Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Anonimato embala campanha virtual

Quando as mensagens de José Pedro Penedo ou Márcia Gonçalves da Silva aterrissam numa caixa postal eletrônica, o resultado não falha: lá vem chumbo grosso.


O alvo preferencial de seus conteúdos ácidos é a cobertura que a ‘grande imprensa’ dedica ao governo Lula e à candidata Dilma Rousseff, vista por eles como tendenciosa.


José Pedro e Márcia não estão sozinhos nesta jornada. Formam, com Octavio Vitagliano, Fernanda Alves Durão e outros tantos, uma tropa de choque virtual que infesta a internet com mensagens de conteúdo político. Tudo dentro do espírito democrático da web, não fosse um detalhe: José Pedro, Márcia, Fernanda e os demais provavelmente não existem. São, como se diz no mundo da rede de computadores, virtuais, produtos de um tipo de propaganda política, anônima e mordaz, que cria raízes para a campanha eleitoral deste ano.


No livro A história da imprensa no Brasil, o escritor Nelson Werneck Sodré, ao analisar os pasquins da primeira metade do século XIX, sustenta que uma de suas características era o anonimato. Pseudônimos e apelidos, como ‘Martelo’ e ‘Malagueta’, eram usados para desfechar ataques a adversários, muitas vezes recheados de xingamentos e difamação. Ao entrar em cena, José Pedro e sua turma resgatam, protegidos pelo anonimato na era digital, os panfletos que marcaram os embates políticos da monarquia.


Na sexta-feira (9/4), enquanto essa reportagem era escrita, entrava na caixa de correio de um dos autores mais uma mensagem da tropa, assinada por Márcia Gonçalves da Silva. Exibia uma pequena introdução – ‘Ainda sobre a mentira da Folha que foi repercutida no Estadão e sei lá mais aonde, mando a coluna do Lindenberg do jornal Hoje em dia’ – seguida do comentário postado por Carlos Lindenberg, no site do ‘Hoje em dia’, com críticas à cobertura da mídia sobre a entrevista de Dilma à Rádio Itatiaia, em Belo Horizonte. Nela, a ex-ministra fala da possibilidade de dobradinha com o governador mineiro Antonio Anastasia, do PSDB.


A mensagem de Márcia foi a 26ª enviada pela tropa virtual nas últimas três semanas. Como as demais, repetia um padrão: seu remetente é um suposto usuário cadastrado no Gmail; reproduz um texto fisgado na própria internet e o encaminha ponta-a-ponta (remetente-destinatário), e não para grupos de usuários, como os spans. Os textos distribuídos são, geralmente, de autoria de jornalistas e cientistas políticos identificados com a política governamental.


Alguns deles, inclusive, escrevem tais textos em sites patrocinados por instituições governamentais.