Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Microsoft contra Apple e Google

Alguém se atrapalhou: o Lumia 900, celular matador que une Nokia e Microsoft, foi lançado mundialmente nos EUA, domingo (8/4). Páscoa. Com todas as lojas, evidentemente, fechadas. Sem foto de filas na porta. O preço, lá fora, é agressivo: US$ 99. Para comparar, o iPhone 4S mais barato sai pelo dobro disso. O Galaxy Nexus, da Samsung, com sistema Google Android, sai pelo triplo. Aqui no Brasil, ele está para ser homologado pela Anatel, mas ainda não há data de lançamento. Trata-se da maior aposta da empresa de Bill Gates para reverter sua má onda nos últimos anos. E a estratégia tem chances de dar certo.

O Windows continua usado por meio mundo. É o principal sistema operacional para computadores. O problema é que computadores não ocupam mais o papel central em nossas vidas digitais. Passamos mais horas na internet, “fora” de nossos computadores, do que resolvendo problemas neles. Celulares conectados à rede crescem exponencialmente em uso. E a curva dos tablets segue a mesma tendência. Não é difícil imaginar um futuro, uma década ou talvez bem menos, em que a vida digital passe ao largo do PC de mesa. Digital e móvel já começam a soar sinônimos hoje mesmo. Este mundo de celulares e tablets, porém, é dominado por outros.

Números da consultoria Gartner para o último trimestre de 2011, celulares em todo o mundo: em primeiro, com 50,9%, Android; iPhones em segundo, com 23,8%, seguido do antigo sistema da Nokia, o Symbian, com 11,7% e do BlackBerry, com 8,8%. Tanto Google quanto Apple cresceram em relação a 2010. Symbian e BlackBerry despencaram.

A Nokia, que nos tempos pré-smartphone dominou o mundo dos celulares, está tentando dar a volta por cima. Para a Microsoft, que tem um contrato de exclusividade, a ambição é maior. Quer virar a terceira via, ali entre Google e Apple. Hoje, quase ninguém usa seu Windows Phone e mal há aplicativos para o sistema, embora já circule faz dois anos.

Mobile 8 vai causar insatisfação

A Microsoft está se virando toda para emplacar o projeto. O próximo Windows dos PCs será uma adaptação do Windows Phone para a tela grande. A ideia é que celulares, tablets e computadores operem todos segundo uma mesma lógica, pensada mais para o móvel do que para a mesa. O preço jogado lá embaixo está no mesmo pacote. É o smartphone mais barato da loja, então quem não comprava esse tipo de celular talvez se veja tentado. Só em março deste ano, segundo a Nielsen, o número de smartphones chegou a 50% dos celulares, nos EUA. Em todo o mundo, este número é ainda de 27%. Ser líder conta, mas há muito espaço para crescimento.

O Lumia 900 não é o primeiro Nokia que roda o Windows Phone. Ele é o quarto da família e o mais poderoso, capaz de enfrentar os concorrentes, ao menos nas características técnicas. Vem com defeitos. A versão móvel do Internet Explorer, por exemplo, não diagrama os sites mais modernos, baseados em HTML5, de forma perfeita. Este não é um problema no Android ou no iPhone. A falta de aplicativos é séria, também. Mas ambos mudam se o aparelho se popularizar rapidamente. A aposta da Microsoft dará certo se os primeiros consumidores fizerem a mesma aposta, em massa.

Pelo menos uma frustração estes peregrinos do novo mundo celular vão enfrentar. Nem o Lumia 900, nem os aparelhos anteriores, aguentarão o tranco para upgrade de sistema. Quando o próximo Windows Mobile 8 vier em 2013, nenhum celular atual deve suportá-lo. Vai causar insatisfação. Afinal, em países como os EUA ou Brasil, quem compra um smartphone assina um contrato de até dois anos em troca do desconto no aparelho. O resultado é que o celular ultrapassado ainda estará nas mãos quando o sistema novo vier.

Com o mico preto na mão

Ainda assim, Nokia e Micrososft estão se mexendo, têm uma estratégia clara. A Nokia tem acordos com operadoras em todo o mundo que valem muito neste momento. A Microsoft é dona da marca Windows, o sistema mais conhecido que há. Ambas, juntas, têm dinheiro o suficiente para investir em descontos pesados. As chances de que, juntas, inaugurem uma terceira vida são altas. A turma do BlackBerry é que periga terminar com o mico preto na mão.

No último dia 3/4, a primeira ligação de telefone celular completou 39 anos. Um executivo da Motorola ligou para seu concorrente avisando que ganhara a corrida do “telefone pessoal”. As coisas mudaram muito desde então.

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[Pedro Doria, do Globo.com]