Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Por que o Facebook comprou o Instagram?

Por trás do app não há talentos ou tecnologia imprescindíveis, mas o FB tem quase 1 bilhão de usuários e procura formas para continuar crescendo. Quando a notícia de que o Facebook havia comprado o Instagram pelo impressionante montante de 1 bilhão de dólares se espalhou, experimentei uma série de reações: “Nossa, isso é muito dinheiro! Muito mesmo! Será que serei afetado por essa compra? Afinal, tiro muitas fotos dos meus filhos com o Instagram. Mas, vejamos, por que o aplicativo vale tanto para o Facebook? O que ele já comprou por tamanha quantia?”

Comecemos pelos números. Antes de lançar sua versão para Android, em abril, o Instagram já possuía 30 milhões de cadastrados, que compartilhavam milhões de fotos em um único dia. A tecnologia por trás do programa não chega a ser complexa e a empresa que o controla tem apenas 13 funcionários. O Facebook, por outro lado, estima que terá 900 milhões de membros até o fim do ano. Há dois anos, a rede social afirmou que seus usuários compartilhavam 100 milhões de fotos diariamente; isso é um índice insano, e já certamente foi bastante superado.

E se você ganhasse 1 bilhão de dólares para cada tostão que o Instagram arrecadasse você terminaria com nada no bolso. Ele foi adquirido antes mesmo de elaborar um plano de negócio para lucrar. Esses fatores combinados mostram que a decisão não foi motivada pelo lado financeiro, pelo lado da audiência ou mesmo pela busca de novos talentos. A rede de Mark Zuckerberg emprega três mil pessoas, de modo que a equipe do aplicativo não representa nem 3% dela.

Crescimento em potencial

O domínio atual e futuro do Facebook parece garantido. Ele é absolutamente popular. No entanto, uma vez que atinja a marca de um bilhão de membros, quanto mais poderá crescer? Embora o planeta tenha uma população estimada de sete bilhões, grande parte dela jamais se inscreverá na plataforma por todo tipo de razão. Os 30 milhões do Instagram são uma gota no oceano do Facebook. Quanto à alta potencial, porém, a dele é maior. Se considerarmos dois bilhões de usuários, ele poderia atrair grande parte desta base enquanto que seu novo dono, apenas metade – pois a outra já está nele.

Naturalmente, estas estatísticas não são das mais inteligentes. A rede social tem centenas de milhões de usuários e poucos deles mostram sinais de abandono. Crescimento futuro é bom, mas número de membros atual importa muito mais. O Facebook não consideraria uma plataforma com dez inscritos ainda mais interessante só porque, daí, a possibilidade de ela aumentar seria enorme.

Por mais que boa parte da audiência que o Instagram possa atrair já esteja inscrita no Facebook, seu potencial ainda é desconhecido, mas tende a ser impressionante. Especialmente se lembrarmos que até pouco tempo atrás seu público estava restrito ao iPhone e que, em nenhum momento, um software da marca para o desktop foi cogitado.

Foto retocada

De qualquer perspectiva, a razão principal para a aquisição do Instagram não foi a contratação de talentos ou de tecnologia. O foco está em expandir a rede e manter o domínio sobre o compartilhamento de fotos, aumento da adoção em dispositivos móveis e, claro, conquistando ainda mais os dados valiosos que elas oferecem – quem a tirou, quem apareceu, onde, quando.

Quais os concorrentes que o Facebook poderia ter comprado em vez do Instagram? O Flickr ainda é grande, embora esteja perdendo força. O Picasa é pequeno e a Google jamais o venderia ao rival. Tirando esses, não haveria mais nenhum player capaz de chamar a atenção da gigante. E a companhia de Zuckerberg sabe algo que muitos ignoravam. O app precisava arrecadar e não vislumbrava qualquer modelo para isso. Se não fosse comprador teria de escolher entre encher sua interface de publicidade ou, eventualmente, ficar sem investidores dispostos a visibilizá-lo para todos.

Vejamos, então, o ocorrido de outra forma: se o Instagram não fosse comprado pelo Facebook, em breve estaria em outras mãos. A rede social, tal qual a Apple ou a Microsoft, já é grande o suficiente para investir pesado em serviços complementares – mesmo que pague um mais por isso – só para evitar que seus rivais os adquiram.

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[Lex Friedman, da Macworld/US]