Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A polêmica da vinculação de serviços

A tentativa do Facebook de “transformar” a mídia mundial firmando vínculos com operadoras no setor de música digital, vídeo e serviços de notícias repercutiu a um só tempo bem e mal entre usuários e executivos no setor.

Serviços de “streaming” (transmissão) de música, como Spotify, MOG e Deezer, estão se interconectando ao Facebook, apostando que o site pode ter êxito onde o MySpace malogrou: vincular as redes sociais à descoberta e consumo de música.

Os usuários poderão ver quais músicas seus amigos estão ouvindo e clicar em um link para ouvi-las junto. Se os aplicativos tiverem permissão, as músicas tocadas e vídeos assistidos serão enviados, em tempo real, para os amigos do usuário e para um “log” (registro) de atividades no Facebook.

“Estamos muito animados”, disse Gustav Söderström, diretor de produtos do Spotify. “Nós achamos que esta é a primeira manifestação de um ‘ente musical social’.”

Axel Dauchez, executivo principal da francesa Deezer, disse que o MySpace “está articulando adequadamente o aspecto social do mundo da música”, mas, em contraste com a plataforma do Facebook, falta-lhe uma “solução verdadeira musical” que impulsione tanto compras quanto “degustações musicais”.

A Deezer planeja aproveitar o alcance mundial do Facebook – que reúne 800 milhões de usuários – como trampolim para seu lançamento em mais de cem países, antes do fim do ano, e Dauchez espera atrair “dezenas de milhões” com um teste gratuito de duas semanas.

“Impossível escapar”

Alguns observadores sugeriram que os recursos do Facebook revelados nesta semana poderão constituir uma ameaça à Apple, cuja combinação de iTunes e iPod tem dominado as vendas de música digital.

“A Apple estava tentando dominar o mercado por meio de aparelhos”, disse Simon Mansell, presidente-executivo da TBG Digital, uma agência de marketing do Facebook.

Mas Adam Kidron, fundador da Beyond Oblivion, que planeja lançar um serviço de música digital, o Boinc, neste ano, advertiu sobre a concessão de poder excessivo ao Facebook. “O verdadeiro valor do conteúdo está em motivar o comportamento social, em vez de andar a reboque dele”, disse Kidron.

Além de integrar operadores de serviços de entretenimento, o Facebook planeja transformar seus perfis – de uma lista de atualizações para um álbum virtual – englobando toda as suas vidas – incluindo eventos ocorridos antes da criação do site, em 2004 – num recurso denominado “Timeline”.

Mas, alguns usuários estão perplexos diante das mudanças em seu “canal noticioso” e perfis pessoais – dois dos elementos centrais do Facebook. Chris Applega, da empresa de consultoria We Are Social, disse que o “Timeline” é a “gota que fez transbordar sua tolerância”. Ele removeu seu perfil no Facebook.

“É impossível escapar de seu passado. Tudo o que você já fez e registrou, ou seus amigos o fizeram, digitalmente, agora pode ser oferecido de forma digital como ‘Esta é a Sua Vida’.”

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[Tim Bradshaw é do Financial Times, em Londres]