Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Cláudia Marques

‘Provedores pagos e gratuitos oferecem novos atrativos na web. Depois da disputa por acessos rápidos e melhores conteúdos, agora parece ser a vez de os serviços oferecidos na web se consolidarem como a mais recente arma da concorrência entre os provedores de internet – abrindo espaço para uma batalha paralela entre provedores pagos e gratuitos.

O caminho para a busca de bons resultados no mundo digital não pretende apenas conseguir a migração de usuários de acesso de um provedor para outro, mas atrair clientes de outros provedores com ofertas específicas e preços mínimos e até, muitas vezes, gratuitas. ‘Entre esses serviços estão mais espaço no e-mail e pacotes de segurança’, afirma Roberto Almeida, vice-presidente de marketing da Pop – provedora gaúcha gratuita, que opera em dez estados e acaba de entrar no mercado paulistano. O Pop colocou, na quinta-feira passada, à disposição dos usuários, 150 Mb de espaço para cada usuário, dos quais 100 Mb para caixa de e-mails e 50 Mb de espaço para homepage, para armazenar textos, imagens, vídeo e som – considerado o maior espaço do mercado.

O iG e o Terra também oferecem serviços de armazenamento de dados do.

O iG e o Terra também oferecem serviços de armazenamento de dados s ‒ atualmente uma necessidade básica no mundo empresarial. Trata-se de um disco virtual que permite o armazenamento de vários arquivos, que podem ser acessados pela internet de qualquer máquina e de qualquer lugar.

‘Os sistemas de segurança também têm agitado o mercado de internet’, afirma Emílio Munaro, diretor presidente da Network Associates. A maioria dos websites oferece antivírus, antispam, antipop-up e firewall. No entanto, os ataques do MyDoom, que causaram cerca de US$ 22 bilhões de prejuízos, nas duas últimas semanas, colocaram o item segurança como um dos carros-chefes dos serviços mais cobiçados. ‘Em quinze dias de ataques, o número de assinantes do E-mail Seguro, que era de 120 mil pessoas, triplicou’, informa Humberto de Campos, diretor de produtos pagos do iG.

Na semana passada, a Network Associates e o Terra Lycos inovaram ao assinar um acordo de proteção para oferecer aos usuários um pacote de segurança on-line que não usa o download, e segundo Munaro, deve aumentar o faturamento local da Network Associates em 15%, em 2004. ‘O usuário pede o serviço, que será debitado na cota do Terra. Ele receberá um e-mail com um link, que instalará um agente de 3 megas de tamanho, oferecendo proteção à distância, sem ter de se preocupar com atualização, costumização, ou com as constantes interrupções’, afirma Munaro.

O que não falta ao internauta é variedades de ofertas. O Uol oferece 42 estações temáticas e mais de 1.000 diferentes canais de notícias, informação, entretenimento e serviços. Em menos de seis meses, mais de 10 diferentes categorias de serviços ficaram à disposição nos principais provedores no Brasil. O Terra lançou uma seção de jogos e entretenimentos para crianças, a Conexão Disney, em que os internautas mirins, depois de entrar nos joguinhos, não conseguem navegar por outros sites na internet, informa o diretor de produtos Fabiano Ferreira. O Pop informa o diretor de produtos Fabiano Ferreira. O Pop ‒ com apenas um ano de existência ‒ pretende entrar na região Sudeste e ampliar de 1,4 milhão de usuários para 2,5 milhões lançando serviços novos quinzenalmente. Um investimento de R$ 20 milhões, conta Almeida, vice-presidente de marketing.

Outra tendência do mercado da web é conquistar um segmento que há tempos desejava ser contemplado no universo de serviços da internet a internet ‒ o corporativo. O iG saiu na frente com uma série de serviços. ‘Uma delas é o iJ – portal para pequenas e médias empresas -, que possui ferramentas para alavancar os negócios e facilitar o cotidiano dos empreendedores’, diz Campos. O iJ, alusão à pessoa jurídica, traz agenda com o dia de vencimento de impostos e auxilia na criação de sites na internet. Segundo ele, o iJ possui 370 mil empresas cadastradas. ‘Oferecemos uma rede de negócios que permite a consulta dos cadastros de fornecedores e possíveis compradores de todo o País, e fazer negócios pela web’, afirma.

Além disso, o iJ oferece o Cheque seu Cheque. Para realizar a consulta basta preencher dados sobre o cheque, como o CPF ou CNPJ do emitente, além dos números do banco, agência e conta corrente, entre outros. O resultado é obtido no ato. É possível saber se o nome consta do cadastro negativo e se o cheque é bom, se não foi roubado ou extraviado, conclui Campos.’

