Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Internauta brasileiro deixa o Twitter de lado

Nada parecia deter o avanço do Twitter no Brasil em meados de 2008. Verdadeira febre na internet, o microblog conquistava uma legião de usuários famosos, que a todo instante postavam tweets (mensagens) em apenas 140 caracteres. Mas, quatro anos depois, uma reviravolta. Apesar de ter criado até uma versão em português, a rede social americana só tem perdido usuários por aqui. No último ano, diz a consultoria britânica comScore, a queda ultrapassa os 24%: foi de 12,916 milhões de acessos únicos, em julho de 2011, para 9,774 milhões, no mês passado. Sem criar novos serviços no site, como faz o rival Facebook, especialistas acreditam que o Twitter vai continuar perdendo espaço entre os internautas brasileiros.

Além da falta de inovação, o próprio comportamento do brasileiro – que gosta de ver fotos, conversar e interagir com outros usuários – ajuda a explicar os números ruins do Twitter. É o que os analistas chamam de “efeito Orkut”, que hoje conta apenas com 20,6 milhões de acessos, uma queda de 43% em relação ao ano passado. Já o Facebook segue movimento oposto, com avanço de 64%, para 42,4 milhões de usuários únicos.

Se no Brasil o Twitter não anda bem, nos Estados Unidos o microblog só cresce. O número de acessos únicos subiu de 32,7 milhões, em julho de 2011, para 40,2 milhões em julho de 2012, avanço de 22%. “Se analisar o Facebook, ele é muito semelhante ao que era o Orkut. Você consegue conversar, ver fotos e interagir. É como se fosse uma ‘orkutização’ do Facebook. Muito da queda que se vê no Twitter aconteceu porque o usuário migrou em definitivo para o Facebook. Acho que o brasileiro não entendeu como funciona o Twitter e quer transformar todas as redes no que era o Orkut. Já o americano tem outro perfil, de interagir com pequenos comentários”, explica Tiago Luz, presidente da agência de marketing UnderDogs.

Tumblr e Pinterest avançam

Estima-se que o Twitter tenha pouco mais de 40 milhões de contas no Brasil. Levantamento feito pela Enken, de publicidade digital, revela que cresceu de 20% para 25% do total da base o número de usuários que não acessaram o microblog no último ano. Domenica Guida, especialista em redes sociais da Enken, acredita que é preciso mais inovações para aumentar a interação entre os usuários: “Quem está lá não usa. E 40% dos usuários no Brasil têm entre um e cinco seguidores. Ou seja, a interação é muito baixa. O brasileiro gosta de interagir. E a empresa sabe que essa interação baixou, por isso, acredito que algo deva acontecer. Antes víamos os famosos falarem tudo na rede. Hoje, eles usam o Facebook.”

O produtor de eventos Rafael Cuia parou de usar o Twitter por uma razão simples: os usuários estão em redes como o Facebook e o Instagram, que contém apenas fotos e foi adquirido recentemente pela empresa de Mark Zuckerberg. “Acho que o Instagram explica muito o fato de as pessoas terem saído do do Twitter. Os usuários preferem, por exemplo, ver a foto de uma pessoa na praia em vez de ler que ela está na praia.”

A tendência de migração do usuário para novos sites também é apontada por Daniel Mendes, diretor da Fluida, agência de marketing para celulares. Ele cita redes como Tumblr (parecido com o Twitter, mas o usuário pode postar fotos e escrever sem limitação de tamanho) e Pinterest (semelhante ao Instagram, mas sem a possibilidade de alterar as cores da foto): “O usuário vai descobrindo novas redes. Por isso, o Twitter precisa de mais inovação, já que é pouco multimídia. Do lado comercial, o Twitter também não tem apelo.”

Procurado, o Twitter afirmou que não comenta números de consultorias e não divulga números por país. Porém, ressaltou em nota que pretende abrir um escritório no Brasil devido aos eventos esportivos que vão ocorrer, como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.

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[Bruno Rosa, de O Globo]