Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Mercado revê “bolha” da mídia social após euforia

Com as ações do Facebook fechando na sexta-feira (17/8) em pouco mais da metade de seu preço de oferecimento em maio, ninguém mais está falando de uma “bolha” da mídia social. Há apenas um ano, a mídia social parecia o próximo sucesso estrondoso. Com o crescimento dos usuários do Twitter, do Zynga e, especialmente, do Facebook, os investidores ficaram eufóricos com os sites da internet que conectavam pessoas com interesses e experiências comuns.

O LinkedIn, site com base profissional, foi o primeiro a testar o apetite do público quando abriu seu capital em maio de 2011. Suas ações mais do que dobraram para fechar em US$ 94,25 após chegarem a ser negociadas a US$ 122,70 no primeiro dia. Os primeiros investidores ficaram exultantes, mas outros, como o ex-secretário do Tesouro Lawrence H. Summers fizeram advertências. “Quem poderia imaginar que a preocupação com respeito a algum ativo financeiro americano, apenas dois anos após a crise, seria uma bolha?” perguntou Summers, na época.

Ninguém está falando em bolha agora. No ano passado, empresas de internet como Groupon, Zynga e Yelp fizeram suas estreias em bolsa. O Facebook veio em seguida, em maio, com US$ 38 por ação, o que conferiu a uma empresa pública recém-criada um valor de quase US$ 105 bilhões. De lá para cá, a euforia cedeu lugar a uma crescente ansiedade. O Facebook não fechou acima de US$ 38 desde então. A oferta inicial foi amplamente considerada um fiasco tanto por falhas técnicas da operação como pela necessidade de os subscritores sustentarem a ação.

O declínio posterior das ações se acelerou depois que o primeiro relatório financeiro da companhia como empresa pública, no fim do mês passado, esfriou as esperanças dos investidores em um tórrido crescimento. A última semana marcou o fim do período de retenção obrigatória que impedia os antigos proprietários de ações de vendê-las imediatamente, e a cotação do Facebook atingiu um novo ponto mais baixo, caindo para menos de US$ 20 a ação.

Resultado pior

Outras empresas de mídia social tiveram um desempenho ainda pior. Como o Facebook, o site de cupons de descontos na internet Groupon aumentou o preço de oferta e o número de ações pouco antes de sua estreia pública em novembro. Após rejeitar uma proposta de compra por US$ 6 bilhões do Google, em dezembro de 2010, as ações do Groupon fecharam em US$ 26,11 em seu primeiro dia de trading, acima do preço de oferta de US$ 20, o que lhe conferiu um valor de mercado de US$ 13 bilhões.

As ações vêm descendo a ladeira desde então. Na última semana, elas estavam em torno de US$ 5, uma queda de 75% sobre o preço de oferecimento. A Zynga, uma empresa que trabalha com jogos sociais online, abriu seu capital em dezembro a US$ 10 e perdeu 5% de seu valor no primeiro dia. Embora ela tenha sido negociada acima de US$ 14 por ação em março, na semana passada estava abaixo de US$ 3, uma queda de 70%.

Mesmo os sites de mídia social que melhor se saíram viram suas ações estagnarem. As ações do Yelp, que subiram 64% em seu primeiro dia de trading em março para fechar em US$ 23, estavam em US$ 22 na semana passada. E o LinkedIn jamais atingiu novamente o pico alcançado na abertura e estava sendo negociado perto de US$ 102 na semana passada.

Twitter e Living Social estão segurando sua abertura de capital. As companhias informaram recentemente que não têm pressa, o que é bastante compreensível.

O que deu errado?

Cada companhia tem sua própria história, mas a euforia com as empresas de mídia social estava centrada no que economistas chamam de efeito rede. Quanto mais usuários um site atrai, mais outros querem usá-lo, o que cria um monopólio natural e um ímã para anunciantes. Mas as evidências de que o efeito rede está operando requer um rápido crescimento de usuários e receita, especialmente durante os estágios iniciais da vida pública de uma empresa. Por enquanto, a mídia social não conseguiu oferecer o tipo de crescimento que alimentaria o otimismo do investidor.

Os resultados do Groupon apresentados na semana passada ilustram o problema das companhias de mídia social. Em teoria, o Groupon deveria se beneficiar do efeito rede. Quanto mais usuários ele atrai, mais comerciantes desejarão oferecer cupons via o Groupon, e vice-versa. E diante disso, o relatório financeiro pareceu bom. O Groupon realizou um lucro de US$ 28,4 milhões no trimestre, acima das expectativas dos analistas, revertendo um prejuízo de um ano atrás. O presidente executivo da empresa, Andrew Mason, considerou o resultado um “trimestre sólido”.

Mas é o crescimento e não o lucro que importa no estágio inicial da vida de uma empresa de rede na internet. O Groupon informou que sua receita cresceu 45% sobre o mesmo trimestre do ano passado. Mas ele computa os pagamentos que repassa aos comerciantes como parte de sua receita. Quando essa parte da receita é excluída, o faturamento cresceu apenas 30%. E, comparada com a do trimestre anterior, a receita cresceu apenas 1,6%. O crescimento de seu negócio principal com cupons caiu 7% em relação a um ano atrás.

Um efeito de rede positivo também deveria supostamente excluir competidores, mas o Groupon sofreu muito com a percepção de que ele é vulnerável à competição. O mercado de leilões online é dominado pelo eBay, por exemplo, mas muitos comerciantes oferecem cupons. O Amazon comprou uma participação de 29% num site rival de cupons, Living Social. O Google introduziu suas próprias ofertas após ser rejeitado pelo Groupon.

Hoje, eles são tantos que até surgiram sites para ajudar os consumidores a escolher um deles. Um desses, localdealsites.com, listou 167 sites quando eu o consultei, na semana passada, embora muitos tenham um alcance bem menor que o Groupon. O Living Social se meteu em seus próprios problemas.

Apesar de o Living Social ser privado, a Amazon precisa divulgar detalhes financeiros em razão de sua grande participação acionária. No mês passado, a Amazon informou ter dado baixa de US$ 28 milhões em valor contábil do Living Social, e que este havia registrado um prejuízo de US$ 93 milhões no trimestre que terminou em 30 de junho.

O Facebook enfrentou um revés parecido como decorrência das altas expectativas que criou. Em seu primeiro relatório financeiro, reportou um crescimento de 32% na receita sobre um ano antes e quase 1 bilhão de usuários em todo o mundo. Mas apesar de os 32% terem superado as estimativas de analistas, não foram o crescimento de três dígitos que muitos investidores esperavam. E embora o número de usuários mensais ativos atinja 955 milhões, a cifra foi apenas 29% maior que a de um ano antes.

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[James B. Stewart, do New York Times]