Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

A troca de mensagens nos tempos do iPhone

O que faz um homem enquanto aguarda o início e durante a sessão que o colocará na história do Congresso brasileiro como o segundo senador cassado por quebra de decoro em 188 anos? Demóstenes Torres mandava e recebia torpedos dedilhando seu iPhone 4. “Te amo muito”, escreveu sua mulher, na manhã da última quarta, durante a sessão fatídica. “Tb te amo”, respondeu ele. “Serenidade!!!!!”, replicou ela. “Estou sereno”, concluiu ele, às 12h21. Antes, a afilhada já tinha escrito: “Força na peruca!! Família unida com o senhor!! Lembre-se: já venceu!!! Bjos.”

Para “Jarbas V” (seria o senador Jarbas Vasconcelos, que diz ter votado pela cassação dele?), Demóstenes disparou, às 11h32: “Deixei em seu gabinete ‘memoriais’ que explicam o que aconteceu”. Ligou ainda para “Wellington2” (talvez o ex-senador Wellington Salgado?). Checou a lista de mensagens trocadas: “Benedito C” (o número da casa do irmão, Benedito Torres?), “Kakay” (apelido de seu advogado, Antonio Carlos de Almeida Castro), Luciano Feldens (outro advogado de sua defesa). Olhou a foto da mulher sorrindo na tela de fundo.

Viramos uma civilização de seres cabisbaixos, que se esbarram nas ruas encantados pela telinha luminosa. O vício em celulares inteligentes é tão forte como outros, segundo Leslie A. Perlow, professora de Harvard e autora de Sleeping with Your Smartphone (dormindo com seu celular). Já existe até palavra para o medo de perder o aparelho: “nomofobia”, do inglês no-mobile phobia. Surgiu como resultado de um estudo que descobriu que 53% dos ouvidos sentem ansiedade semelhante à de ir ao dentista ao pensar em perder o celular, ficar sem bateria ou crédito.

Pelo vício perdemos nossa privacidade todos os dias, como fez Demóstenes na quarta-feira (11/7), flagrado por fotógrafos enquanto digitava. Se bem que o hoje ex-senador perdeu mais, por outros hábitos, e não houve peruca que o salvasse.