Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Crítica diária

21/06/07

Os leitores da edição São Paulo (concluída à 0h23) não receberam a notícia sobre o estado de saúde do senador Antonio Carlos Magalhães.

Os da edição Nacional (concluída às 21h07) receberam (‘Familiares reconhecem que estado de senador é grave’, pág. A9).

Os leitores da edição Nacional foram informados sobre a camaradagem do governo do Paraná com as emissoras de rádio (‘Requião renova desconto para rádios em troca de publicidade para a Copel’, pág. A13).

Os da edição São Paulo leram texto idêntico, na mesma página, com o mesmo título. Mas leram mais: a mesma reportagem também saiu na pág. A9, em versão reduzida, com o título ‘Requião concede desconto a rádios em troca de anúncios’. Foi publicada no espaço onde estava a notícia sobre ACM, excluída da edição que fecha mais tarde.

Pelo segundo dia consecutivo, a Folha edita em Brasil, duas vezes, a mesma reportagem. O leitor é o prejudicado com o desperdício de papel (o texto sobre ACM foi suprimido) e de tempo (é levado a ler dois textos que são variantes em tamanho da mesma reportagem).

Erramos errado?

Erramos afirma que Waldomiro Diniz foi ‘flagrado recebendo propina’. O correto não seria ‘pedindo’ ou ‘negociando’ propina?

Erramos para pensar

A Folha deveria analisar a qualidade da cobertura que faz do clube esportivo mais popular do Estado onde o jornal é editado. O Erramos de hoje, confirmando impressão manifestada nesta crítica, expõe apuração frágil, distante do cotidiano da equipe de futebol.

O texto de hoje sobre o clube, em sete linhas (‘Carpegiani escala Dinelson entre os titulares’, pág. D5), é menor que os destinados a Palmeiras, São Paulo, Santos, times do Rio no ‘tapetão’, treino da seleção (em subretranca), seleção de Guadalupe, hipismo, batida na Fórmula 1 e espiritismo no Pan.

Sem outro lado

Na edição São Paulo, há parágrafos quase idênticos nos textos ‘Após perícia da PF, Senado adia decisão sobre Renan’ (pág. A4) e ‘Relator-relâmpago doou R$ 1,2 milhão a campanha de ministro das Comunicações’ (pág. A6). Trocam-se apenas palavras, em adaptação ao espaço disponível.

A Folha deveria evitar esse procedimento.

Não é o maior problema. O senador Wellington Salgado é acusado em ação popular citada pelo jornal, mas não foi procurado para se manifestar.

O ‘outro lado’, mais que direito de personagem ou instituição objeto da atenção jornalística, é um direito do leitor.

Lide no pé

Frase derradeira da reportagem ‘Renan descarta renúncia e ataca mídia’ (alto da pág. A6): ‘No último contato, [Renan Calheiros] pediu que o líder do governo trabalhasse para restringir o foco de investigações da PF de forma a não buscar novos papéis em Alagoas’.

Para entender a frase acima

Nota do Painel explica o temor do presidente do Congresso: ‘Prognóstico de quem conhece a fundo a base eleitoral de Renan: ´Alagoas não resiste a mais uma semana de investigação jornalística´‘.

Pautas cifradas

Já que a Folha se sente à vontade para publicar o teor de ameaça de Renan Calheiros a senadores, deveria apurar o seu conteúdo. O jornal informa que ‘outro líder partidário teria uma dívida de R$ 50 milhões com um banco estatal’ (em ‘Grupo de Renan faz ameaças veladas para intimidar senadores’, pág. A7).

Penso ser um erro publicar acusações como essa, sem identificar o parlamentar (mesmo que haja realmente um endividado, todos os líderes se transformam em suspeitos).

O desafio é investigar se há um líder partidário devendo a banco público e em que medida isso influencia o seu comportamento no Senado.

Já era

A nota ‘Orai por nós’ (pág. E2) trata o senador Wellington Salgado como relator do caso Renan no Conselho de Ética. Como se lê em Brasil, o senador deixou o cargo.

