Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Importa mais a estabilidade que a velocidade

O conceito de banda larga nos Estados Unidos está mudando, tanto do ponto de vista regulatório, com a proposta de reclassificação para “serviço essencial”, quanto no contexto técnico, com a nova configuração de velocidade mínima de 25 Mbps (contra os 4 Mbps de até então). Para o cientista que inventou a tecnologia DSL e CEO da empresa de análise de conectividade Assia, John Cioffi, no entanto, o conceito é mais uma questão subjetiva de como funciona para o consumidor. “Banda larga é uma conexão suficientemente estável e de alta velocidade para que o usuário possa se conectar em qualquer lugar”, disse o executivo, que esteve em São Paulo na semana passada [retrasada] para uma palestra na Campus Party 2015.

A nova velocidade mínima reconhecida pela agência reguladora, a Federal Communications Commission (FCC), basicamente elimina as conexões DSL do conceito de banda larga nos EUA, bem como a maioria das conexões móveis em 3G. Cioffi é contra esse tipo de classificação. “Eu não tentaria colocar em números, como fez a redefinição da FCC. O que importa é a estabilização dessa conexão”, defende. Com a nova definição, segundo relatório da Comissão divulgado na segunda-feira (9/2), 17% da população americana não possui banda larga, sendo que o percentual cresce para 53% considerando somente as áreas rurais.

Apesar de criticar a decisão de impor novos parâmetros, Cioffi elogia a atuação do chairman Tom Wheeler em sua batalha pela reclassificação da banda larga fundamentada na neutralidade de rede. “É muito bom que os reguladores no mundo, incluindo a FCC, estejam olhando de maneira cuidadosa em relação ao impacto das interconexões para os consumidores”, diz, destacando o que ele considera como posição de liderança dos EUA nessa discussão.

Mas ele ressalta: será preciso endereçar de forma correta os problemas, porque o regulador terá de monitorar para saber “o que é justo” e “como as regras estão sendo aplicadas” para deixar o mercado comercialmente competitivo – o que é, obviamente, o papel de um órgão regulador mesmo. “O que Wheeler quer fazer é criar um balanço. Algumas regras são para motivar as empresas a continuar a investir, a colocar fibra mais perto (do usuário), colocar mais rede, fazer mais com o cobre… E eles podem fazer muito dinheiro se fizerem isso corretamente.”

Tecnologias

O posicionamento do executivo também pode ser explicado pelo produto que a Assia, sua empresa, vende: um software de monitoramento de rede, incluindo um aplicativo para smartphone, chamado de Cloudcheck, que testa a qualidade da conexão, com parâmetros de velocidade de servidores de conteúdo (como um YouTube ou Netflix), conectividade do Wi-Fi e capacidade do link. “Muito dos problemas, até cerca de 90%, ocorrem na última milha, incluindo o link wireless ou a conexão de cobre e fibra; e são áreas importantes, onde diferentes tipos de problemas podem ocorrer”, justifica. A companhia tem como clientes no Brasil a Oi e a Vivo, cobrindo cerca de 11 milhões de acessos, além das norte-americanas AT&T, Verizon e Century Link, que cobrem 32 milhões de conexões.

Mas há também outras tecnologias que podem ser aplicadas, como o caso do G.fast, protocolo de vectoring que utiliza o cobre na última milha e é capaz de entregar velocidade de 1 Gbps. Dependerá do viés econômico. “A fibra precisa chegar cada vez mais perto, e o preço da fibra é cada vez mais barato. E a economia vai ser diferente, aqui no Brasil as pessoas com quem falamos procuram diferentes combinações, como fibra e cobre, e wireless e satélite também”, diz.

Outras novidades, como a conectividade por meio de drones e balões do projeto Loon, do Google, ou da próxima geração de redes móveis, o 5G, são conceitos ainda muito teóricos para John Cioffi. “O problema é como os balões conseguirão a conectividade”, diz, referindo-se ao backhaul provavelmente proporcionado por satélite. “Talvez seja uma boa ideia para começar (a fornecer conectividade em uma região), mas não é necessariamente a melhor maneira de fazer onde já existe conexão”, defende. Sobre o 5G, ele ressalta a oportunidade de usar ondas milimétricas e conceito de rede mesh. “Mas isso requer muito gerenciamento de software. Tudo que eu vejo na área é possível, mas ainda há um longo caminho para se chegar ao uso nos níveis prometidos”, declara.

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Bruno do Amaral, do Teletime