Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Facebook limita espaço para apps de terceiros

Em fevereiro, o desenvolvedor de aplicativos Antoine Morcos, de Paris, recebeu um e-mail inesperado: o Facebook Inc. o avisou que estava cortando os laços com seu app de compartilhamento de fotos Vintage Camera. Morcos perdeu instantaneamente quase meio milhão de usuários cadastrados que acessavam o Vintage Camera pela rede social. O Facebook, sem ser específico, informou que muitos usuários reclamaram do Vintage Camera, disse Morcos. Ele argumentou que seu app apresentava menos de três queixas para cada 1.000 fotos compartilhadas, mas o Facebook continuou irredutível. “Fiquei muito chocado”, disse Morcos. “Os usuários estavam compartilhando até 6.000 fotos por dia no Facebook. Agora o acesso deles está bloqueado.”

O Vintage Camera, concorrente do Instagram, o popular app do próprio Facebook, é o mais recente de um número cada vez maior de aplicativos de terceiros que vêm sendo bloqueados pela rede social. O Facebook mantém há muito tempo uma relação complexa com desenvolvedores externos. A empresa informa que está intensificando seus esforços para policiar a rede e restringir a quantidade de mensagens maliciosas, ou spam, e apps que não estão agregando suficiente valor à rede.

Desenvolvedores dizem que a repressão é uma tentativa de sufocar aplicativos que competem com os serviços do próprio Facebook e obrigar os desenvolvedores a pagar por anúncios na rede social. Além da Vintage Camera, o Facebook também bloqueou recentemente o aplicativo de mensagens Voxer, o app de descoberta social Wonder, da Yandex NV, e o aplicativo de vídeo Vine, do Twitter Inc.

Desenvolvedores e anunciantes

Na sexta-feira, o Facebook impediu o MessageMe Inc., um serviço de mensagens que tinha acabado de ser lançado, de acessar a lista de amigos dos usuários. Arjun Sethi, um dos fundadores do MessageMe, disse que o Facebook citou uma seção de sua política de apps que prevê a proibição de programas que copiam o núcleo de um produto ou serviço do Facebook. De acordo com pessoas a par do assunto, o MessageMe teria rejeitado recentemente uma proposta de aquisição do Facebook. O Facebook não quis comentar.

Doug Purdy, diretor de produtos do Facebook para desenvolvedores, não quis discutir proibições recentes de aplicativos pela rede social. “Fazemos valer nossas políticas por uma série de razões, que vão desde prevenir spam e proteger a experiência dos usuários, até o caso raro de um desenvolvedor usar nossa plataforma para reproduzir nossas principais funções, sem permitir que as pessoas compartilhem de volta no Facebook”, disse Purdy. Ele diz que a maioria dos 10 milhões de apps e sites vinculados ao Facebook se diz satisfeita.

Os desenvolvedores são importantes para o Facebook porque o conteúdo que produzem representa uma grande parte dos posts que povoam a rede social, ajudando a atrair novos membros e a manter os usuários engajados. Os jogos sociais da Zynga Inc. no Facebook, por exemplo, atraíram milhões de pessoas durante os primeiros anos da rede social. Mas, à medida que o Facebook se transforma em uma grande empresa, ele está tendo dificuldade em satisfazer desenvolvedores e anunciantes e ao mesmo tempo promover seus próprios produtos – como serviços de mensagens e chamadas de voz –, que podem competir com os de outros desenvolvedores.

O risco de alienar desenvolvedores

Diversos desenvolvedores dizem que o Facebook vem tirando acesso a recursos com que eles costumavam contar para capturar novos usuários na rede social. O Facebook recentemente reduziu a capacidade deles de publicar automaticamente itens no mural de um usuário e personalizar mensagens e fez um teste que limitou como alguns desenvolvedores podem enviar alertas para os membros da rede. Todas essas medidas essencialmente reduziram a capacidade dos desenvolvedores de chamar a atenção de usuários do Facebook. O Facebook afirma que parte do estresse vem de seus esforços para controlar o spam.

Todos os dias, um sistema interno chamado stripe monitora as mensagens publicadas por aplicativos. Se uma quantidade grande de usuários informa que há spam num aplicativo, o Facebook proíbe sua distribuição. Desde o ano passado, quando o Facebook começou uma iniciativa para controlar o spam, as queixas de usuários caíram cerca de 90%. Desenvolvedores e anunciantes acusam o Facebook de suprimir seu conteúdo. “Por um lado, temos muito spam e por outro, existem desenvolvedores que dizem que querem que os usuários vejam cada um de seus posts”, diz Chris Cox, diretor de produto do Facebook. É um conflito de interesses que, muitas vezes, é “irreconciliável”.

Justas ou não, as medidas do Facebook trazem o risco de alienar desenvolvedores, levando alguns a construir aplicativos que se integram menos com o site. Uma evolução nesse sentido implicaria menos conteúdo e menos dados para o Facebook, potencialmente prejudicando sua capacidade para veicular anúncios.

******

Evelyn M. Rusli, do Wall Street Journal