Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Denúncias além do WikiLeaks

Investigadores do Exército encontraram quase meio milhão de relatórios de campo do Iraque e Afeganistão em um cartão de memória de um computador entre os pertences do soldado Bradley Manning, com uma nota sugerindo que o destinatário não identificado “ocultou esta informação” enquanto decidia de que melhor maneira distribuí-la, declarou uma testemunha na audiência de segunda-feira.

A nota qualificava os relatórios como “possivelmente alguns dos mais importantes documentos do nosso tempo” e dizia que eles acabariam com a “névoa da guerra” e revelariam “a real natureza da guerra assimétrica do século 21”, declarou o agente especial do Exército David Shaver ao oficial que conduz as audiências preliminares em Fort Meade. Manning, de 24 anos, é acusado de fornecer centenas de milhares de documentos para o site WikiLeaks quando servia como analista do serviço de inteligência no Iraque. Ele é acusado de auxiliar o inimigo e violar as normas.

No quarto dia de audiências, membros da Unidade de Investigação do Exército de Crimes Eletrônicos explicaram como examinaram os computadores pessoais e do Exércitos usados por Manning e o que encontraram. Os computadores do Exército mostraram evidências de downloads feitos de servidores no Departamento de Estado e no da Defesa. E foram encontradas quatro avaliações de presos na Baía de Guantánamo sob o nome de usuário de Manning. Um computador pessoal continha históricos das conversas sobre a liberação de informações do governo, endereços associados ao WikiLeaks e o que parecem ser as informações de contato para Julian Assange, fundador do WikiLeaks.

Herói que deveria ser protegido

Após dois dias de debates, em que a defesa de Manning argumentou que ele era um soldado com problemas que não deveria ter tido acesso a material sigiloso, seus advogados mudaram o teor da defesa, sugerindo que não havia provas de que ele seria o responsável pelos downloads ou mesmo pelas conversas pela internet. Segundo David Shaver, os computadores militares eram estações de trabalho seguras a partir das quais os analistas estavam autorizados a ler material do Departamento de Estado e do Departamento da Defesa e mais de um analista estava designado para trabalhar com esses computadores. Ele disse que mais de 100 mil telegramas diplomáticos não estariam associados a Manning e 10 mil que foram encontrados em seu computador não condiziam com os publicados pelo WikiLeaks.

O investigador Mark Johnson, que examinou o MacBook Pro de Manning, afirmou que o computador não exigia senha ao ser ligado – o que significava, admitiu, que não podia dizer com certeza se Manning era o responsável pelas conversas, os endereços de IP ou detalhes de Assange encontrados em seu computador.

Ajudar o inimigo é crime considerado capital, mas os promotores do Exército não devem pedir a pena de morte. Se condenado, Manning poderá ser sentenciado à prisão perpétua. Segundo os defensores de Manning a gravação de um ataque de um helicóptero Apache que ele teria divulgado parece mostrar evidência de um crime de guerra. O ataque em 2007 em Bagdá deixou 12 mortos, incluindo um jornalista da Reuters e seu motorista. No vídeo, pode-se ouvir a tripulação do helicóptero americano rindo e se referindo aos iraquianos como “bastardos mortos”.

Os defensores de Manning afirmam que, seja quem foi a pessoa que divulgou o vídeo, ele é um herói que deveria ser protegido por denunciar tais crimes.

***

[Matthew Hay Brown, do New York Times, é jornalista]