Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Comunique-se

DIREITO À INFORMAÇÃO
Sérgio Matsuura

Participantes de seminário na ABL criticam quebra de sigilo da fonte, 26/9

‘Jornalistas e intelectuais participantes do seminário ‘Brasil, brasis – liberdade de expressão: base da democracia’ criticaram a possibilidade da flexibilização do direito ao sigilo da fonte. Todos repudiaram a tentativa do Governo de, por meio de lei, intimidar o acesso dos jornalistas à informação. O evento aconteceu nesta quinta-feira (25/09), na sede da Academia Brasileira de Letras (ABL).

‘A discussão está se tornando cada vez mais ampla, com palavras oficias que estão sendo ditas a cada momento, colocando em risco uma das conquistas mais extraordinárias do nosso jornalismo e da liberdade universal. Eu não posso entender como esse aspecto, que deveria ser pétreo, esteja sendo questionado por autoridades do Governo’, criticou o jornalista e acadêmico Arnaldo Niskier.

Recentemente, representantes do Governo Federal se manifestaram a favor da quebra do direito ao sigilo da fonte. No dia 17/09, o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirmou em depoimento à CPI dos grampos que devemos ‘discutir se o sigilo da fonte é ou não absoluto’. No dia seguinte, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou ao Congresso projeto de lei que criminaliza quem ‘utilizar o resultado de interceptações de comunicação telefônica ou telemática para fins diversos dos previstos em lei’.

Poder quer controlar a imprensa

O jornalista e professor universitário José Marques de Melo avalia que a restrição ao sigilo da fonte limita o exercício do jornalismo livre. Ele afirma que o poder no Brasil, historicamente, tenta controlar o funcionamento dos veículos de comunicação, instalando a ‘síndrome da mordaça’ e a ‘cultura do silêncio’.

‘Quando a gente imagina que tudo está tranqüilo, que vamos poder exercer a liberdade de imprensa, surgem ameaças sempre partindo do poder. Ele está sempre querendo controlar a seu favor’, disse Melo.

Bucci critica abuso do off

Apesar de ser fundamental à liberdade de imprensa, o sigilo da fonte deve ser utilizado com responsabilidade. Na opinião do ex-presidente da Radiobrás Eugênio Bucci, ‘a informação se complementa com a revelação de sua origem’. Ele é contra qualquer tentativa de quebra desse direito, mas critica o abuso na utilização do off.

‘Acho que o sigilo da fonte não é regulamentável, faz parte da ética profissional. Outra coisa diferente é a publicação em excesso de informação sem origem’, avaliou Bucci.

Na avaliação do advogado Sérgio Bermudes, a garantia do sigilo da fonte não leva a abusos, mas cria uma responsabilidade para a imprensa. Se os veículos de comunicação cometerem excessos, eles devem ser responsabilizados, não a fonte. Segundo Bermudes, a quebra desse direito inviabiliza o exercício do jornalismo.

‘Quereis saber o que é a alma, contemplais um corpo sem ela. Quereis saber o que é o sigilo de fonte, contemplais a imprensa sem essa garantia’, concluiu Bermudes.’

 

INTERNET
Bruno Rodrigues

O jornalismo online bateu no teto, 24/9

‘Ainda sob efeito dos resultados dos prêmios Comunique-se e Online Journalism, chego a uma conclusão: os noticiosos web chegaram ao topo da montanha.

Isso significa que, agora, a tarefa é olhar em volta e escolher um pico ainda mais alto para se alcançar. Como executar tal tarefa? Boa pergunta. Porque, além de ter fincado a bandeira no topo da montanha, o jornalismo online bateu no teto.

É pouco (ou nada) provável que tenhamos alcançado o topo do mundo. O estágio atual dos noticiosos online está mais para K2 que Everest – segunda posição, portanto.

Mas, ao contrário do que vinha acontecendo de 2002 para cá – quando blogs, vídeos, podcasts, notícias no celular, distribuição de conteúdo via RSS e a participação do leitor mudaram a cara do jornalismo na web – a poeira está baixando. Amadurecemos, e isso é bom.

Chegar ao topo significa poder olhar para o lado, ainda que por um instante, e estamos exatamente neste momento de reconhecimento. Para onde ir, afinal, se a convergência de mídias tão falada há dez anos agora é parte da realidade? E se o leitor hoje não só interfere, mas produz notícia, como criar novidades na relação com o público?

Neste final de 2008 vejo um natural ‘correr atrás do rabo’. As tecnologias que conquistamos estão sendo retrabalhadas, lapidadas, divulgadas mais uma vez, mas tudo já se viu antes – um antes que remete a ‘agora há pouco’, mas ainda assim, antes. Todas as tecnologias foram assimiladas pelos leitores em um processo de transferência de conhecimento que entrará para a História.

