Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O computador está morto. Longa vida ao computador!

Não é de hoje que se anuncia a morte do computador pessoal. De fato, o equipamento que trouxe a revolução digital para a casa das pessoas tem perdido espaço rapidamente nos últimos anos. No quarto trimestre de 2013, as vendas globais de PCs caíram 6,9%, no sétimo trimestre consecutivo de queda. No ano, quando 316 milhões de unidades foram vendidas, o recuo chegou a 10%, no pior resultado da história desses aparelhos, segundo a empresa de pesquisa Gartner.

O desinteresse pelo PC – especialmente os desktops, que ficam em cima da mesa do usuário – é justificado pela preferência do consumidor pelos dispositivos móveis, como tablets e smartphones. Esses equipamentos ganharam um poder de computação capaz de dar conta da maior parte das tarefas do usuário comum, com a vantagem de que podem ser transportados de um lado para outro.

Só no ano passado, de acordo com a Strategy Analytics, empresa de pesquisa de mercado, foram vendidos 1 bilhão de smartphones no mundo, três vezes mais que o número de PCs. A avaliação de analistas, porém, é que o pior já passou. Não que os PCs estejam próximos de um retorno retumbante, mas a expectativa, para alívio dos fabricantes, é que as vendas se estabilizem daqui para frente, sem reduções significativas.

Esse cenário é resultado, em grande parte, do lançamento de equipamentos que trazem uma nova abordagem. Os aparelhos mantêm características básicas dos velhos PCs, mas apresentam novidades que os aproximam dos dispositivos móveis mais desejados. São “reencarnações” do computador pessoal, adaptadas aos tempos da internet rápida e disponível em qualquer lugar.

Dilema dos consumidores

O Chromebook é a mais recente tentativa de remodelar o PC. O equipamento é um notebook simplificado, que funciona conectado à internet na maior parte do tempo. A vantagem mais evidente é o preço. Nos Estados Unidos, onde custa entre US$ 199 e US$ 350, o Chromebook sai pela metade do preço de um equipamento básico. No Brasil, dois modelos estão disponíveis até agora, um da taiwanesa Acer e outro da coreana Samsung. O primeiro custa R$ 1,3 mil e o segundo, R$ 1,1 mil. Esses valores são muito parecidos com os de um notebook tradicional básico, por conta principalmente dos impostos.

O consumidor pode usar o Chromebook desconectado da internet, mas é só ligado à rede que vai tirar todo o proveito do equipamento. A proposta é não instalar muitos softwares no próprio dispositivo. Em vez disso, o usuário acessa os serviços online, por meio da nuvem computacional. O Chromebook foi concebido pelo Google, embora não seja fabricado pela companhia de internet. Cada fabricante cria seu próprio equipamento, com base em diretrizes estabelecidas pelo Google. É o primeiro aparelho a adotar o sistema operacional Chrome OS, desenvolvido para competir com sistemas rivais como o Windows, da Microsoft, e o Mac OS, da Apple.

O equipamento foi apresentado em 2009 e os primeiros modelos apareceram dois anos depois. Mas foi só no fim do ano passado que o Chromebook ganhou força. Segundo a empresa de pesquisa NPD, os aparelhos responderam por 21% dos notebooks vendidos (em número de unidades) nos Estados Unidos em 2013. É preciso mais tempo para ver como será a aceitação do Chromebook fora dos EUA. O conceito de um computador “burro”, que busca a maior parte de seus recursos na web, já foi tentado anteriormente, sem muito sucesso na época. Nos anos 90, várias empresas – da Microsoft à Oracle – investiram na ideia do Network Computer, ou NC, mas o produto não deslanchou, em parte devido à ausência de infraestrutura suficiente.

Os híbridos são outra forma de recriar o PC. Os equipamentos combinam funções de notebook e tablet. Os formatos variam bastante. Nos “destacáveis”, a tela se desprende do teclado, funcionando como um tablet autônomo. Nos “conversíveis”, a tela gira e pode ser sobreposta ao corpo do aparelho. Os “deslizantes”, como o nome sugere, permitem que a tela esconda o teclado.

