Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Irã prepara versão própria da internet

Determinado a limitar a influência ocidental e a se proteger contra ciberataques, o governo iraniano parece ter preparado as bases técnicas para uma rede online nacional independente da internet, o que permitiria um controle mais estrito sobre o fluxo de informações no país. O conceito de uma rede independente reverbera no Irã há quase uma década e foi muitas vezes visto com ceticismo, devido aos investimentos significantes em infraestrutura e segurança que exigiria. Mas funcionários do governo e analistas independentes dizem que o desenvolvimento dessa rede acelerou depois de ciberataques ao programa nuclear iraniano.

No mês passado, o ministro de Tecnologia da Informação e Comunicação revelou um plano para tirar agências governamentais e instalações militares da internet e colocá-las na nova rede até o fim deste mês. Especialistas em segurança americanos afirmam que, pela primeira vez, estão vendo indícios de uma rede operacional condizente com os planos anunciados pelo Irã.

Pesquisadores do Centro de Estudos da Comunicação Global da Universidade da Pensilvânia dizem em um relatório que encontraram versões funcionais dos sites de ministérios, universidades e empresas na rede iraniana. Eles também encontraram indícios de uma capacidade operacional de bloquear acessos externos a essa rede. O que possibilita o empreendimento é um equipamento de última geração produzido pela empresa chinesa Huawei, capaz de uma vigilância sofisticada do tráfego online. A rede iraniana já é consistente e acessível, conclui o relatório.

Viabilidade duvidosa

As descobertas devem preocupar ativistas pela liberdade na internet e o governo Obama, que gastou dezenas de milhões de dólares para facilitar o acesso à rede mundial no Irã e em outros países com regimes repressivos. “Nós nos preocupamos não apenas sob uma perspectiva de violação aos direitos humanos, mas por causa da própria integridade da internet. Quando países segregam partes da web, não só os seus cidadãos sofrem, mas todo o mundo”, diz David Baer, do Escritório de Democracia do Departamento de Estado.

Especialistas dizem que o Irã tem uma série de razões para criar uma alternativa estatal à internet. Ela permitiria conter programas financiados pelos EUA, que permitem a ativistas iranianos driblar a vigilância. Também ajudaria a blindar o país de uma campanha de ciberataques americanos e israelenses da qual o Irã garante ser vítima.

Os analistas não estão convencidos, porém, da viabilidade da rede iraniana, devido à necessidade de acesso à internet para fins comerciais e comunicação internacional. “Qualquer tentativa de um país para fazer uma versão interna da internet está fadada ao fracasso. E não importa o que você faça, sempre haverá vulnerabilidades em uma rede”, diz Cedric Leighton, ex-diretor da Agência de Segurança Nacional dos EUA.

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[James Ball e Ben Gottlieb, do Washington Post]