Sei que a Ilustrada é concluída no começo da tarde, mas o fato é que o leitor recebeu uma informação errada, que o jornal deveria corrigir.

Nem choro nem vela

Depois de tanto destaque para a Operação Navalha e as articulações para criar uma CPI que investigasse o assunto, a Folha não dá nem chamada na primeira página ao fim da comissão que nem começou.

Questão de classe

Há referência à ‘classe artística’ no texto ‘Debate sobre classificação opõe Tarso e artistas’ (pág. A12).

É direito dos artistas se definirem como classe, mas a Folha deveria evitar o que é, além de conceito impróprio, um lugar-comum.

Assim é, se lhe parece

Título no alto da pág. B3 da Folha: ‘Registro em carteira cresce e diminui o déficit do INSS’.

Título no alto da pág. B7 do ‘Estado’: ‘Rombo do INSS aumenta 16,6%’.

Os números divulgados ontem pela Previdência Social parecem permitir ambas as interpretações.

Notícia escondida

Diz o título na pág. B5: ‘Barros de Castro dará assessoria a Mantega’.

É um equívoco jornalístico.

O núcleo da notícia é que Antonio Barros de Castro caiu, deixou de ser o diretor da área de planejamento do BNDES. O novo presidente, Luciano Coutinho, começou a mudar o comando do banco.

O texto não explica ao leitor o significado da mudança, o que é papel fundamental de um jornal diário.

Aeroportos quentes, jornal frio

A cobertura sobre a crise aérea tem declarações, bastidor sobre o poder (governo e controladores), análise da colunista de defesa do consumidor. Pareceu faltar o clima nos aeroportos, a reação (ou falta dela) dos passageiros.

Uma das maiores armadilhas de coberturas de problemas que se eternizam é pensar que, de tanto que foram noticiados, eles não têm mais interesse jornalístico.

O filho do Chacrinha

A Folha considerou mais importante publicar o nome de um filho do Velho Guerreiro do que o dos três delegados presos na segunda fase da operação Hurricane (considero a edição São Paulo).

O texto dá a entender que José Renato Barbosa de Medeiros é policial. Não é.

Dá também a entender que Medeiros foi levado para a prisão. Não foi.

Ao buscá-lo, os policiais se depararam com um cidadão tetraplégico, que teria passado mal. Por isso, foi autorizada a prisão domiciliar. É o que li no resto da imprensa.

Na mesma tecla

O noticiário sobre a reintegração de posse em prédio da Unesp lembra que a ocupação da reitoria da USP por estudantes é anterior e que há ordem judicial para a desocupação.

O jornal publicou declaração de um secretário de Estado, mas não esclareceu o motivo para a Polícia Militar agir primeiro na Unesp.

Repito: a Folha dá a impressão de não estar bem informada sobre os bastidores do governo estadual.

Exemplo de pluralismo

Ficaram muito boas a capa e a pág. 3 da Ilustrada, sobre o escritor sul-africano J. M. Coetzee. A composição com uma crítica entusiasmada ao seu novo livro (‘Autor vai fundo ao confundir real e ficcional’) e um artigo de acento mais crítico (‘Autores do porte de Coetzee não precisam de complacência’) é uma idéia a ser repetida.

Reportagem

Criativo, útil, curioso e rigoroso, o texto ‘Ponte-Aérea gastronômica’ é uma peça jornalística de serviço que se enquadra no gênero da reportagem, o que não é habitual. Deveria inspirar a Folha.

Concorrência

Na série que o jornal publica sobre impunidade, o ‘Globo’ traz hoje uma boa reportagem sobre o assassino Pimenta Neves.

Com um enviado especial à Faixa de Gaza, o ‘Estado’ faz a mais interessante cobertura da crise palestina entre os jornais brasileiros.

Errei

A nota ‘Furo’, da crítica de ontem, estava errada. Nela, eu apontei como exclusiva a reportagem do ‘Estado’ ‘Renan infla vencimentos com verba destinada a despesas de gabinete’.

Tal informação consta da Folha de 7 de junho, na reportagem ‘Patrimônio de senador cresceu 73% em 4 anos’ (pág. A13).