A criação dos híbridos tenta resolver um dilema dos consumidores. Os usuários não querem carregar dois equipamentos ao mesmo tempo, mas acham o tablet restrito para tarefas de trabalho e o notebook, difícil de carregar. Mas para unir os dois mundos, os híbridos ainda têm vários desafios a superar. Um deles é o preço. No Brasil, os aparelhos (a maioria importada) custam de R$ 3 mil a R$ 6 mil. O peso é outro empecilho. Em geral, eles são bem mais pesados que os tablets normais.

Atividades lúdicas

Os desktops também estão recebendo sua segunda chance, na forma dos tudo-em-um. São computadores sem torre. Todos os componentes estão embutidos na própria tela. Os equipamentos têm design sofisticado, que se estende a periféricos como teclado e mouse. Algumas marcas chegaram a usar o conceito no passado, quando os monitores ainda eram de tubo, caso da Compaq (mais tarde adquirida pela HP). Nessa nova fase, a pioneira foi a Apple, que transformou o iMac em um objeto bonito de ver, ao usar telas superfinas e material como alumínio. Praticamente todas as grandes fabricantes adotaram o modelo.

Uma das vantagens do tudo-em-um é a economia de espaço. Com as pessoas morando em casas cada vez menores, esse se torna um apelo de marketing importante. O design elegante também faz com que o consumidor já não veja a necessidade de “esconder” o desktop, como acontecia com os modelos antigos, que lembravam peças de escritório.

Se já foram considerados vilões, por atrair crianças e adolescentes para as lan houses, os PCs estão fazendo o caminho inverso com os tudo-em-um. As telas sensíveis ao toque são uma maneira de os pais se divertirem com os filhos em atividades lúdicas.

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Serviços na nuvem facilitam o dia-a-dia do consumidor

A ampla variedade de serviços disponíveis via internet é um estímulo à compra de computadores mais baratos, que não exigem uma configuração tão avançada para que o usuário faça tudo – ou quase tudo – de que precisa em seu dia a dia. Os serviços fornecem desde espaço de armazenamento para fotos, vídeos e documentos, até ferramentas para edição de imagens, um trabalho que antes requeria máquinas complexas e softwares caros.

No Pixlr, dá para tratar fotos gratuitamente. O usuário acessa o site como se fosse um programa instalado em seu computador. Os comandos são intuitivos e não é preciso fazer upload das fotos (transferência do arquivo do equipamento para a internet), o que aumenta a segurança do trabalho. O serviço é fornecido pela americana Autodesk, famosa por ser a criadora do software de engenharia AutoCAD. Quem se interessa por edição de vídeos encontra uma ferramenta semelhante no WeVideo.

Até a Microsoft abraçou o conceito da computação em nuvem. O pacote Office – que reúne softwares muito populares como Word, Excel e PowerPoint – pode ser acessado via internet, sem estar instalado na máquina. Se preferir, o consumidor pode instalar uma versão reduzida dos programas, buscando os recursos adicionais na web. Para isso, é preciso ter uma licença do serviço Office 365, que custa R$ 209 por ano e dá 60 minutos de ligações no Skype todo mês.

O modelo de assinatura é um dos mais usados pelas companhias de software para combater a pirataria e expandir sua base de usuários. Programas cujas licenças custavam milhares de dólares, caso do PhotoShop, da Adobe, passaram a ser oferecidos pela nuvem. A vantagem é que o consumidor pode usar todos os recursos do programa oficial, pagando uma taxa por mês que representa uma fração do preço total. O Evernote tornou-se uma espécie de cofre digital. O serviço permite guardar notas, lembretes, mensagens de voz, fotos. Todas essas informações ficam disponíveis na web, protegida por senha, podendo ser acessadas por qualquer tipo de dispositivo, como smartphones, tablets, PCs, notebooks etc. Dá para usar o Evernote de graça, mas quem quiser espaço adicional precisa pagar uma taxa que pode ser de R$ 10 por mês ou R$ 90 por ano.

O OnLive é um serviço pago de jogos eletrônicos. O usuário instala um programa no computador e tem acesso a um catálogo de centenas de títulos que, de outro jeito, só funcionariam em máquinas avançadas.

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Gustavo Brigatto e João Luiz Rosa, do Valor Econômico