Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

“Caí fora do Facebook e me senti melhor”

O teórico britânico Andrew Keen, polêmico pensador sobre o mundo digital, acaba de lançar no Brasil o livro #vertigemdigital (editora Zahar). Keen conversou com O Globo sobre a influência das redes sociais na cultura atual.

Em seu livro #vertigemdigital, o senhor diz que as redes sociais são uma ameaça às liberdades individuais. Mas os usuários não têm a opção de ignorá-las?

Andrew Keen – Acho que podemos. Mas não é tão simples. É óbvio que, de um lado, podemos tentar ser mais maduros, evitar o narcisismo e deixar de lado a sedução digital. Porém, quando a internet se torna a plataforma onde vivemos, responsável por construir marcas e fortalecer nossas redes de relacionamento, é extremamente difícil não estar nas redes sociais. Todos construímos nossas marcas nessas redes e acabamos varridos para esse mundo.

O senhor tem conta no Twitter, mas não está no Facebook. Nunca se interessou pela rede de Mark Zuckerberg?

A.K. – Eu usei, mas acabei me tornando um dissidente do Facebook. Se eu estivesse no Facebook, a primeira pergunta que você me faria seria: como você escreve um livro para criticar as redes sociais e está no Facebook? Mas a questão é que, para entender as mídias sociais, você precisa estar nelas. Então usei o Facebook por um tempo, como pesquisa, mas caí fora antes de o livro ser publicado. E me senti melhor.

“Uso a metáfora dos cadáveres, mas de maneira lúdica”

Tenho um amigo que cancelou sua conta no Facebook e ouviu da filha que ele tinha cometido suicídio.

A.K. – Eu diria o contrário. Quando você cancela sua conta, você retorna à vida e não é mais um cadáver.

O senhor fala muito sobre Julian Assange, em boa parte criticamente. Fora as acusações de assédio sexual, qual o maior crime de Assange?

A.K. – Acho que ele é um ideólogo da transparência radical. Só que é errada a ideia de que todos os governos devem ser inteiramente transparentes. É preciso haver um nível de segredo e privacidade. A transparência radical é impossível e perigosa. Ela destrói a autoridade do governo.

As redes sociais não podem aumentar o hábito de leitura nas crianças?

A.K. – É, pode ser. Em meu livro, tento não ser tão reativo em dizer que as redes sociais estão destruindo o mundo. Eu uso a metáfora dos cadáveres, mas faço isso de uma maneira lúdica. As redes sociais têm seu valor, mas há muitos problemas. Um dos propósitos do livro é desmistificar essa dominância das redes sociais.

As redes sociais não foram importantes para eventos como a Primavera Árabe e o Ocupem Wall Street?

A.K. – Concordo, mas acho que há alguma caricatura. Esses movimentos refletem os pontos fortes e os fracos das mídias sociais. O fraco é que eles não permitem agregar de verdade as pessoas.

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[André Miranda, de O Globo]