20/06/07

Manchete da Folha em 5 de junho: ‘Operação da PF atinge irmão de Lula’.

Manchete em 6 de junho: ‘Lula defende irmão, mas apóia investigação da PF’.

Manchete em 9 de junho: ‘Irmão usava nome de Lula para obter dinheiro, diz PF’.

Manchete em 13 de junho: ‘Lula diz duvidar que irmão seja lobista’.

Título da primeira página de hoje da edição São Paulo, em modestas duas colunas: ‘Compadre do presidente e mais 38 são denunciados’.

O título oculta o fato de que Vavá, o irmão mais velho do presidente da República, não foi denunciado pelo Ministério Público.

Antes, a Folha acertou ao destacar informações que tinham relevância jornalística.

Hoje, cometeu um erro grave.

Bom trabalho

A dupla de repórteres que cobriu a Operação Xeque-Mate em Campo Grande foi responsável por muitas revelações, desde o furo sobre o indiciamento de Vavá pela PF.

Nesta semana, foi bem na conclusão do inquérito policial: não antecipou a acusação ou não de Vavá à Justiça, pelo Ministério Público, embora talvez existissem indícios de que a denúncia ocorreria.

Título de segunda do ‘Estado’: ‘Irmão e compadre de Lula serão denunciados hoje’.

O irmão não foi.

Título de segunda do ‘Globo’: ‘MP apresenta denúncia contra Vavá e Morelli’.

Contra Vavá, não apresentou.

Não é o que parece

A primeira página, em desenho que confunde, dá a impressão de que Érika Ikezili é a modelo da fotografia de desfile, acima da chamada. Em Cotidiano, os não-iniciados no mundo fashion a esmagadora maioria dos leitores descobrem que Érika é uma estilista.

Super-superleitor

Nem o secretário estadual paulista Pinotti, assíduo freqüentador do Painel do Leitor, é páreo para o secretário de Coordenação das Subprefeituras de São Paulo, Andréa Matarazzo. Em cinco dias, Matarazzo ocupa hoje, pela terceira vez, um espaço que deveria ser reservado aos ‘leitores comuns’.

Papel sobrando

Na edição São Paulo, concluída à 0h19, a mesma reportagem que ocupa o alto da pág. A5 (‘Perícia da PF aponta divergências e complica o quadro’) é publicada, em versão reduzida, na pág. A4 (‘Perícia da PF em documentos é inconclusiva’).

Notícia escondida

As reportagens feitas em Alagoas são um bom diferencial da Folha hoje. É uma pena que tenha sido condenado ao pé de página, em três colunas, o texto ‘Motorista deu R$ 126 mil em cheques por compra de gado do senador em Alagoas’ (pág. A5).

Um reparo: o bairro de Maceió citado duas vezes como Benedito ‘Bentis’ se chama Benedito ‘Bentes’.

É muito boa também a reportagem no alto da pág. A6, ‘Fazendas de Renan podem valer mais de R$ 6 milhões’.

Clichê

A Folha cede ao lugar-comum ao publicar a manjada foto de um personagem virado para uma direção (Lula) e um segundo personagem (Mangabeira Unger) para outra, sugerindo divergência e afastamento. Na edição São Paulo saiu na pág. A8. Na edição Nacional, na primeira página.

Furo

Não vi na Folha a boa reportagem do ‘Estado’ ‘Renan infla vencimentos com verba destinada a despesas de gabinete’.

Se foi mesmo furo, o jornal deveria recuperar.

Legenda errada

Chad Hurley e Steve Chen, fundadores do Google, são identificados erradamente em legenda de foto na pág. B10.

Comércio eletrônico

Fez bem o jornal em recuperar o furo de ontem (‘Estado’ e ‘Globo’, pelo menos) sobre os preparativos das Casas Bahia para vender pela internet.

Citando também outras redes do varejo que partem para o comércio eletrônico, o jornal destaca o grande crescimento que esse tipo de venda observa no Brasil. Poderia ter enriquecido a reportagem acrescentando os números de texto da primeira página do ‘New York Times’ do domingo passado: nos Estados Unidos, começou a cair o ritmo do aumento do comércio eletrônico.