Para enxergar o que vem por aí, então, a solução não está em olhar para frente, mas entender melhor onde chegamos sob o ponto de vista da evolução da atividade jornalística.

Não é a primeira vez que uma nova mídia assimila recursos à disposição. Aconteceu com o rádio e com a televisão. Ambos aproveitaram ferramentas para incrementar ainda mais sua atividade-fim – a apuração e a produção de notícias. O rádio abraçou a cobertura em tempo real, a televisão criou novos horizontes para a imagem e as ferramentas escolhidas fizeram com que o Jornalismo desse um passo adiante.

Em suma: batemos no teto porque veículos e leitores já aprenderam a usar as novas ferramentas de hoje. O que surge em meio à poeira é o bom e velho Jornalismo, e era assim que esperávamos que acontecesse. Ferramentas existem para serem usadas, nunca para receber mais destaque do que quem as utiliza.

Se a tecnologia não é mais destaque, o que virá agora?

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A próxima edição de meu curso ‘Webwriting & Arquitetura da Informação’ terá início no dia 28/10, no Rio de Janeiro. Para quem deseja ficar por dentro dos segredos da redação online e da distribuição da informação na mídia digital, é uma boa dica! As inscrições podem ser feitas pelo e-mail extensao@facha.edu.br e outras informações podem ser obtidas pelo telefone 0xx 21 2102-3200 (ramal 4).

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

 

VENDAS
Milton Coelho da Graça

Circulação em queda põe O Dia para pensar, 26/9

‘Com o relatório do IVC – Instituto Verificador de Circulação – de agosto, confirmou-se que o jornal mais vendido do Brasil é agora o popularíssimo (25 centavos!) e mineiro SUPERNOTÍCIA, com 315.157 exemplares de media diária. Deixou em segundo lugar a FOLHA, que, embora perdendo a liderança, mostra um aumento de 3,4% sobre a circulação média de agosto do ano passado.

O EXTRA, em terceiro lugar, também aumentou – e muito – a venda média diária em relação a agosto de 2007: 19,1%

Entre os dez jornais mais vendidos, apenas dois tiveram em agosto resultados piores, tanto em relação ao mês (julho 08) como aos anos (07) anteriores: O GLOBO (0,52% e 1,55%, respectivamente) e O DIA (4,95% e 7,17%).

Provavelmente em razão desses números, a direção de O DIA está preparando, em ritmo acelerado, uma nova reforma do jornal. Há 25 anos, o falecido Ari de Carvalho, então proprietário, achou que O DIA poderia ocupar o ‘lugar’ do JORNAL DO BRASIL, já em início de decadência. Mas as alterações foram mais gráficas do que no conteúdo, e é realmente muito difícil para um jornal buscar os leitores mais qualificados (o que, em linguagem de marketing, é chamado de upgrade) depois de décadas de existência como jornal popular. E a reforma não deu certo.

Há poucos anos, uma nova tentativa foi feita com o mesmo objetivo, sob o comando do experiente Eucimar Oliveira, acompanhada pelo lançamento de outro jornal, MEIA HORA, que, em agosto, foi o sexto mais vendido do Brasil, com a média de venda diária de 236.690 exemplares. O DIA, que já foi o de maior circulação do Rio de Janeiro, é hoje o décimo do país, 108.277 exemplares.

Comparações curiosas:

1. a circulação dos dez jornais diários mais vendidos em agosto somou 2.268.785 exemplares, mais da metade do total de todos os diários do Brasil (segundo dados de 2006, eram 532). A FOLHA UNIVERSAL, semanário da Universal não-filiado ao IVC, vendido ou distribuído a fiéis ou passantes pelas proximidades dos templos, afirma ter uma circulação superior a 1,5 milhão de exemplares. Além disso, tem agora um caderno dedicado a religião e outro sobre noticiário geral, aparentemente num plano de colocar nas bancas e vender assinaturas.

2; Se dividirmos os dez mais vendidos, de um lado os mais ‘veteranos’ no mercado – FOLHA, ESTADÂO, O GLOBO, ZERO HORA e O DIA – e, de outro, os ‘novatos’, todos mais populares, com preço de banca de um real ou menos – SUPERNOTÍCIA, EXTRA, MEIA HORA, DIÁRIO GAÚCHO e CORREIO DO POVO – temos um virtual empate, mas já com vantagem para os ‘novatos’: 1.156.004 x 1.112.781.

Incluí o EXTRA, que não é rigorosamente um jornal popular, porque se destina (pelo menos é o que diz) às classes B e C, além de custar R$ 2,30 aos domingos e um real nos dias de semana. E também o CORREIO DO POVO, que em tempos distantes, um jornalão tradicional gaúcho, morreu e ‘ressuscitou’ em versão mais modesta.

