Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Do areópago à ciberdemocracia

Na Grécia antiga, as pessoas tinham o saber como uma necessidade em si mesma. Foi justamente na Grécia que surgiram as primeiras formulações sobre a ética, a filosofia e a retórica, a arte de falar em público, de certo modo, um grande passo para a comunicação social tal como a conhecemos hoje. Ali também surgiu o areópago, uma espécie de ancestral tímido dos mass media.

Os gregos tinham no areópago de Atenas um espaço público que era reservado para reuniões políticas com a população. Todos podiam dar suas opiniões e expressar suas idéias. Os areópagos eram lugares onde as pessoas discutiam sobre política, representando um marco na história da democracia. Não utilizavam mais a violência para dominar e manipular, mas a palavra e o diálogo.

A mídia é considerada o quarto poder, por isso, manipuladora, formadora de opinião e possivelmente, um meio que possui liberdade de expressão. Tudo o que a mídia fizer ou manifestar será considerado como verdade absoluta.

Ágoras on line

Felizmente, com a Era da Internet, criou-se um ciberespaço que retoma a história do areópago de Atenas e desencadeia a ciberdemocracia. Foram outros veículos de informação, como o rádio e a televisão, que deram início à atual democracia, propondo debates e discutindo a política. Por exemplo, na época do nazismo, pode-se perceber o quanto o rádio foi abrangente – um marco importante na comunicação. A propaganda política era muito forte e poderosa. O rádio foi muito importante porque passava mensagens e discursos com a ideologia nazista.

Mas é através do computador que as pessoas têm maior liberdade para se conectar em rede e buscar fóruns políticos para debater idéias. Dessa forma, todos têm voz e conseguem fazer sua própria democracia virtual. As pessoas buscam tribos que pensem da mesma forma, tenham as mesmas idéias e pensem juntas sobre a política do país.

Outro ponto positivo dessa tecnologia virtual é que ela aproxima as pessoas da política, principalmente os jovens, conscientizando-os de que o diálogo e a expressão de idéias é muito mais importante do que um simples voto sem discussão ou debate. Segundo Pierre Lévy, ‘as comunidades virtuais de base territorial, que são as cidades e as regiões digitais, criam uma democracia local de rede, mais participativa. A passagem para o governo eletrônico (e a reforma administrativa que isto pressupõe) visa a reforçar a capacidade de ação das populações administradas, mais do que sujeitá-las a um poder. As novas ágoras on line permitem que novos modos de informação e de deliberação política venham à luz, enquanto o voto eletrônico vem completar o quadro de uma sincronização da democracia com a ‘sociedade de informação’’. (MORAES, 2005: p. 367).

Um areópago moderno

Nas eleições de 1989, disputadas por Collor e Lula, o voto ainda era mais importante do que a conversa. Mas na atual conjuntura, acredita Lévy, não importa só votar e, sim, o indivíduo exercer seu papel de cidadão ao dialogar com outras pessoas e trocar idéias para esclarecer possíveis dúvidas políticas.

Os meios de comunicação cresceram muito na virada do século XX para o XXI. Não há mais distinção entre os vários tipos de mídia. Um website pode proporcionar ao mesmo tempo, e de maneira complementar, textos, imagens e sons. A webmídia tem seu conteúdo organizado por temas e classificado de acordo com o grau de interesse do internauta consumidor de informação. Por conta disto, as grades de programação temporais ou emissões cronológicas, já estão virando tecnologias passadas.

Antigamente, só os considerados mais capazes, ou seja, os políticos, tinham o poder de falar o que pensavam sobre o Estado, mas hoje todos podem participar. Portanto, a comunicação está cada vez se tornando mais importante e quem tem mais instrumentos de comunicação tem mais influência na política. No entendimento de Lévy, ‘o internauta pode (virtualmente) chamar para a tela, à sua vontade, os diferentes atores sociais, porta-vozes e diversos representantes de partidos ou grupos de interesses, para ouvir suas declarações ou examinar seus argumentos’ (MORAES, 2005, p. 370).

A política e a comunicação se completam e cooperam uma com a outra. Como dizia Aristóteles, exercitar a política significa usar corretamente a comunicação. Portanto, esse ‘areópago moderno’ é de extrema importância nas articulações e decisões políticas.

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Estudante de jornalismo da UniFIAM-FAAM, São Paulo.