Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O jornalismo digital deve ir além do jornalismo

Qual conteúdo o jornalismo digital está produzindo? Qual o melhor formato para que os leitores, com novos hábitos e preferências, possam optar? A empresa jornalística em questão está pensando em ir além do jornalismo propriamente dito? Aparentemente, tais questões são perguntas meramente ilustrativas sobre o mercado de mídia como um todo, porém demonstram como o jornalismo digital se consolida, de fato, como um negócio.

Segundo um estudorealizado pela empresa de pesquisa de mercado Gfk MRI, nada menos do que 72% dos entrevistados que leram uma revista em um tablete ou e-reader no último mês disseram que preferem uma versão digital de uma revista pelo simples fato de ser mais prático do que ir atrás de uma edição impressa na banca ou esperar por uma publicação amassada no final do mês. Porém engana-se quem pensa que isso é o bastante. Para 65% dos usuários de tablet, ler uma revista impressa é mais gratificante do que ler uma digital.

A pesquisa evidencia outros pontos interessantes. Para 70% dos entrevistados, os anúncios deveriam ser personalizados com o gosto de cada um. Customização no meio digital não é algo impossível e, principalmente, prova que até mesmo os leitores já não suportam mais a publicidade pasteurizada. O mesmo número percentual de entrevistados afirmou que gostaria de comprar um produto apenas clicando no anúncio. Customização mais praticidade pode trilhar os rumos do negócio chamado “jornalismo”.

Jornalismo é produto

O jornalismo digital deve ir além do jornalismo. Conteúdo multimídia, práticas de SEO (do inglês, search engine optimization) ou distribuição personalizada em múltiplos formatos já não traz diferencial para veículo algum. O jornalismo digital deve suprir lacunas inexistentes nos tempos gloriosos do impresso. Credibilidade, conteúdo, colaboração, customização, compartilhamento e comercialização são os seis termos que devem ser levados em conta atualmente, mas sob novos olhares.

O jornalismo ainda tem por base a credibilidade que trouxe de outros canais. Quando estrategicamente utilizada, o conteúdo produzido por um veículo se torna compartilhável, já que qualquer usuário procura por informações relevantes e com qualidade na rede. Cabe única e exclusivamente ao jornalismo digital trabalhar a personalização e customização de tudo aquilo que é produzido de maneira “jornalística”. Aliás, em todos esses processos o fator “colaboração” deve estar presente de forma horizontal e transparente.

Engana-se e perde muito tempo quem afirma que o jornalismo não é um produto. Sim, é um produto e é um serviço para com a sociedade. Não há como produzir bom jornalismo sem investimento considerável. Modelos de assinaturas e publicidade personalizada são caminhos a serem trilhados de maneira eficiente entre a imprensa. O jornalismo digital, enquanto serviço, deve zelar pela ética e confiança, porém enquanto produto deve, sim, receber cifras publicitárias e estudar a melhor maneira de conseguir benefícios com esse formato.

Banda que não é larga nem móvel

Talvez pela falta expressiva na produção de conteúdo (o brasileiro consome muito, mas produz pouco) o público aqui presente não pague, em um primeiro momento, por conteúdo exclusivo, ou, quem sabe, talvez pague por uma edição digital que receba atualizações frequentes durante o dia. O jornalismo digital como um todo ainda perde muito tempo no formato PDF bruto e não traz qualquer inovação nesse campo, o que apenas facilita o “desgosto” que alguns leitores enfrentam ao procurarem uma edição digital.

Aliás, segundo o mesmo estudo, 43% dos entrevistados disse encontrar dificuldades em encontrar revistas que procuram e quase 50% afirmou ter problemas em baixar uma revista. Agora coloque isso no cenário brasileiro: o nosso jornalismo não inova em formato e setor algum, tem vivido na base de memese, principalmente, o país sofre com abanda larga móvel que não é larga e nem móvel. Pensou nesses fatores quando criou sua edição digital? O jornalismo digital deve ir além do jornalismo.

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[Cleyton Carlos Torres é jornalista, blogueiro, pós-graduado em Assessoria de Imprensa, Gestão da Comunicação e Marketing e pós-graduando em Política e Sociedade no Brasil Contemporâneo]