Divirtam-se com toda essa numerologia.

(*) Milton Coelho da Graça, 78, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’

 

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

O caso do escritor que não comeu a namorada, 25/9

‘cultivar flores

malditas, reinventar

desesperos.

(Luís Carlos Guimarães in Poema Soturno)

O caso do escritor que não comeu a namorada

O considerado Fábio José de Mello, que construiu seu jardim das delícias em Descalvado, interior de São Paulo, exumou do site do Terra este mais-que-ousado título:

Escritor admite morte mas nega ter comido namorada

Janistraquis, que sempre foi muito respeitoso com as centenas de milhares de mulheres de sua vida dedicada ao dom-juanismo, correu a dar uma olhada na matéria e, dizendo-se aliviado, leu a quase esquecida notícia:

Um mexicano envolvido num caso de canibalismo admitiu hoje ter matado uma de suas namoradas e cozinhado os restos dela, mas afirmou que não comeu a carne da mulher, segundo a procuradoria do Distrito Federal (DF) do país.

(…) José Luis Calva Zepeda, chamado pela imprensa de ‘O Canibal de Guerrero’ – nome da colônia (bairro) em que vivia – ‘não admite ter consumido a carne de Alejandra (Galeana Garavito)’, de 30 anos e mãe de dois filhos.

O texto fez meu assistente recordar aquele episódio da tribo de índios que capturou, matou e cozinhou um missionário inglês. Único preso pela polícia que se embrenhou na selva, o pajé se declarou inocente, pois não havia comido um naco sequer do pobre homem; da panela, apenas bebera o caldo…

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Morrer de emoção

Leia aqui a íntegra do poema que encima a coluna. E aqui, para outros versos. Luís Carlos Guimarães nasceu em Currais Novos, interior do Rio Grande do Norte, em 1934. Viveu quase toda sua vida em Natal, onde foi jornalista, juiz de Direito e professor universitário. Morreu em 2001, dizem que de pura emoção.

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Uma coisa é uma coisa

O considerado Jayme Alves Baeta, advogado paulistano aposentado, envia de sua chácara em Cotia esta procedente crítica ao Jornal Nacional:

‘O telejornal exibe uma série de reportagens para comparar condomínios a cidades e síndicos a prefeitos. Parece-me algo forçado porque, se alguns conjuntos residenciais abrigam realmente a população de uma vila do interior, suas necessidades estão longe de ser até mesmo parecidas; e eu, que morei 40 anos em São Paulo e passei por cinco endereços, jamais votaria naqueles síndicos para administrar nada além de um prédio de três andares…’.

Janistraquis e eu também temos visto as matérias do JN, ó Baeta, e concordamos com você: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa; e condomínio é condomínio, cidade é cidade; síndico é síndico e prefeito é prefeito.

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Marta e a veadagem

O considerado José Truda Júnior, que do alto de seu minarete em Santa Teresa costuma observar as vicissitudes desta vida, leu no Globo Online o título Marta não cede a pastores e apóia gays; e como aprecia o tema, enviou a seguinte observação:

Voltando à (discussão sobre) veadagem, o ponto alto na campanha à prefeitura de São Paulo esta semana foi o encontro de Marta Suplicy com um grupo de pastores da Igreja Batista.

Ao lhe pedirem apoio à sua luta contra projeto em tramitação no Congresso que criminaliza a homofobia alegando que, aprovado, a lei lhes impediria de pregar contra a prática homossexual, Marta não se incomodou em perder votos:

‘Se for para xingar homossexual, dizer que é doente, desacatar, sou contra.’

Janistraquis concorda com a Marta, ó Truda, e lamenta apenas a impressionante ingratidão dos homossexuais:

‘Considerado, por que até agora não apareceu uma bichona sequer, um simples baitola ou xibungo para dizer nos programas eleitorais do PT que a ‘categoria’ goza da proteção de sua candidata à prefeitura paulistana? Não é o cúmulo do menoscabo?!?!’

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Morrer de rir

Saiu na Folha Online a notícia que Janistraquis considerou a mais engraçada do ano; segue o texto, com ligeiro copidesque:

Jegue é preso em flagrante no Egito sob acusação de roubar espigas de milho.

O alimento estava em uma plantação que pertence a um instituto de pesquisa de agricultura na região do Delta do Nilo.

A prisão aconteceu após reclamação do diretor do instituto, que notou alguns buracos no milharal.

Um posto policial próximo à plantação foi acionado e, depois de avistar o jegue e seu dono, os policiais encaminharam os dois para a delegacia.

O bicho, que carregava a prova do crime nas costas, recebeu voz de prisão em flagrante e um juiz local determinou a pena de 24 horas de prisão para a dupla.