Uma curiosidade, a checar no futuro: qual será o impacto do novo sistema nos gastos em publicidade das Casas Bahia, um dos maiores anunciantes do país.

Jornalismo comodista

A reportagem sobre a ex-miss anoréxica (‘Após ser miss São Paulo, Juliana, 1,80 m e 52 kg, luta contra a anorexia’, pág. C4) afirma: ‘Juliana prefere não citar os nomes das agências onde trabalhou’.

Quer dizer que, se o entrevistado cala, a Folha não apura? Esse é um modelo cômodo e ruim de jornalismo.

Ainda sobre comodismo: por que abreviar, na legenda, ‘no destaque’ como ‘no dest.’? Era muito fácil escrever ‘destaque’, bastava tentar uma das infinitas formulações possíveis.

Retratos do Brasil

Foi bem-sucedido o esforço da Folha para perfilar os campeões do Enade. O Painel revelado pela apuração da Reportagem Local, das sucursais de Brasília e Rio e da Agência Folha é rico e interessante.

Observações pontuais: o texto não informa o que quer dizer a sigla ‘Enade’, embora explique o que se trata; que eu saiba, mestrandos escrevem dissertações, e não teses, que são atribuições de doutorandos; como vivem bolsistas de pós-graduação, de quem se exige dedicação exclusiva, recebendo R$ 940 ou R$ 1.394 por mês?; vale reportagem.

Manual ignorado

Afirma o ‘Manual da Redação’ (Publifolha, 2001) no verbete ‘penalizar’ (pág. 135): ‘Segundo o dicionário ´Aurélio´, o verbo significa causar pena, afligir. Na Folha, não deve ser usado como sinônimo de punir’.

Linha-fina da pág. C8, sobre a invasão de prédio da Unicamp: ‘Universidade ameaça penalizar estudantes com advertências e até expulsão’.

Diplomacia

Legenda na pág. E2 se refere a Rubens Barbosa como ‘ex-embaixador’. Por que ex? Ao deixar de exercer a função o diplomata perde o título de embaixador?

É melhor escrever ‘embaixador aposentado’ ou outra variante, conforme a pessoa. Ou se referir, por exemplo, a ‘ex-embaixador em Washington’, especificando a cidade e o país onde o diplomata serviu.

19/06/07

Oferecer o melhor resumo possível dos fatos da véspera continua a ser um desafio fundamental do jornal diário. Cabe a ele ordenar e hierarquizar os acontecimentos, ajudando o leitor a entendê-los e a formar juízo.

O jornal não deve, contudo, ignorar a overdose informativa contemporânea. Além da relevância de cada fato, precisa destacar o que tem de exclusivo em informação e análise.

A manchete de hoje, necessariamente, havia de ser sobre o Caso Renan Calheiros. A da Folha: ‘Relator sai; Senado volta a adiar votação sobre Renan’. Como se pode ler na coluna Toda Mídia, durante toda a segunda-feira os meios de comunicação anunciaram e cobriram os fatos que constam da manchete. A saída do relator Epitácio Cafeteira foi divulgada logo cedo.

Quando a força da notícia se impõe ou faltam opções fruto de apuração exclusiva, não constitui equívoco jornalístico estampar o título principal da primeira página com informação batida do dia anterior.

Mas penso que a manchete de hoje, contando o que parte expressiva dos leitores já sabia, não foi a melhor escolha.

A Folha tinha boas reportagens, opções melhores para manchetar. Uma delas, que teve chamada na primeira página da edição Nacional (‘Investigação em Alagoas não pede documentação’), mostra a suposta falta de empenho de funcionário do Senado para investigar os negócios do presidente da Casa. A concorrência fez em Maceió coberturas formais e acríticas. A Folha poderia ter elegido essa reportagem para a manchete. Não o fez, e a chamada caiu na edição São Paulo/DF, quando o texto foi publicado em pé de página.

Outra opção mais interessante para a manchete era a reportagem que substituiu, na edição São Paulo (‘Laudo vê dados inconsistentes na defesa do senador’), a chamada sobre a ida de um secretário do Senado a Maceió. É um furo importante, como o outro.

