Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

É hora da verdade para o gênio por trás do Windows

Seja qual for a reação do mundo à nova versão do Windows, o sistema operacional da Microsoft Corp., a maior parte do crédito – ou da culpa – irá para Steven Sinofsky.

O discretíssimo papa do software, praticante de ioga e ávido consumidor de teorias de gestão, vem escalando a hierarquia da Microsoft desde que ajudou a fazer de Bill Gates um fã da internet no início da década de 1990.

Sinofsky deixou sua marca com o Office, o popular pacote de programas da empresa, e conseguiu dar um jeito no Windows depois que uma versão complicada do sistema quase tirou a empresa dos trilhos em 2006.

Hoje, aos 47 anos, Sinofsky passa por uma prova de fogo: a saber, se a reforma radical que promoveu no Windows será capaz de restituir à Microsoft a relevância no universo da alta tecnologia e reconquistar gente que migrou para o iPad, da Apple Inc., e outras plataformas móveis.

Se o Windows 8, que estreia agora na sexta-feira, for um sucesso, seria um grande marco na trajetória de 23 anos de Sinofsky na Microsoft. E mais, selaria sua fama de um executivo capaz de tirar do papel projetos de engenharia enredados.

“O sucesso do Windows 8 vai determinar o futuro da empresa e – o que não me surpreenderia – […] o de certos profissionais na Microsoft”, diz Brad Silverberg, investidor em tecnologia. Silverberg foi o executivo da Microsoft a cargo da iniciativa de desenvolvimento do Windows 95.

Quatro versões

Alguns analistas da Microsoft apontam Sinofsky como um dos possíveis sucessores de Steve Ballmer no comando executivo da empresa. Já outras pessoas próximas à empresa dizem que a chance de Sinofsky um dia vir a ocupar a presidência executiva pode ser prejudicada por dúvidas quanto à sua capacidade de cooperar com outros executivos.

Sinofsky recusou pedidos de comentários para este artigo.

Na última campanha de desenvolvimento, Sinofsky às vezes parecia se inspirar diretamente na cartilha de Steve Jobs, o falecido cofundador da Apple Inc.

Segundo executivos do setor, a Microsoft e Sinofsky controlaram com rédea curta toda informação técnica e de marketing sobre o Windows 8, liberando informações em posts periódicos no blog de Sinofsky – um dos quais se estendeu por 8.500 palavras.

Sinofsky teria defendido um controle nos moldes do exercido pela Apple quanto à integração do software com aparelhos – ditando detalhes normalmente deixados a fabricantes de computadores, como o grau de resolução de telas e o tempo de inicialização de um aparelho.

Sinofsky aprendeu sozinho a programar as primeiras versões de microcomputadores. Ele foi trabalhar na Microsoft em 1989 como engenheiro de software, com diplomas em ciência da computação. De cara, chamou a atenção de Bill Gates, que deu ao rapaz o posto de “auxiliar técnico” para a pesquisa de tecnologias promissoras.

Durante uma visita, em 1994, à Universidade Cornell, onde se formou, Sinofsky escreveu a Gates discorrendo sobre o impacto que a nova tecnologia – a internet – vinha tendo na Cornell. Conversas com Sinofsky e outras pessoas ajudaram a convencer Gates de que a Microsoft devia se preparar para a explosão da Web, segundo escreveu o próprio Gates.

Pouco tempo depois, no primeiro cargo de chefia na empresa, Sinofsky ajudou a unificar feudos do Office em constante batalha e que resistiam a fazer que programas como Word e Excel interagissem em perfeita harmonia.

“Ele usou uma mistura de persuasão, liderança, influência, pressão e, aqui e ali, umas pauladas [metafóricas] na cabeça das pessoas”, disse Pete Higgins, um ex-diretor da equipe do Office.

Sinofsky aperfeiçoou o padrão pelo qual acabou conhecido: traçar meticulosamente o roteiro de um projeto de software no início e, isso feito, exigir que todos sigam a rota traçada. Segundo pessoas que o conhecem, os métodos refletem seu interesse na inovação e na gestão de empresas.

Há 14 anos, quando se ausentou da Microsoft para um ano sabático, Sinofsky passou um semestre como professor visitante na Harvard Business School.

“Ele trabalhou de verdade aqui”, disse Stefan Thomke, professor com quem o executivo ministrou um curso de desenvolvimento de produtos.

Em 2006, depois de Sinofsky ter ajudado a lançar quatro versões do Office no mercado, Ballmer colocou o executivo no comando da engenharia do Windows. A divisão seguia traumatizada com o Vista, a problemática versão do Windows que levou séculos para ficar pronta e foi repudiada pelo público.

Aula de ioga

Gente que já trabalhou com Sinofsky diz que o executivo tem um círculo íntimo de confidentes e é avesso a liberar informações sobre seus projetos.

Essa rédea curta obrigou certos executivos da Microsoft a se virar do avesso para garantir que o software sob o comando deles fosse bem integrado ao Windows 8, segundo pessoas a par do processo de desenvolvimento.

Há mais complicações, incluindo o desenvolvimento de uma variação – o Windows RT – para ser rodada em outros aparelhos.

Apesar de toda a pressão, Sinofsky tem aparentado calma antes do lançamento mundial do Windows 8.

Higgins se disse surpreso ao topar com o executivo, semanas atrás, a caminho de uma de suas aulas de ioga. “Como é que você não entra em pânico?”, diz ter perguntado Higgins.

Imperturbável, Sinofsky chegou a convencer o amigo a comprar um Surface.

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[Shira Ovide, do Wall Street Journal]