O dono do jegue escapou da detenção depois de pagar fiança equivalente a R$ 17.

(Meu assistente concluiu que o crime do jegue é inafiançável porque ele foi apanhado ‘com a boca na botija’.)

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O Brasil merece

Janistraquis leu por aí que, segundo apurou a pesquisa CNT/Sensus, o presidente da República recebeu avaliação positiva de 68,8% dos entrevistados, contra 6,8% que o avaliaram negativamente; 23,2% avaliaram o governo como regular.

Meu secretário concluiu que, se verdadeiros, tais números transformam Lula na versão batracóide da fada Sininho; a cada toque da varinha mágica surgirá um campeão de votos, agora e em 2010. Assim, se o fenômeno quiser (não nos referimos ao enxundioso craque Ronaldo), o país terá dona Dilma na presidência e, em todos os estados, prefeitos e governadores do PT.

Tá certo, o Brasil merece.

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Anátema! Anátema!

O considerado Rafael Andrade Rios, engenheiro civil em São Paulo, leu esta chamadinha na capa do Globo Online:

Carol Castro: Cristãos querem retirada da PlayBoy – atriz pousou nua com um terço na mão.

Rafael, que não perde missa e nunca faltou às aulas de português, repreende os envolvidos:

‘O herético textinho diz que a atriz ‘pousou’, e o verbo assim empregado quer passar a idéia de que ela é a própria Nossa Senhora, que de vez em quando pousa aqui e ali e encanta os fiéis. E essa idéia de fotografar mulher nua com terço na mão é um acinte aos princípios religiosos!’

Janistraquis, ex-coroinha relapso, garante que quem posa de vanguardista ateu tem mesmo é que pousar nas profundas.

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Melamina ou melanina?

A considerada Malcia Ivone Afonso, assessora de imprensa da Anvisa, leu na Folha de S. Paulo:

China: Leite em pó contamina 432 bebês e mata 1

O Ministério da Saúde chinês diz que o leite contém melanina, substância química usada na produção de plásticos.

Malcia esclarece que o jornal confundiu melamina com melanina:

E um amigo, da área de toxicologia, ficou tão injuriado que chegou a afirmar que vai ‘propor uma cadeira de nomenclatura química nos cursos de jornalismo’.

Ele sabe que o assunto é difícil pra quem não é da área, mas o sujeito tem que ter um mínimo de desconfiômetro nessas horas; todo mundo sabe que melanina é o pigmento natural presente na pele, cabelo e até olhos de todas as pessoas e jamais poderia causar intoxicação e morte.

O pior é que quem ouviu tudo isso fui euzinha, como se eu tivesse culpa!

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Desastre naval

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no DF, de cujo varandão debruçado sobre o manancial de besteiras vê-se o desemprego a se afogar no espelho d’água do Palácio do Planalto, pois Roldão lia o Correio Braziliense quando, sem que pudesse fazer alguma coisa para evitar a tragédia, observou o vibrante matutino a naufragar nas ondas da ignorância naval:

‘NAVIOS FAZEM MANOBRAS — Aliada da Venezuela, a Rússia anunciou que vai realizar, até o fim de novembro, exercícios militares conjuntos nas águas do Caribe. Segundo a chancelaria da ex-União Soviética (sic), vários navios da frota russa, incluindo o cruzeiro (sic) de propulsão nuclear Pedro el Grande e o Almirante Chabanenko, barco de ataque contra submarinos, chegarão à América do Sul antes do fim do ano. (…)’.

Mestre Roldão, que já se aventurou por mares nunca dantes navegados, deu nota zero à, digamos, notícia:

O navio nuclear não será um barco de cruzeiro e sim um cruzador. E o seu nome não é ‘Pedro el Grande’ e sim ‘Pedro, o Grande’. O despacho deve ter chegado ao jornal em espanhol e o tradutor não ousou traduzir o nome do cruzador russo. Se fosse um navio de guerra venezuelano poderia ser batizado com o nome de ‘Bolívar, el Grande’. Se as manobras serão no final de novembro, é claro que os navios russos chegarão no Caribe antes do fim do ano…

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Nota dez

Já estamos na primavera, porém de repente ventos gelados sopraram do Oeste e o céu fez-se em estrelas que ignoravam um rastro de lua, de modo que tivemos a sobrevida do inverno aqui nos contrafortes da Serra do Mar. Então Janistraquis vestiu aquele capote antigo, inspirado num conto de Gogol, armou-se de luvas e cachecol e foi até nosso escritório examinar a correspondência.

