevação dos níveis dos oceanos, as chuvas ácidas envenenando constantemente lagos e solos, o buraco na camada de ozônio colocando em risco a vida em nosso planeta em virtude da elevação da incidência de raios ultravioletas.
O grande impasse que vem se instaurando no campo das ciências e da própria sobrevivência da espécie humana, é o alcance de um modelo de desenvolvimento mais sustentável, oriundo de reflexões e mudanças comportamentais.
Nesse contexto, os meios de comunicação de massa desempenham um papel primordial, uma vez que são as principais fontes de informação para expressiva camada da população, consolidando-se como um fator decisivo nos processos de formação de opinião sobre a problemática ambiental.
Pode-se inferir que a influência dos meios de comunicação tem o poder de levar a humanidade a tomar conhecimento dos problemas sócio-ambientais e a procurar rediscutir os seus modelos de desenvolvimento e de atuação no meio ambiente. A mídia, constituindo-se paradoxalmente como meio de elite e de massas e atuando como instrumento difusor de mensagens de acesso potencial a todos os indivíduos da sociedade, consolida-se, desta forma, como elemento essencial para a consecução de caminhos que levem ao alcance de uma visão interdisciplinar do meio ambiente.
De fato temos observado que com o domínio da informação, a mídia desenvolveu mecanismos e ferramentas capazes de difundir, mais rapidamente, o conhecimento acerca da problemática ambiental, comprovado pelas últimas décadas, onde houve um aumento significativo de publicações, documentários e campanhas de publicidade institucionais sobre o meio ambiente.
Por meio dos jornais e, principalmente, da televisão, as questões ambientais têm chegado ao conhecimento, pela primeira vez, de segmentos da sociedade que nunca tinham tido acesso ao tema, uma vez que estas informações circulavam basicamente em espaços restritos (comunidade científica, seminários, palestras e publicações especializadas). No entanto, esta atuação da mídia enquanto construtora do conhecimento e sua interface com a educação ambiental, não vem acompanhando as reais necessidades da sociedade e do meio ambiente. O seu interesse voltado para os assuntos ambientais é invariavelmente determinado por circunstancias trágicas: vazamentos de óleo, enchentes, estiagens, queimadas, furacões e terremotos são o que merecem lugar de destaque nos noticiários. O que de certa forma é correto. Mas ainda falta-lhe perceber a urgência de abrir espaço para novas pautas que cumpram o objetivo de tratar da problemática sócio-ambiental de maneira interdisciplinar. O que presenciamos é uma cobertura viciada numa ética que não é a do cuidado (BOFF, 1999), nem a da responsabilidade (CAVALCANTI, 2006).
Cabe à função social da mídia, explicar com clareza e objetividade os desafios que temos pela frente em relação ao aquecimento global, escassez de recursos hídricos, desertificação do solo, destruição voraz da biodiversidade, multiplicação do volume de lixo, consumismo desenfreado e compulsivo, transgenia irresponsável, entre outros, além de sinalizar rumos e perspectivas para a sociedade, dando visibilidade a inúmeros exemplos de que é possível construir um projeto de desenvolvimento que gere riqueza sem destruir o meio ambiente.
O que a sociedade necessita da mídia, é a produção de mensagens que abordem: a versão integradora e completa da problemática ambiental, refletindo interesses coletivos, desenvolvendo um discurso que avance a mera constatação e atravessando as fronteiras estruturais, onde interesses políticos e econômicos se organizam.
Um grande fator de análise é o ‘dispositivo pedagógico’ da mídia, especialmente a televisiva, compreendendo os meios de informação e comunicação enquanto construtores de significados que atuam decisivamente na formação dos sujeitos sociais. É importante compreender dois grandes campos: o da comunicação (atentando para as estratégias de linguagem da mídia) e o da educação (sublinhando o problema da constituição do sujeito, de sua produção e formação, a partir do consumo de produtos midiáticos).
A preocupação pela questão ambiental
Desde o seu surgimento, há cerca de 90 mil anos atrás, a espécie humana vem degradando a natureza. Durante os primeiros 80 mil anos, fomos caçadores coletores e, provavelmente, responsáveis pelo desaparecimento de várias outras espécies no planeta. Depois, nos tornamos agricultores por mais 10 mil anos, dominando o fogo, utilizando a terra para plantar e alterando constantemente o meio ambiente em que vivíamos.