A Folha, contudo, preferiu uma manchete previsível, sem o impacto e o espírito crítico das duas alternativas.

Exagero

Além de assinar artigo sobre reforma política na seção Tendências/Debates, o deputado Flávio Dino ainda emplaca declaração na seção Tiroteio, do Painel, sobre o mesmo tema.

Onde está o lide 1?

A boa reportagem ‘Senado não investiga compradores de gado’ (pág. A4), uma das duas alternativas para a manchete, só começa a contar o que tem de principal na 22ª linha, no terceiro parágrafo. Há reportagens (de jornalismo dito narrativo) em que o lide pode estar até no último parágrafo, mas não era o caso desta, a considerar a maneira como se estrutura.

A chamada de capa da edição Nacional e o título interno, porém, vão direto ao assunto.

Onde está o lide 2?

O título do alto da pág. A6 (‘Advogado bate boca com aliados de Renan’) não contém a informação principal do texto, expressa em parte da linha-fina: ‘Pedro Calmon acusa senador de ter pago R$ 9.000 ´por fora` a jornalista’.

Essa informação rendeu a manchete do ‘Estado’: ‘Renan exigiu pagar pensão ´por fora´, afirma advogado’.

Motivo suplementar para evitar o título seria o fato de que bate-bocas no Congresso já se tornaram habituais.

Mais uma pergunta

É boa a reportagem ‘Em 2 anos, senador comprou 3 fazendas e formou rebanho com mais de mil cabeças’, embora não tenha as informações do ‘Estado’ sobre os negócios de Renan Calheiros e seu irmão deputado Olavo.

Até agora, o presidente do Senado afirma que pagou despesas pessoais com recursos oriundos da venda de gado. Ocorre-me outra pergunta: com que recursos o senador comprou o gado? O registro dos seus ganhos sustenta a aquisição de bois, vacas e fazendas?

Manual – A quem de direito

Diz o ‘Manual da Redação’ (Publifolha, 2001) no verbete ‘furo tomado’, na pág. 42: ‘A Folha não deixa de publicar informação que outro jornal, revista, emissora de rádio ou TV já tenha noticiado com exclusividade. A Folha cita nominalmente o veículo de comunicação que tenha dado um furo importante’.

É isso o que faz, acertadamente, o item 1 do quadro ‘O cerco a Renan’ (pág. A6), identificando a revista Veja como autora do furo sobre os pagamentos feitos por um lobista em nome do senador Calheiros.

No item 2, contudo, se escreve: ‘Fato novo – Surge a notícia de que empresas que seriam clientes de Renan não existem, não compraram gado do senador ou não emitiram recibo das transações’.

A notícia ‘surgiu’ no Jornal Nacional, da TV Globo. A Folha deveria dar o crédito.

O lobista que não é

Fez bem o jornal em registrar que Cláudio Gontijo, amigo de Renan Calheiros, negue que atue como lobista (‘Lobista da Mendes Júnior diz ter falado de obra com Renan’, pág. A7).

No entanto o texto não diz como Gontijo se qualificou e apresentou no Senado. É uma informação importante, que os leitores não receberam.

Onde está W?

A reportagem ‘Caso Waldomiro pode ter elo no exterior’ (pág. A8) estimula a curiosidade: o que faz e do que vive hoje Waldomiro Diniz, ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil?

Sedução, palavra feminina

Não vi na cobertura da Folha a declaração do senador Gilvan Borges sobre a sedução das mulheres (peço desculpas caso não tenha reparado; considero a edição São Paulo/DF fechada às 23h23). A frase dá idéia do nível dos debates de ontem no Senado.

Língua de gente

Merece entusiasmados aplausos o emprego da expressão ‘não telefonou de volta’ em ‘Denúncia sobre a Xeque-Mate é adiada’ (pág. A8). Como sabem os leitores, a Folha se habituou a usar o estranho ‘não retornou’ para informar que pessoa ou instituição procurada para o ‘outro lado’ não telefonou de volta.