Da sala onde servia o jantar de Dona Marta, mansa jararaca que há anos criamos dentro de casa, ouvi meu assistente comentar: ‘Mas como escreve bem esse tal de Mauro Santayana!’. O texto, escolhido por 14 colaboradores da coluna, entre eles o nosso proficiente diretor, Roldão Simas Filho, está no Blogstraquis à disposição do considerado leitor.

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Errei, sim!

‘PAPO DE CRAQUE – Com indesculpável atraso, Janistraquis demonstra aqui sua admiração pelo ex-jogador, ex-técnico e comentarista de futebol Mário Sérgio Pontes de Paiva. O craque escreveu no Estadão: ‘Dallas – Um esquema errado, um time previsível, um futebol para não chegar a lugar nenhum. É a Seleção Brasileira para enfrentar os russos na estréia na Copa do Mundo.’

Meu assistente aplaude a pontaria de Mário Sérgio, que por absoluta falta de adversários é o legítimo vencedor do Troféu Omar Cardoso de 1994.’ (outubro de 1994)

(Para os muito jovens: Omar Cardoso foi o mais célebre horoscopista brasileiro; e a seleção que não iria chegar a ‘lugar nenhum’ conquistou o tetra nos EUA, como todos estão carecas de saber.)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 66 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’

 

VIDA DUPLA
Eduardo Ribeiro

Estúdio estreitará laço entre Diário de S. Paulo e Rádio Globo, 24/9

‘Os profissionais mais antigos como eu conheceram lá pelos anos 70 e 80 o que todos costumávamos chamar de operação gilette-press, que consistia na ‘arte’ de recortar e colar em laudas as notícias do jornal (e algumas vezes de revistas) e depois entregá-las aos locutores de plantão. Produção própria? Só as tinha as rádios com tradição jornalística, como Pan, Bandeirantes e Eldorado, já que naqueles tempos não tínhamos ainda CBN e muito menos BandNews FM.

Esse era o principal contato físico entre redações de jornais e emissoras de rádio, naqueles tempos, com os primeiros, que eram descaradamente copiados, sempre zangados com os segundos, que se apropriavam do trabalho autoral dos primeiros sem nada pagar por isso e sem uma única menção da fonte. E não havia muito o que fazer não.

Isso está mudando muito rapidamente com as novas tecnologias e plataformas de difusão de informações, o que tem obrigado as empresas jornalísticas a buscarem ampliar as plataformas em que operam e, mais do que isso, criar mecanismos de sinergia entre os vários veículos, melhorando a qualidade da informação, a racionalidade das operações, a lucratividade e, por suposto, a presença no mercado com marcas fortes e melhor audiência.

É nesse cenário que deve ser entendido o novo passo que o Diário de S. Paulo e a Rádio Globo, ambos pertencentes às Organizações Globo, estão dando no sentido de aproveitar na emissora, ao longo da programação, parte do material jornalístico obtido pelas equipes do jornal impresso e que a partir desse processo ganha vida dupla no rádio e nas bancas.

A parceria entre eles já existe, mas agora vai melhorar muito, com a inauguração, na próxima 3ª.feira (7/10), às 17 horas, do Estúdio Osmar Santos, consolidando um projeto que vinha sendo discutido havia seis meses e que busca viabilizar a entrada permanente de repórteres do Diário de S. Paulo na programação da Rádio Globo, com um detalhe: o material gerado pelos repórteres do jornal terá, graças ao novo estúdio, a mesma qualidade do material gerado na própria Rádio Globo. E será ele, Osmar Santos, em pessoa, quem cortará a fita, abrindo oficialmente o estúdio, no programa Globo Cidade, comandado por Osvaldo Pascoal.

O objetivo, segundo informou o editor-chefe do Diário, Luiz André Alzer, é ampliar as entradas ao vivo que a Redação já realiza na programação da Rádio Globo: ‘Adaptamos uma sala de reuniões, que foi transformada em estúdio, com equipamentos que a Rádio Globo aqui instalou e um grande painel com fotos de diferentes momentos da vida e da carreira do Osmar, que é um símbolo do rádio brasileiro.’

A operação para aumentar a sinergia entre os produtos foi um trabalho de parceria desenvolvido por Alzer com o gerente-executivo da Rádio Globo de São Paulo, Marcus Aurélio, e com o diretor-executivo da rádio no Brasil, Giovanni Faria. Cerca de 15 profissionais do jornal passaram por uma oficina de Radiojornalismo, para aprender as técnicas e também noções de locução, construção de linguagem radiofônica e exercícios de improviso.

‘Queremos ter uma atuação constante na programação da rádio, com a participação dos repórteres em vários programas da grade, como os diários Globo Cidade SP e Globo Esportivo, além de giros pela redação que vão entrar no ar ao longo da tarde’ – diz Alzer, acrescentando que ‘nas manhãs de domingo, teremos o quadro Diário da Fama, que leva o mesmo nome da coluna e vai tratar do mundo das celebridades’.

