Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

“Anarquia” prejudica imprensa, diz correspondente

De acordo com o correspondente do New York Times no Iraque, Dexter Filkins, hoje os jornalistas correm perigo em qualquer região do país, tornando muito difícil o exercício da profissão. Filkins, um dos repórteres mais respeitados e há mais tempo no Iraque desde a invasão americana de 2003, afirmou que 98% do território iraquiano, incluindo a maior parte de Bagdá, tornaram-se áreas que não podem ser acessadas por jornalistas ocidentais. Segundo ele, muitas situações tornaram-se extremamente perigosas para serem cobertas até mesmo por repórteres iraquianos.

Filkins descreveu o clima atual como uma “anarquia” e, na opinião dele, o país já está vive uma guerra civil. Por isso, ele aconselha repórteres de jornais pequenos que pensam em ir ao Iraque – sem o dinheiro e o suporte dados pela grande mídia – para que desistam. “Não podemos ir mais cobrir explosões provocadas por carros-bomba, por exemplo”, observa, alertando que sair do carro já constitui risco de ataques e seqüestros para os jornalistas ocidentais.

Violência crescente

Diante de tal panorama, o NYTimes depende cada vez mais da sua equipe de 70 iraquianos para ir às ruas apurar as notícias. De acordo com Filkins, os jornalistas iraquianos, tanto sunitas quanto xiitas, fazem “tudo” e são bem pagos – para os padrões locais – pelos seus esforços. No entanto, estes profissionais vivem em constante medo e não revelam para seus conhecidos que trabalham para a mídia, pois isto poderia lhes custar a vida. “A maior parte dos iraquianos que trabalham para nós não conta nem para suas famílias”, diz Filkins. “É terrivelmente perigoso para eles”.

Segundo o correspondente, há cerca de 50 assassinatos e de 20 a 30 seqüestros por dia em Bagdá. “Ninguém confia mais em ninguém”, afirma. Por isso, o NYTimes está gastando grandes quantias em dinheiro apenas para manter suas operações com segurança no país. Além dos 70 repórteres locais e tradutores iraquianos, o jornal emprega 45 seguranças em tempo integral para vigiar seus dois escritórios. Os jornalistas também contam com três veículos blindados e, para incentivar a permanência dos cinco repórteres americanos que estão lá, a cada mês eles recebem uma quantia extra de dinheiro.

Os jornalistas americanos passam os dias reunindo informações coletadas pelos repórteres iraquianos para escrever suas matérias sobre o cotidiano do país. “Leva muito tempo para apenas cinco pessoas realizarem este trabalho”, diz Filkins. Segundo ele, tal situação não é exclusiva dos repórteres: os soldados americanos raramente deixam suas bases e não interagem muito com os iraquianos. “Ninguém tem um panorama real da atual situação no país”, opina. Informações de David S. Hirschman [Editor & Publisher, 15/9/06].