Governador fotogênico

É difícil entender o que faz a fotografia do governador José Serra encimando o texto ‘PT decide por meio-termo entre lista fechada e aberta’ (pág. A11; a propósito, título é bom, melhor que as variantes com o adjetivo ‘flexível’).

Serra é citado pela primeira vez na 44ª linha, do total de 59. A notícia principal era sobre a decisão e o embate interno do PT. O presidente do partido, Ricardo Berzoini, tem declaração publicada. Mas a foto foi do governador de São Paulo.

Foto divulgação

A fotografia de Serra tem o crédito ‘Divulgação’, o que permite suspeitar que a Folha cubra sem fotógrafo próprio as atividades do governador do Estado onde o jornal é editado.

Se for isso mesmo, o procedimento pode ter conseqüências ruins para os leitores: os serviços de divulgação do governo tendem a distribuir somente imagens nas quais pensam que o governante sai bem.

Se houver uma imagem indesejada, como a da ministra Marta Suplicy na semana passada (a Folha fez bem em publicar), o jornal não a receberá do Palácio dos Bandeirantes.

Se ocorreu o que parece, a Folha deveria repensar a prática e escalar sempre repórteres-fotográficos seus na cobertura do governador.

Forever

O texto ‘Mc Cartney e Ringo irão se reunir para lembrar Lennon’ (pág. A12) omite a informação de que a homenagem será também para George Harrison. A informação cabia no espaço disponível.

Depois, são citadas as senhoras Yoko Ono e Olívia Harrison. O leitor não é obrigado a saber quem são elas.

Prática da dependência

O pequeno texto ‘País se prepara para agressão, diz Fidel Castro’ (pág. A13) tem crédito ‘Da Redação’, acrescido no pé: ‘Com agências internacionais’.

Se o texto só publicou declarações que saíram no diário oficial ‘Granma’, à disposição na internet, com uma breve contextualização, qual foi o papel das agências internacionais (mais de uma!) em sua elaboração?

Bastaria acessar o site do jornal, destacar as informações principais e informar em que momento político o pronunciamento de Fidel Castro ocorre.

O jornal depende demais das agências noticiosas. Mesmo quando, aparentemente, não precisa delas, bebe naquelas fontes assim mesmo.

Folha versus Folha

A primeira página destaca apenas uma informação de Ciência (‘Em manuscrito, Isaac Newton prevê apocalipse a partir de 2060’).

Em Ciência, a informação principal, no alto da pág. A16, é ‘Aquecimento adianta primavera ártica’, e não o assunto preferido pela primeira página.

O leitor fica sem saber o que, de acordo com a avaliação da Folha, é mais importante ou interessante.

Álcool na bomba

É muito boa a reportagem da capa de Dinheiro, ‘Distribuição concentrada encarece álcool’. O jornal faria bem se continuasse a acompanhar com especial atenção o preço do combustível nos postos, informação de interesse de muitos leitores.

Para iniciados

O texto ‘BB alcança a liderança do mercado’ (pág. B2) trata de crédito consignado. O leitor não tem obrigação de saber o que isso significa. Cabe ao jornal explicar.

Pensamento único

Tem tom oficialista, quase de press release, o texto ‘Sem reforma, déficit do INSS pode triplicar’ (pág. B4).

O problema começa com o emprego do verbo ‘poder’ em título. Como se sabe, tudo ou quase ‘pode’. Verbo com ‘poder’ costuma ser jornalisticamente muito fraco.

O texto apresenta só a visão do governo, no caso projeções do Ministério da Previdência Social. Não ouviu quem tem opiniões e interesses diferentes.

O estudo ‘pode’ até estar correto, mas funciona mais como instrumento de pressão contra os aposentados, se não confrontado com fontes que divirjam.

Do jeito que foram publicadas, as projeções ministeriais caberiam mais em espaço de opinião que no noticioso.

Repeteco

Tem também tom oficialesco o texto abaixo, ‘Previdência quer atendimento mais rápido’ (pág. B4). Um press release não teria teor muito diferente.

Faltou dizer

Parece mesmo um negócio de monta o da Embraer, que recebeu encomendas de US$ 3,1 bilhões.

