Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Clóvis Rossi

‘Por fim, neste mundo dominado pela imagem, alguém resgata o valor e o peso da palavra escrita, ainda que por vias tortas.

Refiro-me à condenação à fogueira, retoricamente falando, do livro ‘O Código da Vinci’, de Dan Brown, por parte da Igreja Católica.

A palavra escrita tem de ser mesmo muito poderosa para fazer mexer-se a máquina do Vaticano a ponto de provocar uma espécie de recaída na Inquisição,

É verdade que não se condenou o autor à fogueira, mas o cardeal Tarcisio Bertone pede que o livro não seja lido, porque, em sua opinião, contém ‘graves mentiras e manipulações’ sobre a história da igreja e o papel de Jesus.

Para quem não é um dos 25 milhões de leitores do ‘Código’, informo que a ira da igreja se deve ao fato de que o livro afirma que Jesus Cristo casou-se com Maria Madalena, que seria um dos 12 apóstolos e, ainda por cima, que teve um filho com ela.

O autor deixa claro que se trata, como é óbvio, de pura ficção. Mas, pelas dúvidas, fui rever a reprodução de ‘A Última Ceia’ de Da Vinci na velha Bíblia que temos em casa e, de fato, a figura ao lado de Cristo à mesa tem todos os traços (e os cabelos) de mulher, tal como diz Dan Brown. Não prova nada, mas é curioso.

Se tivesse talento para escrever, não poderia imaginar propaganda maior para qualquer texto meu do que uma reação dessas de parte de uma instituição como a igreja.

Tom Hanks, que será o ator principal do filme baseado no livro, também deve estar feliz da vida.

De alguma forma, a reação da igreja resgata também o ofício de jornalista, tão atacado. Se a Bíblia, a palavra dos santos e o primeiro jornal d.C., ainda consegue provocar polêmicas como essa, o que esperar dos pobres mortais que escrevem de um dia para o outro ainda sob o calor das paixões do momento?’



O Estado de S. Paulo

‘Não se deve ler ‘O Código da Vinci’, diz Vaticano’, copyright O Estado de S. Paulo, 16/03/05

‘O Vaticano rompeu, ontem, o silêncio sobre um dos livros mais vendidos no mundo, O Código da Vinci, do americano Dan Brown. ‘Não o leiam nem o comprem’, pediu o influente e papável cardeal Tarcisio Bertone, arcebispo de Gênova.

O livro, com 20 milhões de exemplares vendidos, foi qualificado como ‘um castelo de mentiras’ pelo cardeal. ‘Não se pode escrever uma novela que deforma os feitos históricos, maldizendo ou difamando personagens que devem seu prestígio e sua fama justamente à história da Igreja, da humanidade’, disse Bertone.

O cardeal, que organizou para hoje uma conferência em Gênova sobre as inexatidões do livro, foi membro da Congregação para a Doutrina da Fé, encarregada de defender a ortodoxia católica. ‘O livro já começou a circular nas escolas como um novo modelo, querem ler para entender a dinâmica da história e todas as manipulações que a Igreja teria cometido’, afirmou, indignado, Bertone.

O cardeal sustenta que existe uma estratégia mundial para ‘divulgar no mundo esse castelo de mentiras’. O livro, publicado em 2003, e que inspirou um filme que será lançado no ano que vem, narra as investigações do professor e especialistas em simbologia Robert Langdon para descobrir um enigma criminal, em que está envolvida a organização católica Opus Dei e sociedades esotéricas anticlericais.

AUDIÊNCIA

O papa João Paulo II não participará da audiência-geral da quarta-feira, por causa de sua recuperação, disse o Vaticano, dois dias depois de ele ter tido alta do hospital. A Santa Sé não informou qual será a programação do papa para os próximos dias, embora tenha confirmado que ele participará da tradicional bênção do Domingo de Páscoa, no dia 27. Funcionários do Vaticano disseram que a crise respiratória que obrigou a segunda hospitalização do papa em um mês já foi superada.’



Folha de S. Paulo

‘Igreja faz ofensiva contra ‘O Código Da Vinci’’, copyright Folha de S. Paulo, 16/03/05

‘O Vaticano lançou ontem uma campanha para desqualificar o livro ‘O Código Da Vinci’, do escritor norte-americano Dan Brown, com o objetivo de convencer seus fiéis a boicotar a obra.

‘Não leiam nem comprem ‘O Código Da Vinci’, pediu o cardeal Tarcisio Bertone, arcebispo de Gênova (Itália) e apontado como um dos possíveis sucessores do papa João Paulo 2º, em declarações à rádio Vaticano.

O cardeal qualificou o livro, primeiro na lista dos mais vendidos em todo o mundo -cerca de 20 milhões de exemplares em 44 países-, de ‘um castelo de mentiras’ e disse que está cheio de imprecisões históricas.

‘Não se pode escrever um romance que deforma os fatos históricos, maldizendo ou difamando personagens que devem seu prestígio e sua fama justamente à história da igreja e da humanidade’, disse Bertone.

Bertone, 70, é vice-presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, que foi criada originalmente para defender a Igreja Católica de heresias, em 1542, e até hoje é responsável por ‘promover e tutelar a doutrina da fé e da moral em todo o mundo católico’.

A congregação é presidida pelo cardeal alemão Joseph Ratzinger, um dos mais influentes do Vaticano e também ‘papável’.

A partir de hoje, o cardeal Bertone realiza em Gênova uma série de conferências públicas, intituladas ‘Uma história sem História’, sobre os ‘erros vergonhosos e infundados’ do livro.

A iniciativa, que o cardeal afirma ter sido dele e não a mando superior, é uma indicação do nível de preocupação do Vaticano com o sucesso do livro, cuja versão para o cinema, com a participação de Tom Hanks, deve estrear no próximo ano.

‘[O livro] já começou a circular nas escolas como um novo modelo, querem lê-lo para entender a dinâmica da histórica e todas as manipulações que a igreja cometeu’, disse Bertone, para quem existe uma estratégia mundial para ‘divulgar no mundo esse castelo de mentiras’.

Publicado em 2003, o livro narra as investigações do professor Robert Langdon, da Universidade Harvard, para descobrir o enigma do assassinato do curador do museu do Louvre, em Paris. Aparecem envolvidas no crime sociedades esotéricas anticlericais e a Opus Dei, movimento católico laico conservador descrito no livro como uma seita extremista.

Ainda segundo a narrativa de Brown, ao decifrar códigos e anagramas, o personagem principal descobre outros segredos, como o de que Jesus se casou com Maria Madalena e teve um filho com ela.

‘O livro está por toda parte. Há um risco real de que as pessoas que o leiam acreditem que as fábulas que contém são verdadeiras. Deixa-me atônito e preocupado que tantas pessoas acreditem nessas mentiras’, disse Bertone ao diário italiano ‘Il Giornale’.

‘Membros da Igreja Católica estão particularmente contrariados pelo que vêem como uma sugestão blasfema de que Jesus possa ter feito sexo e com a maneira como a igreja e o Vaticano são caracterizados como tendo conspirado para encobrir a ‘verdade’ sobre o cristianismo’, disse o especialista em religião e no ‘Código Da Vinci’ David Barratt ao jornal britânico ‘Guardian’.

Mas, para Barratt, a igreja está exagerando na reação. ‘É basicamente um ‘thriller’, um típico livro de aeroporto. A Igreja Católica está reagindo exageradamente. No fim das contas, é só um romance e a polêmica vai morrer.’ Com agências internacionais’