Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Os dados estão lançados

Se você acha que as coisas mudaram muito nos últimos anos, prepare-se porque elas ainda não pararam de mudar. Nem vão parar. O fluxo será constante, ubíquo e cada vez mais rápido. A última próxima grande coisa tem grande até no nome: big data. E quem entende disso diz que isso vai mudar ainda mais o que já está mudando. Big data é a capacidade de armazenar e trabalhar de forma inteligente a quantidade avassaladora e crescente de dados disponíveis em todos os níveis, dos likes despretensiosos publicados no Facebook até bancos de dados imensos dentro das empresas, das organizações, dos governos, dos laptops, dos tablets, dos fones inteligentes, dos chips dos carros e TVs, dos cartões de crédito, dos mecanismos de busca, da nuvem.

A lista de veículos de produção e registro de informações não termina. Nossa pegada de comunicação cresce dia a dia, post a post, tuíte a tuíte, compra a compra, segundo a segundo. Antigamente, algumas pessoas tinham o hábito de escrever diários para si que eventualmente mostravam a pessoas próximas. Hoje, bilhões de pessoas pelo mundo todo escrevem esse mesmo diário, só que em público e para o público. Eles são fontes inesgotáveis e em tempo real de tendências sociais, hábitos de consumo e muito mais.

Pesquisadores já mostraram que só usando os likes publicados pelos usuários do Facebook é possível traçar perfis precisos das pessoas, preciosos para comunicação de alto impacto. Outras pesquisas concluíram que as tendências de busca no Google relacionadas ao setor de habitação nos Estados Unidos conseguem prever a venda de casas no próximo trimestre com mais precisão do que os economistas especializados no setor imobiliário.

A serviço das ideias

Essa agregação e essa análise inteligentes da informação disponível em escala global estarão cada vez mais acessíveis para um número cada vez maior de empresas e organizações. O McKinsey Global Institute, o braço de pesquisa da reputada consultoria de negócios, chamou o big data de a próxima fronteira para inovação, competitividade e produtividade. No famoso estudo que fez sobre o assunto, a McKinsey destacou que por cerca de US$ 500 era possível comprar um disco rígido com capacidade de armazenar toda a música do mundo!

Tanta informação disponível e armazenável, para a McKinsey, passará a ser analisada e usada sistematicamente, produzindo uma nova onda de revolução tecnológica depois da dos computadores, da web, da web 2.0, do mobile. Uma nova revolução que turbinará novamente a produtividade e reabrirá oportunidades imensas a novos entrantes por tornar muito mais acessível quantidade enorme de inteligência de informação antes restrita a grandes corporações. Claro, nem sempre softwares e complexos modelos matemáticos acertam. Já vimos na última crise econômica mundial o estrago que os algoritmos conseguem fazer nas finanças.

E ainda não inventaram nada mais criativo e inteligente que a sensibilidade humana. Big data sem intuição é como aquele personagem de Charlie Chaplin em Tempos Modernos apertando parafusos como se fosse extensão da máquina. O cérebro humano não pode ser a extensão do software. Sua intuição será cada vez mais a sua profissão. O resto será feito por coisas e programas. Por isso abri uma nova agência de propaganda em que a intuição é base de tudo, com zero de burocracia e quase zero de pesquisa. A pesquisa e a informação precisam estar a serviço da geração de ideias, não no controle delas.

Dados sem sentidos não fazem sentido

Às vezes, é preciso deixar de lado a mania de querer provar. Nem tudo é exato. Os dados servem para nos formar e informar, mas a intuição é a mãe da invenção. E intuição é quando as pessoas parecem falar uma coisa e você percebe que elas estão dizendo outra. Assim pode entregar o que elas querem antes mesmo de elas pedirem.

Mas, se você quiser fazer tudo de olhos abertos, seus olhos vão lhe enganar. Por cima de todas as informações e análises, é preciso ouvir, sentir, usar todos os sentidos mais do que nunca. Porque dados sem sentidos não fazem sentido.

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Nizan Guanaes é publicitário e presidente do Grupo ABC