Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Viva a matéria-de-cabresto!

No contexto mundial, a imprensa americana e a recém-bombardeada imprensa árabe são antíteses uma da outra. De um lado, liberdade total. De outro, censura crua. E a imprensa brasileira, para qual lado pende? É ingênuo pensar que estamos mais perto dos nossos colegas da terra do Tio Sam, como muitos gostam de acreditar. Quem vive nas redações dos jornais sente um misto de revolta e vontade incontrolável de rir quando se fala em falta de censura. Gente, temos que acordar. A mídia está sendo governada, não pela verdade ou pela imparcialidade, mas por uma ditadura que não hesita em cortar as cabeças dos que não cumprem as ordens!

Um dos mais recentes executados, José Inácio Werneck, nada mais fez do que, em tom de sugestão, comentar que o Jornal do Brasil poderia estar perdendo leitores online por causa da dificuldade em acessar as colunas do site. Foi demitido sob a acusação de estar ‘espantando os anunciantes’! Não é possível que ninguém se dê conta de como isso é ridículo! Anunciante que sabe o valor do seu dinheiro faz questão de checar se seus anúncios estão sendo publicados de maneira correta. Será que eles ainda não sabiam que a página estava com problemas? E mesmo se não soubessem, vale mais manter um anunciante do que dizer a verdade?

Aparentemente, sim. Recentemente, um grande empresário estava jogando os restos da quinquagésima-sexta ampliação de seu shopping num rio. Um jornalista recebeu a denúncia, escreveu a matéria e ela nunca foi publicada. Por que o editor perdeu um furo? O tal empresário é um dos maiores anunciantes da empresa.

E não fica ‘só’ nisso. No Nordeste, linha editorial é sinônimo de partido político, resume-se a governo ou oposição. Quantos jornalistas já perderam seus empregos – e quantos outros já não receberam frustrantes advertências – por fazerem, em suas matérias, denúncias que atingiam o partido apoiado pela empresa? Muitos. Demais.

E o que o governo tem a ver com jornais privados? Tudo! Na Paraíba, por exemplo, o maior jornal do estado publicou, nas últimas eleições, denúncias contra o atual governador. Uma das primeiras medidas do excelentíssimo, quando assumiu o poder, foi cancelar a assinatura do jornal para os mais de 1.000 órgãos públicos que recebiam seus exemplares diários, causando um prejuízo enorme à empresa. Além disso, foi estabelecido um boicote não-oficial aos profissionais do dito jornal, que passaram a não ser recebidos pelos funcionários do governo (dispensável mencionar a importância que as fontes do governo têm para as editorias de Cidades, Economia, Saúde…).

É a volta do coronelismo! Viva a matéria-de-cabresto!

É impossível falar de impressa livre quando os personagens da notícia são os donos do capital que sustenta os jornais. Há de se haver uma solução para isso, partindo do princípio de que – pelo amor de Deus! – estejamos procurando por uma. Enquanto isso, porém, vamos deixar de hipocrisia e assumir nossa proximidade com a al-Jazira, rezando para que as bombas caiam mais para o lado de lá. Ou não.

 

Inventando gênios

As mudanças ministeriais esbarram em idéias que a mídia, pródiga em inventar gênios, inculca na cabeça das pessoas. A massa acredita em administradores competentes sem levar em conta que o que importa são as verbas disponíveis para administrar. Administra-se basicamente dinheiro, o resto é conseqüência. Nos ministérios, trocar os que lá estavam pelos que lá estão foi equivalente a trocar seis por meia dúzia, em alguns casos trocou-se seis por cinco, para aumentar a base governista. Se o dinheiro permanecer o mesmo a ação pouco mudará. Mudarão as versões da imprensa, quase sempre comprometidas com os projetos políticos dos novos ministros e do cada vez mais dono do poder José Dirceu.

Por falar em poder, não me lembro de ver um projeto tão lesivo ao país como o que foi recentemente apresentado ao Congresso pelo donatário do Maranhão José Sarney. Estender a Zona Franca a todo o Norte equivale a dividir o Brasil ao meio, como querem aqueles que pretendem ser a Amazônia internacional. Seria essa a idéia? A quem José Sarney quer beneficiar, quais os interesses que estão por trás dessa empreitada? Esse projeto evidencia falta de compromisso. Não há nele um mínimo de consideração com a nação. Se o Lula de outrora existisse Sarney ouviria poucas e boas.

Por falar em Lula, quando ele parar de viajar será certo o choque de egos com o atual primeiro-ministro. Quem viver verá.

Sidney Borges

 

Informação e poder

O governo não pode e nem deve reclamar da mídia. Hoje a mídia não é mais tão controlada como na época do militarismo. É claro que existem mídias pouco confiáveis. Por isso, sempre que leio ou escuto notícias tenho, em meio a todas estas informações, que mensurar, pois nem tudo que se ouve ou lê é razão e verdade. Para mim, governo e mídia usam deste meio para oprimir. Quem tem a informação tem o mundo.

Claudia Llima