Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

EUA ‘torpedeiam’ a propaganda jihadista

O campo de batalha é o Twitter. Lá, a atividade do Departamento de Estado norte-americano é frenética. E tem poucos limites. Em um de seus 17 tuítes publicados na sexta-feira com a hashtag (meio de comunicação dessa rede) #thinkagainturnaway, a seção de comunicação e contraterrorismo informa que já há combatentes sírios que dizem não ao Estado Islâmico (EI) porque “assassinam os muçulmanos”. A foto que acompanha mostra um jihadista descarregando seu rifle contra homens não uniformizados.

Think again turn away (Pense novamente e volte atrás) é o nome da campanha lançada há um ano por esta seção de combate ao terrorismo, dirigida pelo ex-diplomata de origem cubana Alberto Fernández, e que neste fim de semana sacudiu as redes com um vídeo de um minuto no qual, com ironia, dá as boas-vindas aos que desejam ingressar no califado do EI. Com imagens retiradas de vídeos editados e publicados pelo aparato de propaganda dos jihadistas, o Departamento de Estado alerta: “Corra, não caminhe até a terra do EI”. A brutalidade da montagem feita por Washington (destruição de mesquitas, crucificações, cabeças cortadas) é tamanha que o YouTube, onde o vídeo foi publicado, decidiu bloqueá-lo, como faz com muitas produções jihadistas.

A guerra na Internet entre jihadistas, serviços de inteligência e plataformas de conteúdo é uma briga de gato e rato. Se a conta de Twitter vinculada ao EI @wilaiat_Halab2 é suspensa, só é necessário mudar o último número e seguir em frente. Segundo fontes da polícia espanhola, esta conta, com base em Alepo (Síria), está vinculada à divisão do EI em Nínive, província iraquiana que tem como capital a cidade de Mosul, bastião do califado do Estado Islâmico. O atual nome deste perfil é @wilaiat_Halab5.

Junto a esta conta, autoridades identificaram recentemente outras 16 relacionadas com o EI. Todas foram canceladas. O conteúdo de caráter violento e as normas de funcionamento das plataformas sociais permitem retirar da Internet vídeos, perfis e contas. Governos e hackers também fulminam sites de radicais através de ataques de deniel of service (negação de serviço), concentrados geralmente em saturar um servidor.

Caricatura em vídeo

Os internautas são, no entanto, o esteio da contrapropaganda. Quando os jihadistas inundaram o Twitter com #AmessageFromISISToUS (Mensagem do EI para os EUA), hashtag com a qual difundem suas conquistas ou atrocidades, como as decapitações gravadas dos jornalistas norte-americanos James Foley e Steven Sotloff, os usuários desta rede, sobretudo os tuiteiros norte-americanos, ativaram a hashtag #AmessageFromUStoISIS, em que ridicularizam o EI. “Não vejo o EI no Twitter”, disse o perfil @lheal, “estão escondidos atrás de suas cabras plácidas”.

A comédia, apesar de ser dramática, também luta contra o aparato de comunicação jihadista. O centro de estudos norte-americano MEMRI difundiu esta semana um vídeo intitulado Uma Paródia Palestina sobre o EI. O vídeo caricatura três barbudos do EI no que parece ser um checkpoint. “Quantas vezes aparece a letra ‘a’ na recompilação de hadiths [ditos de Maomé] de Al Bukhari?”, pergunta um dos militantes a um prisioneiro. “Melhor me matar”, diz com naturalidade o indivíduo.

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Óscar Gutiérrez, do El País