Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

A internet na origem desse tsunami

A Motorola é uma das empresas com maior tradição nas comunicações sem fio no mundo. Ainda nos anos 1930, a empresa já criava os primeiros veículos dotados da radiocomunicação com os quais a polícia de Chicago tentava enfrentar os gângsteres de Al Capone e a máfia noutras cidades norte-americanas, nos duros tempos da Depressão.

Até os anos 1990, a Motorola disputava fatias expressivas do mercado mundial de telecomunicações, em especial, na área de telefonia móvel celular. A grande ameaça a essa empresa veio com a internet, muito mais do que com o processo de digitalização e da microeletrônica.

A internet, aliás, tem causado ao longo das últimas duas décadas a maior revolução tecnológica no mundo das comunicações, da informática e da eletrônica. Nesse aspecto, a indústria de telecomunicações tem sido aquela que mais profundas transformações sofreu nestes 20 anos, em especial, em decorrência do impacto do protocolo IP (o Internet Protocol) nos sistemas de transmissão e comunicação de dados.

Toque de mobilidade

Foi o protocolo IP que, a rigor, mudou radicalmente o paradigma até então dominante nas centrais telefônicas e de comunicação de dados. Empresas como o Google, Yahoo, Amazon ou Facebook não existiriam sem essa tecnologia IP e sem a disseminação global da internet.

Quem poderia imaginar um sistema de armazenamento como o do Google com trilhões de páginas virtuais armazenadas em centenas de supercomputadores?

Além da onda ascensional da internet, essas mudanças criaram também as condições para a ruptura ainda mais violenta da bolha das telecomunicações, no ano 2000 – que levou de roldão gigantes como a antiga AT&T e a Nortel, entre outras. A AT&T foi reduzida a apenas uma marca famosa, que foi adquirida pela Southwestern Bell Corp. (SBC). A Lucent só foi salva pela incorporação à Alcatel. A NEC japonesa encolheu e diversificou suas atividades.

A própria Motorola vinha enfrentando dificuldades crescentes na competição mundial com gigantes que não tinham nenhuma tradição no mundo das comunicações móveis – como a Apple e o próprio Google.

O que atrai as novas megacorporações do mundo do entretenimento eletrônico e da internet é a mobilidade, num mundo que quebrará no segundo semestre deste ano a barreira dos 6 bilhões de celulares. Mais do que os simples telefones móveis do passado, eles se transformam em smartphones, com capacidade de recepção de dados, de conteúdos da web e da televisão. E, por último, os tablets, liderados pelo iPad, da Apple.

Briga de foice

A grande força do Google nesse novo mundo da mobilidade está no sistema operacional Android, que cresce à taxa absurda de 300 mil novos celulares por dia. É provável que o mundo só tenha dois grandes sistemas operacionais para smartphones e tablets dentro de dois anos: o iOs, do iPhone, de um lado, e o Android, de outro.

A partir de agora, a Motorola passará a fornecer ao Google a capacidade de competir com a Apple, aparelho por aparelho, dispositivo por dispositivo, tablet por tablet. Será uma guerra de gigantes da era digital.

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[Ethevaldo Siqueira é jornalista e colunista do Estado de S. Paulo]