Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Além da ferramenta de diálogo

O advento das redes sociais virtuais tem mudado a forma de envio e recepção de mensagens em todas as esferas e não seria diferente quanto tratamos de comunicação governamental. Afinal, se os cidadãos, que são público-alvo da divulgação de informações do poder público, e os veículos de comunicação, principal meio de difusão destas notícias, estão inseridos nas redes sociais, como o emissor de tais mensagens poderia ficar de fora? Mais utilizadas durante as campanhas e quase sempre relegadas a segundo plano durantes as gestões, as redes estão se fazendo cada vez mais presentes, com gestores e órgãos mantendo perfis no Facebook e Twitter, mídias sociais mais utilizadas no Brasil. No entanto cabe questionar: esta aplicação tem sido eficiente e suficiente? No âmbito geral, a resposta é negativa.

Enquanto muitos já entendem as redes como um canal de diálogo permanente e transparente, alguns ainda tratam tais perfis como meros veiculadores de informações, sem considerar o real interesse público de se manifestar e obter respostas consistentes. No entanto, a intenção neste artigo é dar um passo adiante desta discussão já estabelecida entre comunicadores para discutir como as redes sociais estão presentes como elemento transversal das diversas ações inseridas na comunicação pública, sendo que os maiores benefícios de um monitoramento e gestão integrado de redes sociais estão na assessoria de imprensa e gerenciamento de crises, com foco na prevenção de tais ocorrências.

Princípios democráticos

Uma pesquisa recentemente realizada pela PR Oriella Network (conglomerado internacional que reúne empresas de comunicação em 26 países) mostra que 66% dos jornalistas brasileiros usam o Twitter como fonte de informação, enquanto 40% fazem o mesmo com o Facebook. Os números evidenciam o papel assumido pelas redes como fontes primárias, primeiro ponto de contato com uma informação. Casos ocorridos em Salvador ilustram muito bem os resultados da pesquisa: uma jovem foi agredida durante um assalto e postou a foto do olho roxo no seu perfil no Facebook, em pouco tempo ela virou pauta nos principais jornais impressos e televisivos; a foto de um morador de rua que vive lendo em um ponto de ônibus em Itapuã circulou pelo Facebook e em poucos dias eles estampava as páginas do mais tradicional jornal baiano.

Em ambos os casos é possível estabelecer uma relação com o poder público, pois a primeira ocorrência coloca a segurança em pauta, enquanto a segunda evidencia as políticas de assistência social. No entanto, apesar da ampla circulação das informações, os respectivos órgãos não estavam previamente preparados para responder aos jornalistas sobre os casos. Um monitoramento adequado aliado ao reconhecimento das redes sociais como ferramentas de construção de cidadania (basta lembrar a Primavera Árabe) pode até mesmo resultar no encaminhamento precoce de soluções, claro que considerando um modelo de gestão compatível. De toda forma, um gestor de comunicação capaz de perceber o potencial de pauta dos casos no mínimo municiaria seus porta-vozes com estatísticas e dados específicos sobre cada ocorrência, mostrando diante da imprensa e da população a postura proativa cada vez mais esperada pela sociedade por parte dos entes públicos.

Na antecipação de crises o cenário não é diferente, afinal um trabalho integrado entre assessoria de imprensa e o gerenciamento de mídias sociais permite antever temas que provocam grande mobilização, perceber medidas com grande rejeição popular e identificar no nascedouro movimentos de contestação. Desta forma é possível dentro dos princípios democráticos estabelecer um diálogo que evite grandes atritos entre decisões públicas e interesses de segmentos da sociedade, e mesmo quando não for possível evitar que as discordâncias tomem corpo e alcancem a imprensa, os órgãos e gestores envolvidos estarão devidamente preparados para se posicionar, defendendo as decisões quando necessário, mas a partir de dados concretos, depoimentos consistentes e um discurso bem fundamentado.

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[Jane Fernandes é jornalista e diretora da Quarta Via Comunicação]