Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A robotização do jornalismo

A informação tresloucada e impertinente foi publicada no Comunique-se, site visitado por jornalistas. Parece-me que já foi escrita por um robô, tal o nível acrítico da notícia. Como poderá ser lida e avaliada abaixo, pois faço questão de reproduzir na íntegra a patacoada, o(a) escriba da notícia não se lembrou de algumas variáveis da profissão de jornalista, como repórteres, editores, fotógrafos, mas considerou que jornalista apenas “escreve” notícias.

Se a gente for considerar apenas o jornalismo “moderno” – o do seleciona, copia e cola – pode ser que o futuro seja da maneira prognosticada pelo “cientista” citado na reportagem. Não vai mudar nada. Até porque, alguns jornalistas hoje em dia só fazem isso, escrevem notícias, reportadas de algum lugar da internet. Curiosamente, a frase final da matéria revela o tom: “O mundo das notícias vai se expandir. Os jornalistas não vão precisar escrever reportagens a partir de dados. Tudo será feito por máquinas.”

Claro, não serão mais necessários “dados”, nem repórteres. As “notícias sem dados” nem precisarão de editores, nem de fotos ou ilustrações. A previsão do cientista teria mais verossimilhança se afirmasse que, em contato excessivo com os computadores, os profissionais em geral ficarão tão burros quanto as máquinas, especialmente os jornalistas.

Cá comigo, agradeço a Deus, diariamente, por ter me trazido a este mundo antes do generalizado emburrecimento atual. De toda forma, sinto cansaço ao observar que a desconexa teoria darwiniana seja desmentida, pois mostra involução de fato na espécie dita humana. Há uma lógica nisso: a involução das espécies tem hora que dá merda. Costumo sugerir a amigos que não sejam politicamente corretos como segurar a própria flatulência, pois a prática tem seus perigos: os gases sobem pela coluna vertebral, chegam ao cérebro, nascendo daí as ideias de merda.

Abaixo, a notícia acima comentada

“Em 15 anos, 90% das notícias serão escritas por robôs, afirma o cientista-chefe da empresa Narrative Science, Kristian Hammond. Ele prevê que em 15 anos 90% das notícias serão escritas por máquinas com conteúdo narrativo automatizado. Não é só o profissional que tem essa visão. Em reportagem para a BBC, a consultoria Boston Consulting Group afirmou que até 2025 um quarto dos empregos será substituído por robôs, incluindo a função dos jornalistas.

A reportagem da BBC reúne a previsão de diversos estudos sobre o futuro de algumas profissões. De modo geral, a Universidade de Oxford, no Reino Unido, aponta que 35% dos atuais empregos no país correm o risco de serem automatizados nas próximas duas décadas. A BBC criou lista com as carreiras “ameaçadas”, como motorista de táxi, operários de fábrica, médicos, barman e, claro, jornalistas.

A possibilidade de que robôs escrevam textos no lugar de profissionais da comunicação não é nova. No ano passado, o portal Comunique-se falou sobre estudo que mostra como as máquinas produzem conteúdo. O professor de mídia e comunicações da Karlstad Universitet (Suécia), Christer Clerwall, fez pesquisa com 46 alunos da graduação de jornalismo, que avaliaram textos escritos por jornalistas e robôs.

A avaliação final mostrou que, das 27 pessoas que responderam o questionário, 10 disseram acreditar que um jornalista era o autor da nota feita de maneira eletrônica. Dos 18 entrevistados que leram a matéria escrita por um profissional, 10 arriscaram ao dizer que tinha sido escrita por um programa. O chefe-cientista Hammond não acredita, entretanto, que essa possibilidade tecnológica tire o emprego dos profissionais da imprensa. Para ele, o momento pode significar que jornalistas vão ampliar o campo de atuação. “O mundo das notícias vai se expandir. Os jornalistas não vão precisar escrever reportagens a partir de dados. Tudo será feito por máquinas.”

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Richard Jakubaszko é jornalista e autor de um blog pessoal.