Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A guerra dos buscadores

O ataque da Microsoft ao Google no terreno das buscas na internet e da publicidade vinculada às pesquisas pode ser o mais complicado desafio empresarial da atualidade. É certamente um dos mais custosos: a Microsoft gasta pelo menos US$ 5 bilhões por ano nessa tarefa.

Como líder disparado entre os buscadores, o Google tem vantagens. Ele possui o maior número de pessoas digitando termos de busca -bilhões por dia-, o que gera mais dados para os algoritmos que garimpam os resultados. Ter tanta gente atrai anunciantes. E “Google” é sinônimo de pesquisa, a escolha habitual.

O buscador Bing, da Microsoft, disponível em 40 idiomas, tem ampliado seu tráfego desde o lançamento há dois anos e já responde por mais de 14% das buscas no mercado americano, segundo a comScore, empresa de pesquisas do mercado digital. Somando-se a isso as buscas que a Microsoft faz para o Yahoo, em parceria iniciada em 2010, a empresa chega a 30% de domínio no campo das tecnologias de buscas.

Mas, nos últimos dois anos, o Google manteve intacta a sua participação de dois terços no mercado dos EUA, e os custos da Microsoft continuam subindo. No último ano fiscal, a divisão de serviços on-line da empresa -principalmente o seu negócio de buscas- perdeu US$ 2,56 bilhões.

A Microsoft diz que sua meta é tornar as buscas mais inteligentes. As pesquisas hoje, diz a empresa, localizam principalmente tópicos ou nomes -de gente, cidades, produtos etc.

“Tudo são substantivos”, diz o chinês Qi Lu, presidente de serviços on-line da Microsoft. “Mas o futuro da pesquisa está nos verbos -discernindo a intenção do usuário para lhe dar o conhecimento necessário para completar tarefas.”

A Microsoft chama isso de “motor de decisão”, em vez de motor de busca. Novas classes de informações vão ajudar. A Microsoft tem uma parceria com o Facebook, incluindo um recurso para que os resultados do Bing destaquem links “curtidos” por amigos do usuário. É, segundo Lu, um passo no sentido de incluir opiniões confiáveis numa busca -e não só as mais populares, como uma busca convencional faz tão bem.

Esperança maior

Os dados de localização oferecem outro manancial de informações. O objetivo, diz Lu, é que você fale com o seu smartphone -”filme e jantar para dois na sexta-feira”-, e o software acesse os seus dados pessoais (sua localização, suas preferências gastronômicas e cinematográficas) e entre em aplicativos para reserva de restaurantes e cinema.

Em suma, é um motor de buscas que é parte um software-assistente inteligente e parte um leitor de mentes.

No Bing, o conceito de “motor de decisão” é evidente na sua capacidade de agregar e apresentar tipos específicos de informações nos resultados de uma busca. A Microsoft tem investido em serviços de viagens, por exemplo. Digite “voos para San Francisco” no Bing, e ele procura todos os voos, além de prever se a tarifa tende a subir ou cair. Esse recurso se baseia na tecnologia da Farecast, uma “start-up” que a Microsoft adquiriu por US$ 115 milhões em 2008.

O Bing também utiliza tecnologia da Medstory, um buscador relacionado à saúde que a Microsoft comprou há quatro anos. Digite “diabetes”, e aparecerão uma definição curta e links para artigos em publicações profissionais de saúde, além de links para doenças correlatas, medicamentos e posts recentes do Twitter sobre diabetes.

“O que a Microsoft está tentando fazer é oferecer contexto e estrutura ao usuário -mais um mapa do mundo da informação do que apenas uma classificação”, diz Esther Dyson, uma investidora de “start-ups” e veterana analista de tecnologia.

Mas o Google está inovando também. Em abril, ele adquiriu a ITA Software, cujo serviço coleta e organiza dados na internet sobre voos comerciais. No ano passado, o Google havia comprado o Metaweb, que usava um vasto banco de dados para decifrar com eficiência o significado dos termos nas buscas. E, em 2008, adquiriu a Powerset, especializada na tecnologia de busca semântica.

“Ambos estão dando passos importantes para tornar a busca mais inteligente”, diz Oren Etzioni, cientista da computação da Universidade de Washington. O Bing é elogiado pela melhora na qualidade das buscas e pela elegante página inicial.

Laura Desmond, executiva-chefe da Starcom MediaVest, uma agência de estratégia publicitária, diz que a participação da Microsoft no volume de tráfego dos seus clientes vindo de anúncios em buscas saltou de 14% para 24% em nove meses.

A Microsoft ainda não está traduzindo o seu tráfego de buscas em um faturamento comparável. A receita por busca no Yahoo ainda é inferior ao valor que o próprio Yahoo obtinha quando gerenciava a publicidade nas suas buscas.

Mas pode haver uma abertura. Charlene Li, fundadora do Altimeter Group, uma firma de pesquisas tecnológicas, considera-se uma “enorme usuária do Google”. No entanto, ela diz que agora prefere o Bing para encontrar voos e restaurantes.

“A maior esperança da Microsoft é fazer cada vez mais gente migrar para o Bing atrás de tarefas específicas, como viajar”, diz ela. “Caso as pessoas gostem, elas poderão usar o Bing de forma mais ampla.”

***

[Steve Lohr escreve para o New York Times]