Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Como fazer da rede social um negócio

No começo do ano, a dupla João Pedro & Rodrigo concluiu que precisava de uma logomarca que pudesse ajudá-los a impulsionar sua carreira para além da região de Cascavel (PR). Os jovens cantores de moda de viola – com um pé no chamado sertanejo universitário – pesquisaram na internet os contatos de empresas que pudessem fazer o trabalho. Encontraram a solução numa espécie de Facebook para designers.

O símbolo escolhido – as letras JP&R, com a silhueta da dupla ao fundo – foi uma das 51 propostas recebidas pelos músicos por meio da comunidade formada em torno da We Do Logos. Criada há apenas quatro meses, a empresa funciona como uma plataforma virtual que reúne designers e pequenas empresas interessadas em criar ou reformular sua logomarca. Os clientes em potencial fazem seu pedido e dizem quanto vão pagar. Os interessados em executar o trabalho apresentam suas sugestões. O designer que criou a proposta escolhida recebe o pagamento. ‘Recebemos mais propostas e ficou muito mais em conta’, diz Vinícius Pelin, amigo e músico que acompanha João Pedro & Rodrigo. A logomarca custou R$ 230,00.

A exemplo da We Do Logos, companhias de vários setores estão adotando conceitos dos sites de relacionamentos na busca por modelos de negócio capazes de transformar em lucro a disposição do usuário em compartilhar suas ideias com outras pessoas. O site americano Livemocha, que oferece cursos de idiomas online, tem uma seção gratuita na qual os alunos submetem a correção de seus exercícios a usuários que são nativos naquela língua. Um australiano pode corrigir uma tarefa em inglês, enquanto seus exercícios de mandarim são verificados por um chinês. Os ‘professores’ ganham pontos que podem ser trocados, por exemplo, por créditos para se matricular em um dos cursos pagos oferecidos pela empresa. Criado em 2007 por dois imigrantes indianos nos Estados Unidos, o Livemocha tem 8,4 milhões de usuários. Os brasileiros, frequentadores assíduos de redes sociais como Orkut e Facebook, constituem a maior comunidade: 25% dos cadastrados no site.

Plataforma em reformulação

Os brasileiros têm interesse em praticar, principalmente, inglês e espanhol. ‘Mas, nos últimos meses, cresceu a procura por italiano. É por causa de uma série passou na televisão’, afirma o executivo-chefe do Livemocha, Michael Schutzler, referindo-se à novela Passione, da TV Globo, que terminou no mês passado. O que torna o Livemocha tão popular é a oportunidade de praticar um idioma com um nativo a custo baixo. A troca de mensagens entre os participantes, gratuita, não gera receitas para a empresa. No entanto, funciona como um chamariz para os cursos pagos oferecidos pelo Livemocha, cujo conteúdo é elaborado com a ajuda de parceiros como Pearson Education e Collins. Schutzler não revela números. Diz apenas que o faturamento do Livemocha cresceu 300% no ano passado, mas ainda é pequeno.

Na We Do Logos, a meta é encerrar o primeiro ano com 4 mil projetos e faturamento de R$ 1 milhão. A empresa cobra uma taxa de administração sempre que o cliente compra uma das logomarcas criadas para ele. ‘A internet é um meio fácil para conectar as pessoas se você tem uma boa ideia’, afirma Gustavo Mota, que criou a We Do Logos em parceria com João Paulo Coelho. Os dois, que já eram sócios no escritório de design Young Media, perceberam que havia uma grande mercado que não era atendido pelas companhias tradicionais de comunicação visual. ‘São pequenas empresas que não podem pagar R$ 5 mil por uma logomarca e que, por isso, não atraem o interesse de designers com mais experiência’, diz Mota, de 28 anos. A We Do Logos tem apenas oito funcionários, mas já conta com 3 mil designers cadastrados. O objetivo dos sócios, agora, é atrair fundos de investimento que ajudem a reforçar a plataforma tecnológica e a levar a rede a outros países.

Já existem até mesmo empresas que ajudam outras empresas a montar suas próprias redes sociais. É o caso da americana Ning, em cujo site podem ser encontrados diversos modelos de redes previamente formatados. A Ning fechou o ano passado com 80 mil clientes e espera alcançar 100 mil neste ano, com receita projetada de US$ 30 milhões.

Administrar uma rede social, no entanto, não é algo simples. Há quatro anos, a Companhia Athletica lançou um sistema exclusiva para os alunos da rede de academias. ‘Usávamos ferramentas como as do Orkut, com a diferença de que tínhamos uma seção de classificados’, afirma o diretor de marketing da empresa, Marcos Nisti. O site chegou a ter 8 mil participantes, mas não resistiu à concorrência das redes sociais tradicionais. Agora, a plataforma está em reformulação. Os serviços pessoais serão cancelados e o site vai se dedicar a publicar anúncios de alunos e professores.

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Campo de testes para novos produtos

Talita Moreira e Cibelle Bouças # reproduzido do Valor Econômico, 23/02/2011

Sondar o mercado para o lançamento de um produto sempre exigiu habilidade das empresas, que costumam guardar a sete chaves as pesquisas que fazem com os consumidores. Algumas companhias, no entanto, decidiram colocar essa relação às claras nas redes sociais. A Pepsico decidiu abrir para os fãs ou seguidores de seus perfis no Facebook, Orkut e Twitter alguns ‘segredos’ sobre produtos que pretende lançar. Nos Estados Unidos, a empresa convidou os consumidores da bebida Mountain Dew a dar sugestões para a criação de três novos sabores. Os internautas também escolheram o nome, a embalagem e a logomarca. As bebidas foram lançadas em 2010.

O diretor global de mídias sociais da Pepsico, Bonin Bough, diz que a companhia pergunta aos seguidores de seus perfis o que eles pensam de determinadas embalagens e sabores. Com base nas respostas, avalia a chance de sucesso do novo produto. ‘Há muitas oportunidades para as empresas transformarem o relacionamento com os consumidores fazendo uso das redes sociais’, afirma.

A montadora Fiat também recorreu aos sites de relacionamento para descobrir o que seus consumidores esperam do carro do futuro. Por meio das redes tradicionais e de um site criado especialmente para o projeto, as pessoas podiam enviar suas sugestões para o modelo Fiat Mio. A partir das mais de 10 mil ideias recebidas, um protótipo foi apresentado no Salão do Automóvel do ano passado. A experiência deu tão certo que a empresa voltou a usar as redes sociais para preparar o lançamento do Bravo. ‘Esse diálogo intenso e aberto com o consumidor foi muito positivo e se tornou uma referência’, diz Abel Reis, presidente da AgênciaClick Isobar, que realizou a campanha para a Fiat.

A fabricante de celulares Sony Ericsson criou um blog e usa seu perfil nas redes sociais para recolher opiniões sobre aparelhos que vão chegar ao mercado brasileiro. Com base nos comentários, a campanha de marketing enfatiza as características mais desejadas pelos consumidores. Um produto que foi lançado no exterior com destaque para a câmera fotográfica, por exemplo, pode ter outras funções ressaltadas ou até ser modificado para agradar aos brasileiros. O celular W150 é vendido no país com duas capas coloridas por causa das sugestões feitas por consumidores locais. ‘É uma plataforma de diálogo que não tínhamos antes’, afirma a diretora de marketing da empresa, Ana Peretti.

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Jornalista