 

INTERNET SOB ATAQUE

Paulo C. Barreto

‘Vírus: onde estão os aproveitadores?’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 5/02/04

‘O ilustre usuário está de cabeça quente. Tem recebido um monte de e-mails esquisitos e acha que pode ter sido infectado pelo tal vírus MyDoom. Pelo que leu nos jornais, o usuário aprendeu que o MyDoom se espalha tipicamente através de mensagens com assunto ‘Hi’. (Abre parênteses. O Brasil foi um dos países mais devastados pelo MyDoom. Para um povo que, a exemplo de seu governo, se orgulha de não ser puxa-saco dos malditos ianques, até que uma interjeição inglesa de duas letras fez um belo estrago, hein? Fecha parênteses.) E também soube que o espalhador do MyDoom é um usuário como ele mesmo, que, feliz em seu Kazaa 24 horas, nem percebe que sua máquina contaminada virou um robozinho de redistribuição do vírus.

Isto posto, começa a avalanche colateral de consumidores de tempo e de paciência: os avisos do tipo ‘Um disallowed attachment type foi encontrado numa mensagem de e-mail que acabou de ser enviada por você. Este scanner de e-mail a interceptou e impediu a mensagem de chegar no seu destino.’

Disallowed o quê? O destinatário, orgulhosamente monoglota além do ‘Hi’, não entende, mas sabe que não enviou intencionalmente nenhuma mensagem contaminada. A dúvida o consome: O alerta é sério? Meu micro estará contaminado mesmo? Será que o próprio alerta não é um vírus muito bem disfarçado? Como um Chacrinha de bits e bytes, o alerta veio para confundir, não para explicar.

A mensagem de alerta vem com um endereço verossímil do administrador do provedor XYZ como remetente, apresenta um endereço do provedor ZXY como possível destinatário do seu vírus e reproduz até o cabeçalho da mensagem que você teria enviado. Porém, um exame detalhado revela o logro. Primeiro, o tal cliente do provedor ZXY é desconhecido: ele não entrou na lista de endereços do Windows nem acidentalmente. Segundo, o cabeçalho não reflete a realidade do trajeto de uma mensagem real: é muito resumido e só se baseia nos próprios endereços de origem e de destino.

Mesmo depois de destrinchar o alerta, é quase impossível ao usuário resistir a tentação de visitar os sites XYZ e ZXY para ver se tem algo a ver com eles. Dessa forma, ou XYZ e ZXY aproveitaram a paranóia do MyDoom para bolar um spam bem disfarçado e quase impossível de se escapar, ou os adversários armaram o spam exatamente para corroer a reputação de XYZ e ZXY.

Esse não é um caso isolado. Podemos esperar cada vez mais fajutices com títulos como ‘Seu e-mail está contaminado’, aumentando a tendência do usuário a dispensar de antemão qualquer mensagem do gênero. Afinal, a fronteira entre a verdade e o trote está se dissolvendo. É como se não houvesse mais jeito de se saber qual é o Rolex verdadeiro e qual é o relógio do camelô. É aí que entra a questão do caldo de cultura que alimenta vírus e antivírus.

A Usenet, rede de troca de mensagens públicas muito querida nos tempos da Internet universitária-megacorporativa, tornou-se tão inundada de spam, vírus, pedofilia e arquivos fajutos que virou uma irrelevância. Provedores comerciais têm medo de oferecer acesso à Usenet, com razão. O usuário comum sente tanta falta da Usenet (hein?) quanto do Gopher (do que você está falando?) ou do browser em texto puro (isso existia?).

O e-mail está indo para o brejo pelo mesmo caminho. Para se vender antivírus que protejam e-mail, é preciso que o próprio ambiente do e-mail seja levado minimamente a sério. Quando todas as mensagens sérias trafegarem fora do sistema de e-mail que conhecemos hoje, o que os vírus terão a infectar? E o que os antivírus protegerão?

No entanto, tão antigo na informática quanto o temor dos vírus é a suspeita de que os antivírus têm algo a ver com a criação das pragas virtuais. Epidemias como a do MyDoom sempre animam os comentaristas especializados a tirar do congelador essa espécie de teoria, como ocorreu a dois ilustres colunistas do Globo. Primeiro, em seu blog (http://oglobo.globo.com/online/blogs/cat/ – requer cadastro grátis), Carlos Alberto Teixeira constrói seu raciocínio de suspeita sobre as empresas antivírus ao afirmar qual é a primeira coisa que fará o usuário que suspeita ter vírus: ‘Óbvio: providenciar um programa antivírus para ter certeza que está limpo.’