Devemos ter consciência de que o ser humano sempre provocou grande desequilíbrio em todos os lugares que ocupou, entretanto, nos últimos 200 anos, a degradação ambiental começou a ter grande importância, uma vez que o homem conseguiu aumentar sua expectativa de vida, dominando a maioria das doenças e gerando uma população sem controle. A este panorama, soma-se a capacidade humana de inventar máquinas para realizarem tarefas em grande escala, passando da era artesanal para a industrial. A partir de então, aumentou-se a geração de grandes quantidades de resíduos poluentes em conseqüência da Revolução Industrial, iniciando na Europa o grande impacto poluidor do planeta.
A sociedade industrial da época, indiferente ao consumismo exagerado de poucos e à miséria de muitos, adotou um modo de produzir que esgotava os recursos naturais não-renováveis, ameaçando a sobrevivência das futuras gerações e o bem-estar do planeta. Se até o final do século XIX não existiam indícios de preocupação com a degradação ambiental – uma vez que a mutação do habitat era pequena, sendo produto apenas das atividades agrícolas, de forma que a água, o solo e a vegetação não eram assustadoramente afetados -, o homem passa a sentir as conseqüências da destruição ambiental a partir desta Revolução.
Ascensão das questões ambientais na imprensa
O interesse dos meios de comunicação pelas causas ambientais se deu, inicialmente na década de 60, quando os ambientalistas passaram a apostar em protestos mais criativos, que davam origem a imagens e notícias novas. A população se mobilizava com o auto-sacrifício de pessoas que arriscavam a própria vida em longas viagens pelo oceano ou que abraçavam árvores para que estas não fossem cortadas.
Nos anos 70, os meios de comunicação de outros países do norte também se utilizaram das novas tecnologias para passar um novo tipo de mensagem ambientalista, tentando despertar uma consciência sobre as questões ambientais através do medo das pessoas: as imagens apresentadas ilustravam o panorama de um planeta desolado e contaminado. Como o movimento ambientalista lutava por causas comuns à sobrevivência de todos os seres humanos, ele ganhou um caráter ético muito forte, e tornou-se uma ótima fonte de notícias. A mídia cumpria assim, com seu papel social. Da mesma forma, para despertar a atenção da grande mídia, o movimento ambientalista procurava (e ainda procura) investir em eventos que despertassem a atenção de todos, garantindo uma audiência bem mais significativa.
Apesar da Ecologia, que é a ciência que estuda o meio ambiente e a relação entre tudo que existe na Terra, ser conhecida há mais de um século, é nos anos 70 que ela assume um caráter mais social, já que as pessoas começaram a se dar conta de que a degradação ambiental aumentava em escalas avassaladoras devido ao auge da Revolução Industrial.
A mídia passou então a se sentir pressionada em abrir espaço para notícias que refletissem estas preocupações, uma vez que a população ansiava por mais esclarecimentos acerca dos impactos ambientais.
Outro fator que fez com que a mídia abrisse espaço para as notícias ambientais, na década de 90, foi o ‘ambientalismo empresarial’. As grandes indústrias começaram a perceber que poderiam ganhar muito dinheiro fazendo aquilo que os ecologistas já vinham dizendo há mais de duas décadas. Ao evitar o desperdício e investir em tecnologias limpas, as indústrias se adequavam para uma questão de sobrevivência no mercado globalizado.
No Brasil, onde o debate ecológico chegou à imprensa com dez anos de atraso em relação à Europa e aos Estados Unidos, as reivindicações acerca das questões ambientais despertavam a atenção – uma vez que era algo relativamente novo para a sociedade, e a imprensa não podia deixar de noticiar.
A problemática ambiental só começou a ser abordada pela mídia nacional no final dos anos 60, início dos anos 70, quando a população ainda começava a perceber a importância acerca do tema, sendo poucos os jornais que trabalhavam com meio ambiente. Quando saia alguma notícia, geralmente era de caráter denuncista.
Um fator que favoreceu o surgimento da mídia ambiental no Brasil foi o período da ditadura militar. Na época em que a censura era um empecilho para a mídia, as pautas ambientais se tornaram uma das formas alternativas dos veículos de comunicação protestarem. Um fato interessante desta época, é que por ainda estar começando a despertar a consciência ambiental, o Brasil foi um dos principais receptores de indústrias poluentes transferidas do Norte – a transferência se dava em função do avanço da pressão das populações e dos movimentos ambientalistas que havia nesses países, e da busca por matéria-prima e mão-de-obra barata.