Segundo garante, ‘o projeto é ambicioso porque não vai limitar a participação dos jornalistas do Diário em apenas um ou dois horários, mas sim ao longo de toda a programação e de acordo com o calor das notícias do dia. Como o estúdio foi montado numa sala grande e com uma grande mesa, teremos inclusive a possibilidade de promover debates com vários convidados’.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’

 

O XIS DA QUESTÃO
Carlos Chaparro

Dois rostos e dois discursos, 23/9

‘O XIS DA QUESTÃO – Depois do discurso com que, nesta terça-feira, o Brasil abriu solenemente a 63ª sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas, um lamento se justifica: é uma pena que, no plano interno, falte à cena política brasileira, e ao Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, a grandeza discursiva de Presidente da República que ele exibe ao mundo, e que o mundo nele admira.

1. Fala de Chefe de Estado

O Sr. Luiz Inácio Lula da Silva abriu nesta terça-feira, 22 de setembro, a 63ª sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas com um discurso que, mesmo sem grandes novidades, foi, na forma e conteúdo, um pronunciamento digno do cargo que a vontade popular a ele confiou: o de Presidente da República.

O nosso modelo político não ajuda ao entendimento da importância simbólica do cargo. Aqui, e entre nós, se confundem os papéis de Presidente da República, como Chefe de Estado, e de chefe de Governo. Ainda por cima, a Constituição de 88 é, se não omissa, pelo menos obscura, quanto às diferenças qualitativas das duas funções, não raramente conflitantes na experiência histórica brasileira.

A confusão fica ainda maior, e mais empobrecedora, quando o próprio dono do cargo e do mandato assume também, deliberadamente, e com frequência, os papéis de líder partidário e líder sindical, tanto no que diz quanto no que faz – o que vem a ser a mesma coisa, pois o primeiro mandatário da Nação, por força do cargo e das leis da linguagem, sempre diz quando faz, assim como sempre faz quando diz.

Mesmo que não perceba ou não queira isso.

Hoje, no mais importante púlpito político do mundo, fortalecido pela solenidade do momento e do lugar, o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva falou não apenas pelo Brasil, mas também em nome dos valores republicanos que dão fundamento à nossa Nação e às nossas melhores convicções democráticas. Valores em função dos quais o cargo que ocupa existe e se justifica.

***

Nesta terça-feira, em Nova York, o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva falou e agiu como Presidente de uma República que tem como fundamentos a Soberania, a Cidadania, a Dignidade da Pessoa Humana, os Valores Sociais do Trabalho e da Livre Iniciativa, e o Pluralismo Político.

Falou e agiu como Presidente de uma República que tem como objetivos fundamentais, entre outros constitucionalmente definidos, a construção de uma sociedade livre, justa e solidária.

Falou e agiu como Presidente da uma República que, no plano das relações internacionais, assume e defende, como princípios determinantes, a Independência Nacional, a prevalência dos Direitos Humanos, a Autodeterminação dos Povos, a Não-Intervenção, a Igualdade entre os Estados, a Defesa da Paz, a Solução Pacífica dos Conflitos, o Repúdio ao Terrorismo e ao Racismo, a Cooperação entre os Povos para o Progresso da Humanidade, e a concessão de Asilo Político.

2. Faces contraditórias

Quando, porém, o Sr. Luiz Inácio Lula da Silva decide experimentar a pobreza da tradição política brasileira, manda às favas a dignidade simbólica e efetiva do cargo de Presidente da República. É o que acontece quando (por exemplo) resolve agir com vulgaridades de líder partidário e cabo eleitoral, ao fazer coisas como esta que alguns jornais noticiam que faz, na atual campanha eleitoral: incomodar pessoas em suas residências, invadindo-lhes a privacidade com mensagens telefônicas gravadas, em que pede votos para candidatos petistas às eleições locais.

Às favas vai também a dignidade do cargo de Presidente da República quando, como chefe de governo, joga ou manda jogar o jogo sujo da tradicional barganha política, para conseguir votos e construir maiorias parlamentares em troca de espaços políticos, verbas, cargos e outras benesses. Ou quando, no papel de incomodado chefe de governo, defende práticas de censura e controle de informação, como quando sugeriu que as sessões do Supremo, hoje transmitidos ao vivo, fossem editadas, depuradas, antes de ser transmitidas.

Às favas vai igualmente a dignidade do cargo de Presidente da República quando, por causa de ocasionais conveniências político-partidárias, o chefe do governo passa a mão na cabeça de aliados suspeitos e/ou formalmente acusados de envolvimento em práticas de corrupção.

