Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

América Latina impulsiona resultados do Facebook

O rápido crescimento do Facebook na América Latina contribuiu para os resultados espetaculares da rede social no segundo trimestre, enquanto a baixa penetração de smartphones promete ainda novos negócios por algum tempo.

O Facebook surpreendeu todo o mundo na semana passada com um aumento de 53% de suas receitas, e suas ações superaram pela primeira vez, na quarta-feira, o preço de sua estreia na bolsa, em maio de 2012.

“Tivemos um papel importante no crescimento dos resultados da companhia”, disse o vice-presidente da empresa para América Latina, Alexandre Hohagen, em entrevista à Reuters por telefone.

“E estamos muito longe do teto”, completou o executivo brasileiro de 45 anos. “Somos uma região de 600 milhões de pessoas onde ainda há 250 milhões que nunca se conectaram à internet.”

O Facebook não divulga suas receitas na América Latina. Mas Hohagen disse que o crescimento de sua base de usuários ajuda a ter uma ideia: o Brasil — seu maior mercado — passou de 12 milhões de usuários em 2011 para 76 milhões atualmente, disputando com a Índia o segundo lugar depois dos Estados Unidos.

A empresa americana disse que superou os 200 milhões de usuários na América Latina.

“Meus chefes em Menlo Park estão olhando para cá e dizendo: é uma região com muito potencial, porque ainda está muito longe da saturação”, disse o executivo, citando a cidade ao sul de São Francisco, onde está a sede da companhia.

Os resultados do segundo trimestre dissiparam o temor de Wall Street de que o Facebook não soubesse monetizar sua base de 1,15 bilhão de usuários. O dilema típico das empresas de internet contribuiu para derrubar o preço das ações do Facebook depois da maior oferta pública da história do Vale do Silício.

Mais celulares

E a chave do sucesso está na inserção de publicidade nas pequenas telas dos telefones celulares, a plataforma cada vez mais usada para acessar o Facebook. As receitas da companhia com anúncios em celulares dispararam 75% no segundo trimestre, para quase metade das vendas totais de publicidade.

Hohagen disse que o potencial é enorme na América Latina, onde os smartphones são para muitos apenas um sonho de consumo.

“O fato de ter uma baixa penetração de smartphones é uma oportunidade gigantesca”, disse.

A comScore, uma empresa de análise de negócios digitais, calcula que na América Latina apenas 8,1% das páginas são consultadas por dispositivos móveis. Nos Estados Unidos, são 17,4% e no Reino Unido, 32,8%.

Mas a migração de desktops para celulares está ocorrendo em ritmo vertiginoso. No ano passado, a quantidade de páginas vistas a partir de celulares era três vezes menor.

A empresa de inteligência de mercado IDC prevê que 42,5% dos 188 milhões de telefones celulares vendidos este ano na América Latina serão smartphones. E em 2014, a venda de smartphones deve superar pela primeira vez a de aparelhos convencionais.

Hohagen disse que na América Latina os anunciantes estão se adaptando rapidamente às telas pequenas, tema sobre o qual os analistas tinham algumas dúvidas.

“As empresas estão adotando naturalmente uma estratégia de monetização pelo celular”, disse o executivo brasileiro.

América Latina

O sucesso do Facebook na América Latina se deve um pouco ao boom econômico da última década que massificou a internet e também pela natureza sociável dos latino-americanos.

A região tem hoje cerca de 200 milhões de usuários ativos mensais, ou 18% de sua base global de cerca de 1,15 bilhão de usuários.

“É difícil encontrar uma empresa de tecnologia na qual a América Latina tenha uma representatividade tão grande”, disse Hohagen.

Além do Brasil, o México também aparece entre os dez maiores usuários do Facebook do planeta, segundo a empresa de análise de conteúdo web Semiocast.

A companhia francesa – cujos cálculos mostram números superiores aos do Facebook, como, por exemplo, 84 milhões de usuários para o Brasil – estima que o México tem cerca de 50 milhões de usuários, a Argentina, 24 milhões, a Colômbia, 19,8 milhões, o Peru, 11,6 milhões, a Venezuela 11 milhões e o Chile, 10,8 milhões.

Nos últimos dois anos e meio, o Facebook abriu escritórios em São Paulo, Cidade do México, Buenos Aires e Miami. E o de São Paulo, que há um ano estava tão vazio que Hohagen conseguia dar uma volta de bicicleta, não consegue abrigar agora os 16 novos funcionários que a companhia quer contratar.

“Brasil, Argentina, México, Chile e Colômbia são os países onde estamos mais concentrados hoje”, explica o executivo. “A sutileza é ir onde estão as empresas que têm mais sentido para o crescimento do negócio”.