Enquanto no Norte aumentavam os protestos contra o crescimento demográfico, à contaminação pelas indústrias, ao excesso de consumo e à industrialização desenfreada, na América Latina buscava-se competir no mercado e alcançar os países desenvolvidos, abrindo as portas para o seu ‘desenvolvimento’.
Na década de 80, após a divulgação da descoberta do buraco na camada de ozônio resultante das atividades humanas, a imprensa começou a intensificar a atenção para as questões ecológicas, e no Brasil, a mídia passou a noticiar os problemas ambientais enfrentados pela Amazônia. Com o advento da democracia, o movimento ambientalista no Brasil começou a questionar o modelo de desenvolvimento instituído pela Industrialização. O interesse por formas alternativas que prezavam pelo desenvolvimento sustentável emergiu com bases sólidas. Porém, a disseminação dessas idéias representava perigo aos interesses comerciais e econômicos da elite, e desta forma, o espaço na mídia a partir da década de 80 começou a encolher consideravelmente.
No início dos anos 90 ampliou-se o conceito de desenvolvimento sustentável. A realização da Eco 92 no Rio de Janeiro, despertou ainda mais o interesse de jornalistas para o meio ambiente e muitos jornais criaram editorias e cadernos especializados. O clima de mobilização invade a população e a imprensa aborda temas ambientais como nunca antes abordara. Líderes de 160 países se reúnem durante a ECO 92, evento que define as medidas a serem sacramentadas na Agenda 21, um documento fruto da preocupação com o planeta como um todo, independente de fronteiras nacionais. O policiamento é reforçado para proteger os representantes e áreas são isoladas.
Segundo o organizador e secretário-geral do evento da Eco 92, Strong (apud RYGAARD, 2002), uma das questões mais importantes e discutidas no evento ‘foi como assegurar aos países em desenvolvimento o acesso a recursos adicionais e, sobretudo, à tecnologia necessária para implementar as mudanças nas suas economias’. Em relação à imprensa, o evento abre um espaço imenso para as pautas ambientais em diversos veículos. Não é difícil de justificar tamanho empenho: mais de 160 nações trouxeram seus representantes, portanto, a projeção de um encontro daquela magnitude era global. A disposição para a cobertura era advinda da movimentação e especulação que o evento gerava no mundo. Ao mesmo tempo aumentou o interesse pelo tema por parte de um público formador de opinião.
Logo que terminou a Eco92, a rotina dessas empresas de comunicação voltou ao normal, e a diminuição das matérias sobre meio ambiente foi drástica. O espaço encolheu, as abordagens tornaram-se esporádicas e somente diante de problemas de grande impacto. A inclusão da problemática verde, quando trabalhadas pela grande mídia, não tinha o tratamento adequado, o que provocava um desvio da informação correta, responsável e respaldada sobre o que ocorria com o meio ambiente. Era comum que se encontrassem – como até os dias atuais – outros casos de notícias sobre meio ambiente ‘viciadas’, ou seja, expostas de modo desconexo e desprovida das inter-relações com a esfera sócio-político-econômica.
Atualmente é comum encontrarmos matérias que aborde notícias acerca do aquecimento global, relatando fala de cientistas que conduzem pesquisas, do El Niño e da anormalidade do fenômeno. No entanto, em momento algum se aborda a questão dos principais causadores do aumento do Efeito Estufa, da importância dos Estados Unidos assinarem o Protocolo de Kyoto ou de meios para a humanidade amenizar o caos que se aproxima se as coisas continuarem sendo apresentadas da forma que estão. São simples registros mecanizados que não refletem a magnitude dos assuntos de que tratam as pautas ambientais.
A maior parte dos veículos de comunicação, hoje, são empresas comerciais, voltadas para o lucro, trabalhando o seu espaço físico em função de anúncios e subjugando o seu conteúdo em função da publicidade, o que dificulta o desenvolvimento da cultura do jornalismo investigativo na área ambiental. E como os temas são complexos e demandam algum conhecimento científico prévio, fica complicado trabalhar o assunto dentro de uma notícia.
A partir deste paradigma, o grande dilema que se instaura no jornalismo ambiental é como produzir matérias de profundidade se elas podem atingir os grandes anunciantes.
O papel da mídia na conscientização ambiental
Não há problema mais delicado para o meio ambiente, hoje, que o da comunicação. Para o jornalista André Trigueiro (2005), em sua obra Mundo Sustentável – Abrindo espaço na mídia para um planeta em transformação, só a comunicação pode retirar as questões ambientais do gueto em que estão colocadas (fazendo de conta que são isoladas, aparatadas) e levar a sociedade a entender que todas as ações humanas têm impacto sobre o concreto – a água, o solo, o ar, os seres vivos. E se é assim, tudo o que se relaciona com o meio ambiente precisa permear qualquer discussão na área econômica, política, social, cultural – enfim, todas as áreas.