O jornal não informa, contudo, a capacidade dos aviões vendidos, o E-Jet 190 e o E-Jet 170. É informação obrigatória nesse tipo de notícia.

Pauta

O texto ‘Pescador quer prazo para se adaptar a regra para lagosta’ (pág. B13) é um estimulante convite para apuração: como vivem hoje os pescadores? Qual o impacto das novas regras nas suas vidas? Como se discute a combinação da defesa dos cardumes com a necessidade de sobrevivência dos trabalhadores?

O tema rende reportagem das boas.

Uma gravidez

É boa a suíte ‘Fechamento de bingo irregular leva 9 meses’, na capa de Cotidiano. Faz bem o jornal em seguir atento a um caso relevante e revelado por ele.

Frase do dia 1

‘Definitivamente, a República Federativa do Brasil vai dar lugar à República Federativa dos Bancos no Brasil’.

É da colunista Maria Inês Dolci, na pág. C2. As informações sobre projetos pró-bancos e anti-consumidores merecem atenção da Folha e destaque em suas páginas.

Manual – Mão boba

Estão errados título e texto na pág. C4, sobre o furto dos braços de estátua de Pelé (‘Em Salvador, estátua de bronze de Pelé tem braços roubados’).

Como diz o ‘Manual’ no verbete ‘furto/roubo’ (pág. 158), o que houve foi um furto.

Faltou dizer que a taça Jules Rimet original foi furtada no Rio e conta-se derretida.

Repórter-fotográfica

São muito boas e contêm informação importante as fotos (uma na primeira página) mostrando o teto do Masp avariado.

Dois pesos

Falta equilíbrio ao texto ‘Marta volta à Prefeitura de SP para discutir projetos com Kassab e elogia prefeito’ (pág. C8).

Por que, ao informar incorretamente, a ministra ‘deu mostras de que não conhece os trâmites do assunto no governo’, e Kassab, ao errar nome de rua, ‘cometeu um ato falho’?

O tratamento diferente permite a conclusão subliminar: Marta é ignorante e Kassab, não; o prefeito apenas se enganou.

Fashion paper

Chamou a atenção a aparente contradição entre duas passagens do texto ‘Huis Clos define novo verão com coleção ´surf noir´‘ (pág. C9).

Primeiro, se lê que um desfile foi ‘marcado por coleções bastante realistas e conectadas ao uso prático da roupa’.

Depois, sobre a coleção: ‘A imagem é a de uma mulher que anda por uma metrópole e deseja estar perto da praia’.

Tudo bem que texto sobre moda não deve carecer de criatividade. Mas deveria manter certa lógica. ‘Mulher que anda por uma metrópole e deseja estar perto da praia’, no que diz respeito à moda, é algo ‘realista’?

Ainda corintianos?

Não tenho acompanhado com a atenção de outrora o Campeonato Brasileiro, mas me detive no texto de hoje sobre o mais popular clube paulista (‘´Abandonados` de Itaquera voltam se Carpegiani quiser’, pág D1).

Entre os seis citados como de retorno possível ao time do Corinthians (estariam treinando no clube), estão o lateral-direito Tamandaré, o volante Daniel e o atacante Jean Carlos.

Eu pensava que o primeiro tinha se transferido para o Sport, o segundo para o Náutico e o terceiro para o Fluminense.

Mas posso estar enganado.

Panorâmica

A fotografia da pág. D3 é um bom exemplo de como a imagem pode ser não apenas complemento informativo, mas informação principal: aberta em seis colunas, a foto permite ver como é o tal treinamento em campo reduzido tratado no texto ‘Como técnico, Dunga clona Parreira’.

Frase do dia 2

Na boa (tanto a reportagem como o comentário) capa da Ilustrada dedicada ao fracasso de audiência da série televisiva ‘A Pedra do Reino’, lê-se a frase do diretor Boninho: ‘[…] Arte e inovação não caminham juntas na televisão’.

Niemeyer, 99 (ou 60)

Fazia algum tempo que eu estava para comentar o que me parece um excesso de notícias sobre Oscar Niemeyer na Folha.

