Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Eles querem ser seguidos por você

Quem acompanha Luiza Helena Trajano, fundadora e presidente da Magazine Luiza, no Twitter, não corre o risco de ficar desapontado com a falta de diálogo. A empresária, identificada no microblog como @luizatrajano, comenta elogios, dá notícias dos lugares que visita, fala da empresa e até responde a reclamações. “Léo, peço perdão, estamos verificando imediatamente”, respondeu ela a um usuário que xingou a empresa por não ter recebido seu produto.

Com quase 14 mil seguidores e 5 mil ‘tuítes’, a empresária, que está desde 2010 no microblog, integra um pequeno grupo de presidentes de empresas de capital aberto e executivos famosos brasileiros que são ativos nas redes sociais. Nessa turma estão Abilio Diniz, presidente do conselho da BRF e dono de uma conta no Twitter com mais de 200 mil seguidores, Romero Rodrigues, presidente do Buscapé, e Flavio Rocha, da Riachuelo. Eike Batista é o empresário brasileiro com o maior número de seguidores – mais de 1 milhão. Ele já foi um dos executivos mais ativos do Twitter, mas desde maio está sumido.

Embora tenha nomes de peso, o grupo de executivos engajados nas redes sociais ainda é muito pequeno – no Brasil e lá fora. Nos EUA, por exemplo, 68% dos presidentes das 500 maiores empresas americanas (Fortune 500) não têm qualquer presença em meios como Facebook, Twitter, LinkedIn e Google+, segundo estudo da empresa Domo.

As razões para o distanciamento das redes sociais, mostra a pesquisa, são a falta de tempo, o desconforto dos executivos em ser transparente, os riscos a que estão expostos e a resistência a mudanças (ou à adoção de novas tecnologias).

Aos 76 anos, Abilio Diniz contraria alguns desses obstáculos. Conhecido por ser extremamente disciplinado em tudo que faz, o empresário incorporou o Twitter em sua rotina. Todo fim de tarde ele entra no site para responder perguntas, sugerir leitura ou replicar tuítes. Dúvidas sobre gestão, liderança e empreendedorismo são as que ele mais recebe. “Também sou muito questionado sobre meus seis pilares: atividade física, alimentação saudável, controle do estresse, autoconhecimento, amor e espiritualidade e fé. Sem falar dos comentários sobre o São Paulo Futebol Clube”, diz.

Além de interagir com os internautas por escrito, Abilio já respondeu questões ao vivo pelo Twitcam, que permite a transmissão de vídeo via Twitter. Ele ainda tem um blog hospedado em um site de notícias. Para dar conta de tudo isso, tem uma equipe de comunicação que não para nem nos fins de semana.

Outra empresária que tuíta com a ajuda de assistente é Luiza Trajano, que não deixa ninguém sem resposta. Neste mês, um usuário com ações na empresa perguntou por que as ações da MGLU3 não subiam. Luiza pediu o telefone dele para entrar em contato.

Presença

Essa possibilidade de interagir facilmente com perfis públicos nas redes sociais faz da presença de executivos (principalmente os de companhias abertas) um risco. “Mesmo os mais treinados podem escorregar, porque esse tipo de mídia é informal”, diz Carlos Eduardo Altona, sócio da Exec, empresa especializada na contratação de altos executivos. Eike é um exemplo de quem tropeçou na rede (leia abaixo).

A recomendação dos especialistas é ter presença nas redes caso seja pertinente estabelecer uma relação com usuários da internet. O presidente de uma empresa do setor químico, cujos clientes sejam outras empresas, por exemplo, não precisa necessariamente criar uma conta em rede social, segundo Altona.

Função social

A presença do empresário Rubens Menin no mundo virtual, portanto, tem seu sentido. Com 200 mil clientes em 120 cidades, ele atribui uma função social a seus posts no blog e no Twitter. “Meu objetivo é transmitir conhecimento para a sociedade como um todo.” Há alguns dias, seu post no blog falava de segurança na terceirização de serviços.

No Twitter, o engenheiro tem mais de 4 mil seguidores e, ultimamente, tem publicado uma média de seis posts por dia – muitos deles repetidos. Não são tão frequentes diálogos diretos e abertos com seguidores, como no caso de Luiza Trajano. Mas Menin diz tratar as demandas de perto. Outro dia ele recebeu queixas do proprietário de um apartamento da MRV que teve problemas com abastecimento de água. A reclamação foi encaminhada ao setor responsável.

Enquanto alguns ainda estudam as formas de dar um retorno aos usuários, outros lutam para deixar o perfil atualizado sempre. Até Romero Rodrigues, que faz parte da geração mais antenada nas novas tecnologias, leva bronca de sua equipe de comunicação quando demora a publicar novidades.

O megainvestidor Warren Buffet desistiu no segundo tweet. No caso dele, seria impossível fazer uma “nuvem de palavras” – como as que ilustram essa página – com as expressões mais usadas por ele na rede social. Além de recomendar um artigo escrito por ele mesmo, tudo que Buffet disse foi “Warren is in the house”, para anunciar sua chegada ao microblog.

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Nayara Fraga, do Estado de S.Paulo