Da mesma forma, o meio ambiente precisa estar no início e no centro de todas as políticas públicas e de todos os empreendimentos privados, para que os impactos possam ser avaliados previamente, eliminados, minimizados e tenham seus custos atribuídos a quem os gera, e não a toda a sociedade. No entanto, é raro que a comunicação siga por esse caminho. Quase sempre, trata de forma episódica essas questões, quando elas assumem o formato das catástrofes, acidentes de grandes proporções, e com pouca freqüência se discute as relações desses problemas em toda sua abrangência.
Num documento prévio sobre a implementação da Convenção do Clima, Born (apud SOUSA; FERNANDES, 2002)) escreve que para haver maior pressão social e política em torno do tema será necessário garantir, ao público, através da mídia, acesso à informação para a compreensão dos aspectos técnicos, institucionais e sociais. Reconhece, porém, que a chamada grande imprensa não tem desempenhado uma função continuada na questão da mudança do clima, mas acredita que assim como ocorre com outros setores da sociedade civil, a mídia também pode ser capacitada para tratar das questões ambientais numa perspectiva de sustentabilidade.
Embora admita que os meios de comunicação de massa não tenham procurado, ao longo dos anos, traduzir a associação do homem com o meio em que vive, Ziggiatti (2000) destaca que a comunicação é essencial para a conscientização pública de segmentos da sociedade sobre como agir para a promoção do desenvolvimento sustentável. Enfatiza, também, que todos têm direito à informação e que a imprensa é a forma de democratizar a informação científica e tecnológica embutida nas questões ambientais. Para a autora, a mídia deve expressar a pluralidade de opiniões em matérias controversas e proporcionar um retrato não fragmentado da realidade. Seu pensamento oferece elementos importantes para a reflexão que pretendemos desenvolver sobre a importância dos sistemas de informação para a educação ambiental: por um lado, destacam o reconhecimento do papel mobilizador dos meios e da necessidade de qualificar a informação para que ela funcione como instrumento de pressão, e por outro, defendem a afirmação de um direito inalienável do homem, que é o de ter/receber informações de natureza plural e não fragmentada.
É nesse contexto que se impõe como missão da mídia a promoção ou massificação do conceito de desenvolvimento sustentável nos termos definidos no Relatório Brundtland – documento elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, também intitulado Nosso Futuro Comum (1987): busca simultânea de eficiência econômica, justiça social e harmonia ecológica. Em outras palavras, a exploração dos recursos naturais, os investimentos econômicos e o desenvolvimento tecnológico não devem comprometer a construção de um futuro justo seguro e próspero, embasado na responsabilidade comum com o estado do planeta. Esse ponto de vista resgata uma discussão antiga sobre o papel dos meios de comunicação de massa: informar, educar, entreter, persuadir, promover a integração individual e coletiva na realização do bem-estar social (BELTRÃO; QUIRINO, 1986).
Para Figueiredo (2001, p. 197), a mídia expressa através de veículos massivos (televisão, radio, jornais, revista e Internet) pode ser considerada uma aliada poderosa junto à educação, pois tem importante papel a cumprir na sociedade, uma vez que com o advento das novas tecnologias, a sociedade moderna habituou-se a adquirir informações e conhecimentos por meio destes veículos. A interpretação de vários gêneros de matérias jornalísticas veiculadas pela mídia impressa e eletrônica, proporciona ao público conhecer e transformar a qualidade de vida do cidadão na sociedade.
O efeito pedagógico dos meios: limitações estruturais, conceituais e educacionais
Pensar os meios de comunicação com uma função pedagógica, particularmente com relação ao meio ambiente, tem algumas implicações. Para Sousa e Fernandes (2002), professores do Departamento de Comunicação Social da Universidade de Taubaté, uma delas é a estrutural. No artigo Meio Ambiente e Mídia: Limites e Possibilidades, estes autores afirmam que as grandes redes estão organizadas como indústrias e como tal buscam sobrevivência mercadológica dentro do sistema capitalista. Ainda que falem de meio ambiente e sustentabilidade, não perdem de vista o modelo que as sustenta. É nessa direção que a chamada ética ambiental ganha corpo: sugere mudanças de comportamento individual e empresarial, ajusta a legislação, consolida os processos de certificação e, como não poderia deixar de ser, converte-se em oportunidade de negócio (MAIMON, 1996).