Com essas e outras, o que temos no Brasil são práticas políticas de governo que, em vez de aperfeiçoarem e vitalizarem a democracia fundamentada em valores de Estado republicano, a retardam e empobrecem.

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Convenhamos, porém: o defeito está mais na tradição e no modelo político brasileiro do que no Sr. Luiz Inácio Lula da Silva. Afinal, em matéria de costumes políticos, ele apenas faz o que tantos outros sempre fizeram, décadas a fio. E esse argumento, que serviu até para justificar o mensalão, continua vivo e circulante, irrigando a hipocrisia política nacional.

Mas é uma pena que, no plano interno, falte à cena política brasileira, e ao próprio Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, a grandeza discursiva de Presidente da República que ele exibe bem ao mundo, e que o mundo nele admira.

(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem, foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes. Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.’

 

CINEMA
Antonio Brasil

Filmes para jornalistas no Festival do Rio 2008, 22/9

‘Para quem gosta de cinema, esta é a melhor época do ano. Começa nesta sexta a 10ª edição do Festival do Rio (ver aqui). Resultado da fusão dos dois maiores festivais brasileiros – o Rio Cine (fundado em 1984) e a Mostra Rio (fundada em 1988) – é o maior festival do Brasil e da América Latina.

Todos os anos, recebe atenção massiva dos cinéfilos e da mídia brasileira e sul-americana. O nosso Comunique-se não poderia deixar de prestigiar o evento e selecionar o que há de melhor no festival. Tem filmes para todos os gostos. São mais de 350 títulos de mais de 60 países, exibidos em 30 locais do Rio de Janeiro.

Para os estudantes, professores e profissionais das notícias, trata-se de programa imperdível. Afinal, temos muito a aprender com os bons filmes. Além de nos mostrar o mundo, seus conflitos e suas tendências, bons filmes nos ensinam a contar boas histórias. E essa ainda é a essência do jornalismo. Ainda somos, ou pelo menos ainda deveríamos ser, bons contadores de histórias.

O Visitante

Neste final de semana, assisti a nove filmes que serão exibidos no festival. Foi uma verdadeira maratona por temáticas diversas e países distantes. O destaque do ano são os filmes sobre globalização e imigração. A saga de milhões de pessoas que deixam seus países, amigos e familiares em busca da sobrevivência ou da realização de um sonho, atrai cada vez mais a atenção de cineastas e jornalistas. O mundo parece despertar para o problema da imigração ilegal e suas implicações sociais, políticas e econômicas. Mas antes de tudo, começamos ver em cada imigrante, não como criminoso ou terrorista. Em cada africano, chinês ou brasileiro há uma história para ser contada.

Ainda sobre o tema imigração, mas sob a perspectiva de culpa e preconceito dos países ricos, destaque para o filme o ‘O Visitante’, ‘The Visitor’ do americano Tom McCarthy.

A história retrata a vida de um solitário professor universitário que já não encontra qualquer prazer na vida. Ao viajar a Nova York para uma conferência, ele encontra um casal de imigrantes sem documentos, morando em seu apartamento. A reação típica do americano seria o medo, a violência ou chamar a policia. O professor, no entanto, permite que os imigrantes ilegais fiquem no seu apartamento. Para retribuir, o talentoso Tarek que veio da Síria ensina Walter a tocar o tambor africano e os dois ficam amigos. Mas quando a polícia prende o jovem e decide deportá-lo, Walter faz de tudo para ajudá-lo, com uma garra que há muito não sentia. Surge então a mãe de Tarek em busca do filho e um improvável romance tem início.

O filme descreve melhor e com mais profundidade e sensibilidade o grave problema dos imigrantes ilegais espalhados pelo mundo. Eles não são meras notícias, dados estatísticos ou estratégias de partidos políticos em tempos de eleição. São milhões de seres humanos com belas histórias para serem contadas no cinema ou nos jornais. Questão de competência e talento.

Impossível impedir sonhos

E do outro lado do mundo, da África, vem outro filme excelente, ‘14 Kilómetros’ de Gerardo Olivares, vencedor da Espiga de Ouro de Melhor Filme no Festival de Cinema de Valladolid de 2007. A história é simples, mas representativa do grave problema da imigração ilegal no mundo.

‘Somente quatorze quilômetros separam a África da Europa. Esta distância, no entanto, é uma verdadeira barreira entre a realidade e o sonho de milhões de africanos. Violeta, Buba e Mukela são três jovens dispostos a chegar do outro lado para escapar da fome e da miséria. Mas uma longa e perigosa jornada pelo Saara os aguarda. Como tantos outros no caminho, seus rostos exaustos mostram a dureza do trajeto. Para não desistir, eles devem alimentar sem descanso a esperança de um futuro melhor’.

