Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Das cinzas do MySpace nasce a Praia do Silício

É fácil esquecer que o MySpace surgiu antes do Facebook e poderia valer bilhões de dólares hoje, depois que diversos erros de cálculo transformaram uma empresa que chegou a valer de US$ 600 milhões (R$ 1,44 bilhão) em uma nota de pé de página. Em 2011, muitos usuários haviam abandonado o site, os fundadores deixaram a companhia e sua proprietária, a News Corp., a vendeu por apenas US$ 35 milhões (R$ 77 milhões).

Mas de suas cinzas surgiu um número surpreendente de start-ups. Quase todos os integrantes da equipe original criaram negócios que estão entre os líderes do setor de empresas iniciantes de tecnologia de Los Angeles, chamado de “Praia do Silício”. Essa comunidade cresce por diversos motivos – influxo de capital, disponibilidade de programadores jovens e talentosos e elo com celebridades de Hollywood –, mas as empresas nascidas do MySpace também são um fator. Até recentemente, os empreendedores de Los Angeles precisavam se mudar para o Vale do Silício pra ter sucesso na área de tecnologia, mas a ascensão da Praia do Silício e a conexão com o MySpace ajudaram a mudar essa forma de pensar. Antigos funcionários conseguiram mais de US$ 100 milhões (R$ 220 milhões) do setor de capital para empreendimentos.

Dois dos fundadores do MySpace, Chris DeWolfe e Josh Berman, se conheceram quando estudavam na Universidade do Sul da Califórnia. DeWolfe criou o plano da rede social que estrearia em 2003 como MySpace.

“Nos saímos bem”

Em 2005, um ano após se formar na Universidade Stanford, Amit Kapur foi convidado de DeWolfe para ser diretor de desenvolvimento de negócios da empresa. Hoje, ele é presidente-executivo da Gravity, uma companhia de tecnologia de personalização da web, em companhia de dois outros ex-colegas do MySpace. Josh Brooks, ex-vice-presidente de marketing, criou a On the Run Tech, em 2011. Em seu pico, a rede social chegou a registrar 76 milhões de visitantes únicos por mês, mas perdeu oportunidades de inovar.

O advento do YouTube é um bom exemplo. Quando o site foi criado, em 2005, muita gente no MySpace queria oferecer recurso semelhante. Travis Katz, que foi contratado como gerente de negócios internacionais, disse que se lembra de ter informado à News Corp. de que para isso teriam de contratar 40 programadores imediatamente e outros 200 em 2006. “Eles responderam que congelariam as contratações por seis meses, e que refletiriam para determinar o que realmente precisávamos. Mas não tínhamos como esperar. No período, o YouTube foi de 2 milhões a 80 milhões de usuários.”

Por conta do sucesso inicial do MySpace, os líderes da empresa receberam uma generosa recompensa quando ela foi vendida à News Corp. Bill Burnham, executivo de capital para empreendimentos, estima que os principais fundadores tenham faturado entre US$ 20 milhões (R$ 44 milhões) e US$ 25 milhões (R$ 55 milhões). “Nós nos saímos bem”, diz Colin Digiaro, um dos fundadores do MySpace.

Comércio eletrônico

Em 2010, três dos fundadores, DeWolfe, Digiaro e Aber Whitcomb, fundaram a Social Gaming Network (SGN). DeWolfe conduz a expansão da companhia em ritmo moderado. Em 2012, Digiaro deixou a SGN para criar a Eclipse, uma empresa de tecnologia para publicidade em aparelhos móveis. Ele diz que o período no Myspace o ensinou a “nunca me apaixonar por uma ideia só”.

Desde a fundação da rede social, o cenário da tecnologia mudou significativamente na área de Los Angeles e o capital disponível cresceu muito.

O caso de Berman serve como exemplo: em 2010 ele criou a BeachMint, uma companhia de comércio eletrônico que hoje é uma das principais empresas em ascensão na Praia do Silício. Ele obteve US$ 80 milhões para sua nova empresa. “As pessoas que trabalham em grandes empresas aqui e criam negócios próprios normalmente se mudam para o norte”, diz Paul Bricault, executivo de capital para empreendimentos. “Mas muitos do Myspace ficaram, e isso foi um grande catalisador.”

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Eilene Zimmerman, doNew York Times