Uma outra implicação é a absorção e massificação de conceitos quase sempre de forma superficial. Foi assim com o desenvolvimento sustentável, que viveu sua fase áurea na Rio-92, mas que nunca passou de uma frase de efeito nas páginas informativas dos jornais e nos telejornais das grandes redes.
O estudo de Ramos (1995) revela que as matérias publicadas no período da Conferência privilegiaram, apenas, o enfoque político-econômico da problemática ambiental, reduzindo a dimensão multidisciplinar por ignorar seus elementos sociais e científicos. O mesmo acontece, agora, com a noção de cidadania ecológica, que amplia a tradicional concepção de Marshall (1967), em que a garantia dos direitos por um Estado forte é a garantia de uma vida digna. A ecocidadania, conforme Loureiro (2000), implica clara noção de direitos e deveres e responsabilidades cívicos na busca de uma sociedade sustentável, o que envolve, segundo o autor, o plano ideocultural e político-econômico, o que vai além da simples idéia de cidadão ecologicamente correto abordado pela mídia.
Há ainda as implicações relacionadas à educação básica. Pesquisa realizada recentemente por Bortolozzi (1999) revela que boa parte das informações que os professores de escolas públicas recebem sobre meio ambiente vêm da mídia, especialmente da televisão. Não que a mídia não possa ser fonte, mas a questão é como esse material é trabalhado em sala de aula. A tendência mais comum é ser repassado como verdade absoluta.
Pela LDB 9.394/96, a educação ambiental foi incluída nos chamados temas transversais e incorporada aos currículos de escolas públicas e privadas do ensino fundamental ao ensino médio. Para a ONU, num documento preparatório à Conferencia sobre Meio Ambiente, citado por Dias (1993),
‘…a educação ambiental deve permitir a compreensão da natureza complexa do meio ambiente, interpretar a interdependência entre os diverso s elementos que conformam o ambiente, com, vistas a utilizar racionalmente os recursos do meio na satisfação material e espiritual da sociedade no presente e no futuro’. (DIAS, 1993, p. 27).
E acrescenta:
‘Para fazê-lo, a educação ambiental deve capacitar ao pleno exercício da cidadania, através da formação de uma base conceitual abrangente, técnica e culturalmente capaz de permitir a superação dos obstáculos à utilização sustentada do meio. O direito à informação e o acesso às tecnologias capazes de viabilizar o desenvolvimento sustentável, constituem, assim, um dos pilares desse processo de formação de uma nova consciência em nível planetário, sem perder a ótica local, regional e nacional. O desafio da educação, nesse particular é o de criar as bases para a compreensão holística da realidade’. (idem, grifos nossos)
Retomando mais uma vez a análise da Rede Globo e do Jornal Nacional, o cenário informacional não parece dos melhores, principalmente se levarmos em consideração o conceito de educação ambiental expresso acima.
Se a televisão é a fonte principal de informação dos professores, o conteúdo absorvido por meio das matérias apresentadas devem ser discutidos com criticidade acerca da perspectiva e dos interesses do veículo.
Ainda no âmbito educacional, a análise desenvolvida até aqui, não tem por objetivo condenar os meios, mas sugerir uma leitura mais atenta de jornais, revistas e programas de televisão antes de levá-los à sala de aula.
Moran (1993), explica que a comunicação é uma das dimensões da cidadania e que uma leitura crítica não pode pretender, simplesmente, afastar-nos dos meios, mas procurar que a nossa participação seja mais atenta, democrática e crítica possível em cada momento. Para ele, a finalidade principal da educação para uma leitura crítica dos meios é…
‘…ajudar a desenvolver em cada um a percepção mais ativa, atenta, de acompanhamento consciente do que significa viver em comunhão com o mundo e conseguir formas de comunicação mais forte, autênticas, expressivas, significativas, ricas, que superem o reducionismo empobrecedor das formas convencionais de relacionamento’. (MORAN, 1993, p. 40)
O desenvolvimento de métodos que permitam essa leitura crítica deve ser estimulado, porque representa um elemento importante na busca de uma nova prática educacional. Educar para os meios, afirma Moran (1993), é reconhecer sua importância e sua não transparência pela complexidade de códigos, de representações e de interesses envolvidos, disfarçados na idéia de naturalidade e objetividade com que se relacionam o público. Nesse sentido…
‘…o desenvolvimento da consciência crítica é uma forma de capacitação, capacitação para analisar, compreender os meios e a comunicação como um todo dentro da cultura da sociedade. Educar é capacitar, também, para a produção de novas relações comunicacionais e de novos produtos e meios ou formas de produzir esses meios e esses produtos. Educar para a comunicação pressupõe trabalhar todas essas dimensões de forma integrada e não estanque’. (MORAN, 1993, p. 49-50).
