Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O futuro do acesso à internet está nos céus

Atualmente, cerca de três bilhões de pessoas se conectam à internet, a maioria delas através de dispositivos móveis e redes de telefonia celular, de acordo com a União Internacional de Telecomunicações. Ainda assim, a atividade de levar bits às pessoas e seus aparelhos mal começou. A maioria delas não possui acesso à internet e a maior parte das que se conectam à web o fazem por meio de conexões que você, leitor, consideraria inaceitavelmente lentas.

A solução para os desafios relacionados a levar a internet para os outros quatro bilhões de pessoas, e rapidamente, muito provavelmente virá do céu. Isso já foi tentado antes, claro. No passado recente, a conexão de internet através do espaço se mostrou um negócio difícil. Tanto a Iridium como a Globalstar, pioneiras das redes de satélites em órbita terrestre baixa, passaram por processos de recuperação judicial.

Normalmente, as redes de satélites têm dois problemas. Quando próximas da Terra, elas são caras porque precisam de muitos satélites para cobrir todo o planeta. Na rede da Iridium, por exemplo, existem 66 satélites orbitando a aproximadamente 780 quilômetros de distância da Terra. Se satélites muito maiores e mais poderosos fossem usados em órbita geoestacionária – a cerca de 36 mil quilômetros da Terra –, o planeta poderia ser coberto por apenas três satélites, mas demoraria tanto para o sinal atingi-los que a latência seria inaceitável para muitas aplicações.

Mas uma nova geração de tecnologias de satélites e lançamentos, aliada a novas ideias sobre o que constitui um satélite, está transformando o céu sobre nossas cabeças em caminhos para dados que podem chegar a dispositivos móveis tão rapidamente quanto por redes terrestres, com a vantagem da cobertura global.

Empresas tradicionais, como a Intelsat, a maior companhia mundial de satélites em valor de mercado, já estão usando os recursos da próxima geração de satélites geoestacionários para conectar à internet aviões, navios de cruzeiro e frotas de marinha mercante, todos mercados que “basicamente não existiam há cinco ou sete anos”, diz David McGlade, diretor-presidente da Intelsat.

Muito mais perto da Terra, a concorrência vem de lugares improváveis, como o Facebook e o Google. As empresas americanas estão explorando formas de levar acesso à internet através de objetos que permanecem na atmosfera terrestre, incluindo drones e balões.

Largura de banda

O projeto Loon, do Google, pretende levar a internet para áreas remotas da Terra por meio de frotas de balões. Mike Cassidy, que lidera o projeto, acredita que o custo total da internet via balões pode ser 10% ou mesmo 1% do da internet via satélites.

Os balões do Google, que a empresa afirma poder lançar até 20 por dia, flutuam em uma camada da atmosfera terrestre acima dos padrões climáticos convencionais. Os balões de alta altitude são, de certa forma, satélites que não precisam ser lançados por foguetes.

Na estratosfera, a cerca de 19 quilômetros da superfície terrestre, os ventos levam os balões de leste para oeste ou de oeste para leste, dependendo da altitude. Teoricamente, isso permitiria que o Google criasse através do globo uma faixa contínua de balões que levassem a internet a qualquer latitude, embora isso fosse exigir milhares de balões. Cassidy prevê que clientes pagantes estarão conectados à internet via balões em 2016, através das empresas de telecomunicações parceiras do Google.

Enquanto o projeto Loon usa versões modificadas dos mesmos balões utilizados para estudar o clima, o Facebook (e uma divisão separada do Google) está buscando um alcance ainda maior. Drones do tamanho de um Boeing 747 e movidos a energia solar poderão um dia competir com satélites e balões para oferecer acesso à web.

“Eu diria que [os drones] são realmente difíceis”, diz Yael Maguire, chefe do laboratório de conectividade do Facebook. Os desafios enfrentados por Maguire e pela Titan Aerospace, que também está trabalhando com drones de alta altitude e foi adquirida pelo Google em abril, incluem a necessidade de melhores painéis solares, baterias e sistemas de navegação autônomos, assim como a aprovação de reguladores para permitir que drones gigantes não tripulados compartilhem os céus com aviões de passageiros.

Outros concorrentes nessa disputa são os satélites terrestres de órbita média, como aqueles lançados recentemente pela 03b Networks, que orbitam a 8 mil quilômetros acima da Terra. Esses satélites são grandes e potentes como os geoestacionários, mas não são afetados por problemas de latência.

O Google tem planos de investir mais de US$ 1 bilhão em satélites para acesso à internet. O ex-diretor-presidente da 03b, Greg Wyler, que trabalhou brevemente no Google, agora está colaborando com a SpaceX, de Elon Musk, para criar uma rede de centenas de satélites de órbita terrestre baixa.

Satélites podem durar décadas, mas balões e drones têm que ser constantemente substituídos, e muitos mais são necessários para cobrir a Terra. Por outro lado, seus equipamentos de comunicação podem ser constantemente atualizados, diz Maguire.

A internet por satélite já está se tornando mais rápida e mais barata a um ritmo que está “retardando o crescimento dos sistemas [terrestres] de fibras e micro-ondas”, diz McGlade. Nos EUA, cerca de 1,5 milhão de pessoas têm acesso à internet através de uma conexão via satélite, embora globalmente apenas 0,2% dos habitantes de países desenvolvidos estivessem conectados via satélite em 2012.

Uma vantagem clara das redes terrestres sobre as sem fio é a largura de banda. Essas redes podem sempre acrescentar uma nova linha de fibra ótica quando as existentes ficam saturadas.

******

Christopher Mims, do Wall Street Journal