Infelizmente a cópia apresentada aos jornalistas estava pessimamente sonorizada e dublada em espanhol. Pena. Mas o filme é muito bom. Destaque para as belas cenas no deserto do Saara e as excelentes atuações do elenco. O filme de Gerado Olivares acrescenta de forma contundente a perspectiva do terceiro mundo à discussão internacional sobre o problema da imigração. Afinal, imigrante não é sinônimo de criminoso. Merece mais do que notícias sensacionalistas nas primeiras páginas dos jornais ou pequenos flashes nos nossos telejornais. Não há solução fácil ou final para o êxodo dos pobres em busca de uma vida melhor. E como dizia a escritora espanhola Rosa Montero, citada nos créditos finais de 14 Kilometros: ‘Eles seguirão vindo porque a história tem comprovado que não é impossível impedir os sonhos’. Tudo a ver.

Cidade de Deus à italiana

E para quem tem estômago para ver uma Europa de verdade, uma Europa distante dos roteiros turísticos e próxima da violência das ruas, recomendo o excelente filme Gomorra, (Gomorrah), do diretor italiano Matteo Garrone. Ele recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2008. O filme é baseado no best-seller de Roberto Saviano, e se passa nas ruas da periferia de Nápoles. Gomorrah já está sendo chamado pelos críticos brasileiros de ‘Cidade de Deus’ à italiana. Trata-se de um filme de ficção que mais se parece com documentário jornalístico e que também descreve o problema da imigração ilegal e da exploração dos imigrantes em uma Europa controlada por criminosos e traficantes.

Assim como Cidade de Deus de Fernando Meirelles, Gomorra incomoda muito pela temática e pelo realismo das cenas filmadas nas favelas napolitanas. Por incrível que pareça, ainda hoje, o sul da Itália e o Brasil têm muito em comum.

A história descreve a vida de ‘Toto de treze anos que trabalha como mensageiro de um grupo de traficantes de drogas e armas. Pasquale, alfaiate contratado secretamente por chineses para formar operários, descobre subitamente que sua vida corre perigo. Don Ciro é responsável por levar dinheiro a famílias cujos membros estão presos ou mortos. Como eles, outros tantos habitantes de Nápoles e da região da Campanha têm suas vidas regidas pela Camorra, a tradicional máfia local que alimenta uma espiral de violência sem fim.’ Para os jornalistas, é programa imperdível.

Cinema é informação

Mas o grande destaque do Festival é a estréia de ‘Última Parada 174’, de Bruno Barreto. Trata-se de um remake do célebre documentário Ônibus 174 de José Padilha. O filme recria uma das maiores coberturas jornalísticas ao vivo da nossa TV. Lembram? Segundo a sinopse: ‘Incapaz de pagar suas dívidas, Marisa vê seu bebê ser tomado pelo chefe do tráfico local. Rio de Janeiro, 1993. Sandro, de dez anos, vê a mãe ser morta na sua frente. Morando na rua, consume drogas e comete pequenos furtos. Pouco tempo depois, testemunha outra tragédia: a chacina da Candelária, na qual policiais mataram oito jovens e meninos de rua. Porém sua vida muda quando Marisa o confunde com o filho que guarda na memória. Uma relação comovente se estabelece entre os dois desamparados. Mas, sem conseguir escapar à dura realidade, Sandro decide seqüestrar o ônibus 174’.

Hoje, o trágico final é história. Uma história que ainda se repete diariamente nas ruas violentas do Rio de Janeiro. Um alerta para o Brasil de amanhã. Afinal, o que costuma acontecer no Rio, tende a se repetir no resto do país. Mera questão de tempo.

Última Parada 174 é mais um filme imperdível do Festival do Rio 2008. Principalmente, para os jornalistas – jovens e velhos – que ainda acreditam que ainda podemos mudar o mundo e que o cinema, além de ser a melhor diversão, é ótima fonte de informação.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Atualmente, faz nova pesquisa de pós-doutorado em Antropologia no PPGAS do Museu Nacional da UFRJ sobre a ‘Construção da Imagem do Brasil no Exterior pelas agências e correspondentes internacionais’. Trabalhou na Rede Globo no Rio de Janeiro e no escritório da TV Globo em Londres. Foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. É responsável pela implantação da TV UERJ online, a primeira TV universitária brasileira com programação regular e ao vivo na Internet. Este projeto recebeu a Prêmio Luiz Beltrão da INTERCOM em 2002 e menção honrosa no Prêmio Top Com Awards de 2007. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’, ‘O Poder das Imagens’ da Editora Livraria Ciência Moderna e o recém-lançado ‘Antimanual de Jornalismo e Comunicação’ pela Editora SENAC, São Paulo. É torcedor do Flamengo e ainda adora televisão.’

 

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