Conclusão
A título de conclusão, as observações apontam para vários desafios, como os de caráter teórico, onde o conceito de jornalismo cidadão, embora amplo e aparentemente discutível, ainda é problemático em suas relações com a divulgação científica para um público leigo. Do ponto de vista da práxis jornalística, a notícia como construção negociada, exige novas posturas, mais conhecimento, flexibilidade e compromisso.
É importante acrescentar que ainda há muito por ser feito e por aprender, e que ao apontar falhas num modelo consagrado de jornalismo nacional, não significou desmerecer os profissionais e o conteúdo noticiado. É preciso afirmar que, mesmo nas grandes redes de jornais e emissoras de televisão, apesar das críticas aqui feitas, coisas boas estão sendo realizadas. Há profissionais sérios e comprometidos, também, com a causa ambiental. A guerra mercadológica, a formação, as pressões políticas e econômicas são, sem dúvida, fatores limitantes impeditivos de uma ação comunicacional mais eficaz.
Entendemos, como Loureiro (2000), que a degradação ambiental é resultante de um complexo interativo de fatores políticos, econômicos, tecnológicos e culturais e que a dinâmica capitalista é a base estrutural dessa degradação. Nesse sentido, a ação ambientalista será mais eficiente se incorporar a prática da democracia e o exercício da cidadania plena e ecológica. A qualidade de vida, segundo o autor, depende de condições materiais e objetivas, da igualdade social e da distribuição de renda, que devem ser construídas a partir da reflexão sobre qual é o padrão de vida adequado para se alcançar a emancipação e a liberdade humana em um planeta habitável e fora do risco de destruição. Os sistemas de informação, a nosso ver, têm um papel importante nesse processo.
Observamos ainda, através da análise crítica do papel da mídia na construção do conhecimento e sua interface com a educação ambiental, que os meios de comunicação deveriam levar leitores e telespectadores a ter condições de, além de interpretar, incorporar valores da consciência ambiental ao seu cotidiano ou mesmo subsidiá-los com as próprias decisões.
Referências
BELTRÃO, L; QUIRINO, N. de O. Subsídios para uma Teoria da Comunicação de Massa. São Paulo: Summus Editorial, 1986
BOFF, L. Saber Cuidar. Ética do humano: compaixão pela Terra. Petrópolis: Vozes, 1999
BORTOLOZZI, A. ‘Comunicação, ensino e temática ambiental’.Comunicação & Educação, n 14, jan./abr., pág. 42-48, 1999
DIAS, G.F. Educação Ambiental: Princípios e Práticas. 2 ed. Ver. Ampl. São Paulo: Gaia, 1993
FIGUEIREDO, R.S. ‘A interface com a Educação Ambiental’. In: BRUM, Eron Regina (Org). A mídia do Pantanal. Campo Grande: UNIDERP, 2001, p. 195-208
LOUREIRO, C.F.B. ‘Teoria Social e Questão Ambiental: pressupostos para uma práxis crítica em Educação Ambiental’. 2000. In: LAYRARGUES, PP; MAIMON, D. Passaporte Verde: Gestão Ambiental e Competitividade. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1996
MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967
MORAN. J. M. Leitura dos meios de comunicação. São Paulo: Pancast, 1993
RAMOS, F.A. Meio Ambiente e meios de comunicação. São Paulo: AnnabluMe/FAPESP, 1995
RYGAARD, C. ‘Ascensão, declínio e retomada do verde na mídia’. Monografia de Graduação. Universidade Luterana do Brasil: Rio de Janeiro, 2002. Disponível no Banco de Teses e Monografias. Acesso em: nov. 2006
SOUSA, C. M.; FERNANDES, F. A. M. Mídia e Meio Ambiente: limites e possibilidades. Disponível aqui Acesso em: nov. 2006
TRIGUEIRO, A. Mundo Sustentável: abrindo espaço da mídia para um planeta em transformação. São Paulo: Globo, 2005
ZIGGIATTI, M. M. Jornalismo Ambiental. Disponível aqui Acesso em: nov. 2006
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Jornalista, especialista em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia.