Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

De volta ao Facebook

Sempre preferi o Twitter ao Facebook. O Twitter é rápido, direto e não dá margens a cobranças entre amigos. Mas, nos últimos tempos, a internet inteira parece ter se mudado para o FB. Comecei a perder compromissos sociais interessantes porque os convites iam direto para a caixa de mensagens, em vez de serem enviados por e-mail; perdi boas conversas e fiquei boiando em encontros da vida real em que o papo remetia à vida online; acabei desatualizada até em relação às fotos dos meus netos.

Fiquei sem saída e acabei me rendendo ao inevitável: voltei a frequentar a rede que, por ironia, é tudo o que a AOL, que eu sempre detestei, sonhou ser. A AOL, como vocês sabem, é aquele provedor hoje vencido que, nos anos 90, criou uma espécie de curralzinho para que seus usuários pudessem frequentar a perigosíssima internet sem sustos. O usuário AOL se conectava via AOL, frequentava fóruns na AOL, fazia compras na AOL e, através da AOL, se comunicava com os amigos. Um sistema para toupeiras.

O problema é que, quando me inscrevi, lá se vão muitas luas, o Facebook ainda era bastante primitivo. Tudo era complicado de fazer, a começar por separar as pessoas em diferentes categorias. Assim, família e amigos íntimos tinham o mesmo status de conhecidos casuais ou mesmo desconhecidos. Durante algum tempo, aliás, fiquei na dúvida se deveria acrescentar à minha lista de amizades só as pessoas que eu de fato conhecia, ou se devia abri-la também aos leitores que, gentilmente, me procuravam. Optei pela segunda hipótese porque ficaria muito antipático dizer não. Na época, ainda não existia a alternativa de aceitar assinantes.

A praga da autoajuda

Com isso, logo bati em cinco mil amigos, máximo que o FB permitia por pessoa. E logo saltei fora, porque era – e é – humanamente impossível conviver com tanta informação ao mesmo tempo. Estamos falando, lembrem-se, de um Facebook que não oferecia a possibilidade de se escolher o que apareceria na página que hoje se chama timeline.

Antes de adicionar os novos contatos, eu fazia questão de ler os perfis das pessoas que me procuravam em detalhes; depois, passei a ler por alto, só para garantir que não estava abrindo a porta para trolls, haters e outras categorias igualmente malsãs. Mas me lembro que, uma vez, esbarrei com uma menina criacionista, e fiquei mergulhada em dúvidas, sem saber se a adicionava ou não. Uma pessoa criacionista, em pleno século 21, como assim? Como havia várias fotos dela com gatos, conclui que, apesar de tudo, ela era gente boa. Adicionei.

Agora, nessa volta, estou tentando transformar o FB num ambiente que me permita interagir com os amigos com um mínimo de conforto. Fiz ajustes mais sensatos do que os que tinha, e estou reduzindo o que aparece na timeline a um mínimo indispensável. Isso é particularmente importante porque, como toda rede social, o FB também sofre com a praga da autoajuda: a quantidade de gente que posta todos os dias frases grandiloquentes e vazias é assombrosa. Tenho esperanças de, até a Copa, ter transformado a minha experiência com o FB em algo palatável.

Respostas sobre o Google+

Por falar em redes sociais: fiz uma pesquisa rápida pelo Twitter para saber se alguém vai com a cara do Google+, de que gosto ainda menos do que do Facebook. Das pessoas que me responderam, 14 não gostam, cinco gostam e cinco não têm certeza se gostam ou não. Duas respostas típicas:

@alice: “Tenho conta, mas não uso. Estou esperando a situação ficar insustentável no Facebook pra fugir pra lá (o que não demora a acontecer).”

@cardoso: “O hangout é legal e tudo, mas dá um trabaaaaaaaalho… Equivale a escrever uma tese de doutorado para assistir a um programa de TV.”

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[Cora Rónai, de O Globo]