A reportagem ‘Cem é sacanagem, pô! Eu tenho 60!’ (pág. E2) prova que, com talento, é possível fazer uma ótima cobertura de evento em que o protagonista é alguém que parecia arroz de festa nas páginas do jornal. Parabéns.

18/06/07

A Folha de hoje não tem nenhum Erramos. A de ontem não teve nenhum na edição Nacional e apenas um na São Paulo. Como não existe jornal sem erros, como comprova diariamente o ‘New York Times’ com sua vasta lista de correções, é mais provável que os mecanismos de correção de informações da Folha não estejam funcionando com a agilidade necessária.

Fim de semana frio

O noticiário do fim de semana sobre a operação Xeque-Mate marcou a exaustão da cobertura, à espera da denúncia a ser oferecida pelo Ministério Público, para eventualmente trazer novas informações relevantes.

Mais quente, o caso Renan Calheiros alimentou-se das suítes do furo do Jornal Nacional na semana passada.

Para registro: a informação exclusiva da TV Globo foi obtida graças à reportagem feita em Alagoas, batendo de porta em porta, apurando no local _e não de Brasília, onde os jornalistas aparentemente obtiveram os papéis apresentados pelo senador Calheiros em sua defesa. Os papéis foram o primeiro passo (ou um dos primeiros) da investigação que resultou na ótima reportagem.

Manchete fraca

O caso contado pela manchete de hoje (‘Governo paga para retirar córneas que vão para o lixo’) é interessante e merecia ser noticiado. Tenho dúvida, entretanto, sobre sua escolha para o espaço mais nobre do jornal.

Cobrar da União por córneas que sabidamente não serão aproveitadas é um escândalo, mesmo (ou ainda mais) que a legislação permita.

Trata-se, porém, de gasto anual de (ao menos) R$ 6,3 milhões pelo governo federal. Para comparar: os desembolsos públicos no Pan já beiram os R$ 4 bilhões, e esta gastança nunca rendeu manchete.

Mais: segundo o Ministério da Saúde, a média nacional de descarte de córneas é de 30%. Nos EUA, de 50% (lá, contudo, ‘não há dinheiro público envolvido’, como diz a boa reportagem).

Se não havia chamada forte para o caso Renan Calheiros, se o título sobre as propinas pagas à polícia paulista recuperava furo do ‘Estado’, havia pelo menos fatos na crise palestina para bancar manchete de maior importância que uma envolvendo parcela de valor ignorado, possivelmente minoritária de R$ 6,3 milhões.

Superleitor

O secretário municipal Andrea Matarazzo emplacou uma carta no Painel do Leitor do sábado e outra hoje. Mais uma vez, são mensagens publicadas em espaço impróprio. Deveriam sair como declarações nas editorias em que foram divulgadas as informações das quais trata o missivista.

Notícia escondida – Esporte

Um texto-legenda em Esporte mostra o técnico Lori Sandri, do América-RN, saindo de campo ao ser detido por desacato em Recife. O jogo era da primeira divisão do Campeonato Brasileiro. O fato insólito não mereceu da Folha atenção suficiente nem para explicar em que contexto ocorreu. Quem o técnico desacatou? Em que situação? Foi solto depois? Como foi o empate de 2 a 2?

O TL representa pouco caso com o leitor que quer saber como o treinador se envolveu (ou foi envolvido) na confusão.

O jornal tinha uma notícia diferente e curiosa à disposição, mas praticamente a ignorou.

Notícia escondida – Dinheiro

Não é todo dia que Dinheiro traz notícias que o leitor não-iniciado em economia percebe útil à sua vida. No sábado, havia uma que dizia respeito a algo que já deve ter ocorrido com boa parte dos leitores da Folha: receber um cartão de crédito que não foi solicitado.

O texto ‘HSBC leva multa de R$ 523 mil por enviar cartão’ (pág. B8) saiu escondido, em uma coluna, em página par.

Não caberia ao jornal, em um caso como esse, publicar serviço aos leitores sobre as medidas que eles podem tomar em busca de indenização por receber cartão sem pedir?

Não se faz isso em relações às empresas aéreas? Por que não fazer com os bancos?’