Em 3 de fevereiro, na coluna Conexão Global (http://oglobo.globo.com/jornal/colunas/ – requer registro grátis), Nelson Vasconcelos faz ironia com a própria tese que esposa, ao tratar da ‘tecnologia que nunca será suficiente mesmo, considerando-se a eterna evolução de vírus e antivírus. Ou será a ordem inversa? Não, não… seria muita maldade, e a Humanidade está longe de fazer dessas coisas.’

Os dois escrevem o que os leitores desejam acreditar. Sabem o quanto o cachimbo entortou a boca do leitor típico. Bem informados, os colunistas sabem o que são ‘redes nômades’, o que, no mínimo, renderia uma boa discussão sobre quem mais se interessaria em sabotar o sistema de comunicação mais livre que existe. Mas o leitor não aceita nenhuma explicação de terrorismo digital que não lance culpa sobre as megacorporações transnacionais capitalistas. Não por acaso, o título da coluna de Vasconcelos é ‘Um bom negócio’, referência aos 2,3 bilhões de dólares do mercado de antivírus no ano passado. É tanta gente usando esses guardiões digitais que o ‘óbvio’ de CAT acaba parecendo óbvio mesmo. Na verdade, não há consenso.

A eficácia dos antivírus é sempre relativa; seu preço, no sentido mais amplo do termo, é absolutamente alto. Se desatualizado, é inútil. Se atualizado, é incapaz de rodar em máquinas antigas. De qualquer forma, rouba precioso poder de processamento da máquina, assegurando que o usuário perca tempo em seu cotidiano — mas sem garantir que o computador seja uma fortaleza inexpugnável contra os novos vírus que surgem a cada dia. Diante disso, não são poucos os usuários que rejeitam os antivírus completamente (como o colega Alexandre Cruz Almeida na nota ‘Diga não à hipocondria’ em http://www.tribuna.inf.br/anteriores/2003/janeiro/09/bis.asp?bis=cultura03). Tendo sido avisados dos riscos, preferem assumi-los como gente grande do que cair no atoleiro da guerra vírus/antivírus ou botar a culpa de sua desgraça na orquestração de um punhado de arquetípicos charuteiros vestidos em ternos Armani.

Isso tudo, pelo menos enquanto existir e-mail. Rezem.’

 

João Luiz Rosa

‘Mydoom fracassa na tentativa de tirar Microsoft do ar’, copyright Valor Econômico, 4/02/04

‘Surgido na segunda-feira passada, o vírus de computador Mydoom parecia invencível até ontem. Parecia. Um dia depois de tirar do ar o site da companhia americana de software SCO, a praga eletrônica tinha como alvo fazer o mesmo com o principal endereço eletrônico da Microsoft. O início dos ataques estava previsto para às 10 horas da manhã – horário de Brasília. Até o começo da noite, porém, o site da gigante americana continuava no ar, sem problemas de conexão. O vírus, desta vez, falhou.

‘Há dias a companhia trabalha dia e noite para manter o site sem interferências’, diz Anna Carolina Aranha, gerente de segurança da Microsoft Brasil. A estratégia para reforçar a infra-estrutura de rede e rechaçar o ataque é mantida em segredo, conta a executiva.

Uma das medidas que estavam previstas era redirecionar os usuários do ‘Windows Update’ – o serviço on-line de atualização dos softwares da companhia -, para outros endereços, caso os consumidores enfrentassem problemas no site central. Isso reduziria o número de acessos ao site, ajudando a evitar o congestionamento da página. Como o acesso se manteve normal, ainda não se sabia se a estratégia precisou ser colocada em uso, diz Carolina. ‘De qualquer forma, a medida estava mais voltada para garantir o acesso do usuário do que em reduzir o número de conexões ao site’, afirma.

Na segunda-feira, muitas empresas especializadas em segurança de rede, como a Sophos, já previam que a Microsoft tinha grandes chances de escapar do Mydoom. O vírus preparado para atacar a companhia de Bill Gates é o Mydoom.B, uma variante do original, cujo alvo é a SCO. Como apareceu depois, quando boa parte das empresas e usuários residenciais já estava preparada, o grau de infecção foi bem menor, o que reduziu o grau de risco do vírus. Segundo a empresa Mi2G, do Reino Unido, a proliferação do Mydoom.B representava, no início da semana, menos de 10% do índice global de contaminação do Mydoom.A.

O número de computadores infectados no mundo varia muito de acordo com as empresas de antivírus. É consenso, no entanto, que o Mydoom já é a praga virtual de mais rápida disseminação na história da internet. Pode, também, confirmar-se como a mais prejudicial. Segundo a Mi2G, os prejuízos globais chegam a US$ 38,5 bilhões.’