Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A hora (enfim) do jornalismo online

A novela da crise política brasileira gerou mais do que indignação, lágrimas,
Jeffersons Valérios, Silvinhos e Dirceus. Gerou a percepção de que há um ‘novo’
veículo de comunicação, quase tão importante quanto a TV, jornais, revistas e
rádio. Internet. Sim, esse vício virtual, sedutor, contraditório. Essencial, que
nem esse celular ao seu lado.


Na verdade, não há nada de novo, de novo. Mas o jornalismo online, conceito
ainda sem rosto, de caráter ainda duvidoso para o mercado, tem de saber colher
os frutos desta nova oportunidade. A internet comercial recém completou 10 anos
de vida e o jornalismo online, com todos as seus defeitos e
virtudes, permeou boa parte dessa existência, especialmente no Brasil, um
país considerado de conteúdo pela comunidade virtual.


Hoje se canta, em verso e prosa, a internet na cobertura política, com os
blogs, os fóruns, a interatividade, a informação instantânea, o vídeo ao vivo.
Pesquisa realizada pelo Instituto Qualibest, de 16 de julho a 4 de agosto,
indica que 58% dos entrevistados estão acompanhando a novela da crise e das CPIs
pela internet. Em primeiro, só a TV, com 88%. O meio, que na verdade também já é
o fim, exerceu essa vocação de forma tão eficiente em outras oportunidades, nem
sempre valorizadas neste país de memórias curta e seletiva.


Ainda na esfera política, basta lembrar das três últimas eleições. Alguém
duvida que não há mais cobertura de eleição e apuração sem internet?


O jornalismo online vai completar três Copas do Mundo na Alemanha, em 2006.
Tudo começou em 1998, na França, já ali com tecnologia wireless e webcams, para
poucos profissionais. Desde então, nunca mais a cobertura de esportes foi a
mesma.


Em 2002, já se enviava vídeo-reportagens da Coréia e Japão mais rápido do que
as TVs. No próximo ano, com os jogos acontecendo durante o horário comercial do
Brasil – o último jogo de cada rodada terminará às 17h45 – estará lá de novo a
internet como mídia imbatível no seguimento ao vivo da competição. O seguimento
ao vivo de competições esportivas, aliás, é um campeão de audiência deste
jornalismo online nos grandes portais.


Processo inevitável


Se não há dúvidas sobre a rapidez e a eficiência da informação na internet,
sobram críticas à filosofia e à estrutura, na maioria das vezes muito frágil, em
que está alicerçada a criação de conteúdo. Redações enxutas, profissionais mal
remunerados e subempregados, síndrome do ‘copy and paste’,
ausência de reportagens e por aí vai.


O conteúdo online sofre ainda com a fatia (muito pequena) que recebe do
mercado publicitário. Na internet, máxima audiência e credibilidade ainda não
significam investimento publicitário proporcional. E isso impede que o círculo
se feche com redações encorpadas, profissionais bem remunerados, investimento em
apuração e reportagens.


O New York Times já deu um grande passo para assimilar o novo meio e
viabilizá-lo dentro de seu negócio principal, tentando encontrar escalas de
custos e receitas e uma estrutura orgânica de produzir e entregar informações em
tempos de internet e tecnologias sem fio. O jornal americano anunciou no início
de agosto que irá fundir sua redação tradicional com a redação online. Será um
longo e inevitável processo de fusão que deve terminar em 2007.


Fórum permanente


Viabilizar o negócio, compreender a nova forma e os novos conteúdos, quebrar
barreiras seculares do ideário jornalístico, e se comunicar com um novo
consumidor de informação são os desafios que se colocam ao jornalismo online que
ainda engatinha no Brasil.


A reboque da notoriedade do meio em tempos de crise política, um evento
internacional, o MediaOn – 1º Seminário Internacional de Jornalismo Online, que
deverá ser realizado no Brasil em outubro, na Escola de
Gestão de Negócios Álvares Penteado, em São Paulo, reunirá pela primeira vez
renomados profissionais da mídia eletrônica do Brasil e do exterior. A proposta
dos organizadores é criar um fórum consistente entre todos os atores envolvidos
na criação e no negócio do conteúdo online, num momento em que a internet já não
pode ser mais ignorada como veículo de comunicação.


A idéia de um fórum permanente de discussão e de um seminário internacional
surgiu entre jornalistas que atuam há anos na internet e que percebem em
seu dia-a-dia a necessidade de aprofundar o debate sobre a atividade
jornalística online. O desafio, naturalmente, existe. O importante agora é
tentar domá-lo.

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Jornalista, diretor de conteúdo do portal Terra