Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Morre, aos 88 anos de idade, o inventor do mouse

Doug Engelbart, inventor do mouse de computadores e visionário cujas ideias tecnológicas ajudaram a lançar as bases da atual computação pessoal em rede, morreu aos 88 anos de idade. Além do mouse e da interface gráfica para os usuários – hoje padrão em PCs –, ele desenvolveu um trabalho influente sobre redes de computadores e hipertextos para interligar documentos – todas ideias que ele defendeu muito antes de os PCs e a internet sequer terem sido inventados.

A maior realização de Engelbart veio a público em 1968 e entrou para o folclore do Vale do Silício como uma das mais dramáticas demonstrações tecnológicas ao vivo já realizadas. Diante de uma grande plateia, em uma conferência em San Francisco, ele exibiu um protótipo operacional de mouse de computador que usou para manipular ícones numa tela, assim como métodos para interligar informações entre computadores de modo que os usuários pudessem acessar e compartilhar ideias.

Numa época em que a interação humana com computadores ainda era definida por cartões perfurados que alimentavam mainframes, os grandes computadores centrais, sua demonstração prática revelou uma visão quase completa do que se tornaria comum cerca de três décadas mais tarde. Engelbart declarou que sua inspiração veio de um ensaio do inventor e cientista Vannevar Bush, que estabeleceu a visão de uma rede de informações inter-relacionadas, habitualmente citada como uma das primeiras expressões sobre as possibilidades tecnológicas que mais tarde deram origem à internet. Ele leu o ensaio de Bush, intitulado As we may think (como podemos pensar), publicado na revista Life durante o período em que serviu na Marinha dos Estados Unidos, em 1945. “Lembro-me de ter ficado entusiasmado”, disse ele, certa vez, sobre a descoberta. “Simplesmente, o conceito de ajudar as pessoas a trabalhar e pensar dessa maneira me entusiasmaram.”

Inspirou a produção do Macintosh

Nascido em 1925, Engelbart teve sua vida universitária interrompida pela Segunda Guerra Mundial, o que levou a atuar durante um período como técnico de radar naval. Mais tarde, ele creditou suas ideias para a interface gráfica de usuário à sua experiência com radares, que sugeriu novas formas de exibição de informações digitais. “Eu estava familiarizado com telas”, disse ele, “e com a maneira como era possível usar a eletrônica para dar forma a símbolos a partir de qualquer tipo de informação que tivéssemos.”

Depois da guerra, Engelbart foi trabalhar como engenheiro aeroespacial, antes de entrar para a SRI International, um instituto de pesquisas no Vale do Silício, onde realizou o trabalho pelo qual se tornou famoso.

As inovações que criou no desenho das interfaces de computador enquanto esteve no SRI foram coletadas por pesquisadores do centro de pesquisas da Xerox em Palo Alto, na Califórnia. Foi nesse lugar que foram vistas por Steve Jobs, em 1984, e inspiraram o cofundador da Apple a produzir o computador Macintosh, que redefiniu a experiência da computação pessoal.

Engelbart deixa sua segunda esposa, Karen O’Leary Engelbart, e quatro filhos de seu primeiro casamento.

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Richard Waters, do Financial Times, em San Francisco