Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Cerca de 70% dos brasileiros ativos no Facebook se informam pela rede social

Quando a internet começou a ser disponibilizada comercialmente para a população brasileira, na segunda metade da década de 90, surgia a principal revolução midiática da história capaz de romper com as estruturas tradicionais de disseminação da informação predominantes até então. Assim, entramos no século 21 com o ambiente virtual modificando consideravelmente os hábitos de consumo de conteúdo.

Vimos nascer redes sociais, como Orkut, Twitter e Facebook, sites de vídeos, como YouTube, e programas de chat, como Messenger e Skype, além de milhares de blogs e sites, elevando a web a um patamar ímpar na circulação de informação. Tantas ferramentas de liberdade e empoderamento começaram a preocupar os grupos de comunicação que reinavam há décadas como os únicos detentores legítimos do papel de informar.

 

ranking_noticias_facebook

 

Pois bem, o gráfico acima, produzido pela Quartz – agência norte-americana que divulga notícias sobre a nova economia global – mostra o ranking mundial dos países que mais consomem notícias por meio do Facebook. O Brasil aparece em primeiro lugar, com 67% de sua população buscando informação, prioritariamente, na rede social. Também ocupamos a liderança na utilização do Facebook para fins diversos, com 80%.

Algumas pessoas arriscarão dizer, precipitadamente, que a formação educacional precária da sociedade brasileira contribui para um cenário de superficialidade informativa, uma vez que países como Alemanha, França e Japão possuem índices baixos de buscas de notícias pelas redes sociais. Ou seja, em vez de ler uma revista semanal ou abrir um jornal, o brasileiro recorre aos meios digitais, práticos e acessíveis na palma da mão, e acaba esbarrando com frivolidades e informações inconsistentes.

Uma comunicação mais horizontal

Indubitavelmente, em meio a milhares de posts, páginas, blogs e sites, o ambiente virtual está repleto de conteúdos que não seguem uma apuração crítica. De outro modo, isso não quer dizer que não existam produções independentes com qualidade superior à de muitos jornais, telejornais e revistas. Diante desse cenário, a discussão dentro dos veículos de comunicação precisa ser em torno da reinvenção das técnicas jornalísticas e a eficaz apropriação da internet e das redes sociais. Até para se sustentarem como modelo de negócio, as empresas precisam aceitar que insistir na manutenção do conservadorismo é empurrar o jornalismo para uma crise ainda mais dramática.

Diferentes estudos já haviam evidenciado a transformação do fluxo informativo neste país cada vez mais conectado. A pesquisa “Democratização da Mídia”, divulgada em 2013 pelo Núcleo de Estudos e Opinião Pública (NEOP) da Fundação Perseu Abramo, mostrou que a internet é a fonte primária na busca de informações e notícias para 68,6% da população. Já o estudo Trust Barometer 2015, elaborado pela empresa de relações públicas Edelman Significa, revela ainda que, no Brasil, as ferramentas de buscas na internet aparecem em primeiro lugar em nível de confiança.

Vale ressaltar, no entanto, que o Facebook, assim como o Google, não é um produtor de conteúdo, mas sim, um disseminador de materiais elaborados por terceiros. Dessa forma, o Facebook funciona como um feed de notícias, grande parte delas proveniente da própria imprensa tradicional. Dessa forma, então, as pessoas estariam utilizando somente outro caminho para chegarem às mesmas fontes, certo? Errado.

A internet possibilita uma nova lógica do fazer jornalístico, por meio de uma comunicação mais horizontal. Se, por um lado, ela permite que qualquer cidadão seja produtor de informação, por outro não é mais necessário que os jornalistas profissionais estejam dentro de uma redação de um veículo da grande imprensa, com todas as suas barreiras, para “produzir e disseminar conteúdo – e até prosseguir nas histórias ignoradas pela mídia tradicional” (VIANA, 2013, p. 17).

Imprensa tradicional não acompanha o dinamismo

Apesar de muitos veículos utilizarem – inadequadamente – as redes sociais para divulgarem seus materiais, eles concorrem com a diversificação das fontes independentes, grande trunfo do sucesso da informação online. Ao contrário do que ocorre na imprensa tradicional, múltiplas vozes gritam no âmbito da web, atraindo um público que está continuamente em busca de representatividade, interação e de uma informação mais personalizada.

Prova disso é o surgimento, cada vez mais comum, de coletivos autônomos de comunicação. Sites, blogs e páginas em redes sociais voltadas para cidades, bairros e até favelas proliferam-se pelo país e desempenham uma função de divulgadores de uma realidade que nem sempre encontra espaço nos principais jornais. Com isso, a imprensa brasileira vem perdendo força ao longo dos anos e, em 2015, chegou à penúltima posição em nível de credibilidade, como aponta o estudo Trust Barometer. Já o último lugar dessa lista foi conquistado pelo governo.

Perante esses dados, talvez seja possível concluir que o brasileiro encontrou, enfim, na internet uma comunicação em rede e personalizada, com conteúdos que dialogam com a sua realidade. A imprensa tradicional ainda não acompanha esse dinamismo e “em vez de ver a web como um novo meio, com características próprias, as empresas tradicionais a encaram como uma nova ferramenta para distribuir conteúdos, originalmente produzidos em outros formatos” (ALVES, 2006, p. 94).

Não há uma fórmula consolidada

Jornais, telejornais e revistas tornam-se, assim, um pacote limitado de notícias pré-selecionadas, baseando-se em critérios subjetivos de relevância. A crescente busca por informações nas redes sociais impõe uma urgente adaptação dos métodos de trabalho. “Na lógica que a internet está criando, não tem sentido que eu escute algo que não escolhi. Se vou escutar um pacote de notícias, será um pacote que eu forme, de acordo com meus interesses, para ser consumido na hora que eu quiser, onde eu quiser” (ALVES, 2006, p. 97).

O caminho está aberto e a revolução tecnológica a todo o vapor. Não há diretrizes certas ou erradas a serem ou não seguidas, o que há são profissionais tateando e tentando compreender os rumos do jornalismo na era digital, seja na televisão, no rádio ou no jornal. O que já se sabe é que a participação ativa que a internet confere ao público levará ao descobrimento de novos padrões para o exercício da profissão. Ainda não há uma fórmula consolidada, mas, sem dúvida, o público terá um papel fundamental nas decisões desses padrões daqui para a frente.

Bibliografia

ALVES, Rosental Calmon. (2006) “Jornalismo digital: Dez anos de web… e a revolução continua”. In: Comunicação e Sociedade. v. 9-10. pp. 93-102

VIANA, Natalia. (2013) “O WikiLeaks e as batalhas digitais de Julian Assange”. In: Cypherpunks. São Paulo: Boitempo. pp. 9-18

Pesquisa Edelman Trust Barometer 2015, elaborada pela empresa de relações públicas Edelman Significa. Disponível em: http://pt.slideshare.net/EdelmanInsights/2015-edelman-trust-barometer-global-results?related=1

Pesquisa Democratização da Mídia 2013, elaborada pelo Núcleo de Estudos e Opinião Pública (NEOP), da Fundação Perseu Abramo. Disponível em: http://novo.fpabramo.org.br/sites/default/files/fpa-pesquisa-democratizacao-da-midia.pdf

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Paulo Roberto Junior é jornalista, atualmente trabalhando no jornal O Globo