Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Entre o idealismo e o lucro

Às vezes, parece que o Twitter não dá sorte.

Durante anos, o serviço de microblogging, amado pela multidão de celebridades, foi ridicularizado por ignorar a difícil questão de como ganhar dinheiro. Então, o que acontece quando o Twitter finalmente leva a sério sua lucratividade? Recentes mudanças que visam a limitar o que outros sites e aplicativos podem fazer com as mensagens postadas no site, ou tweets – uma maneira de permitir que o Twitter ganhe dinheiro em cima de uma parcela maior da publicidade atraída por seu serviço – produziu uma reação negativa no mundo da tecnologia.

Depois de falhar em encontrar um modelo de negócios adequado anteriormente, apesar de o valor de mercado da empresa ter ultrapassado os US$ 8 bilhões, parece claro que a companhia está correndo para recuperar o tempo perdido. Uma disputa palmo a palmo com empresas como o Facebook e o Google vai requerer grandes volumes de capital: isso só acontecerá quando o Twitter estiver a caminho de tornar-se uma grande empresa.

A questão agora é se o antagonismo gerado pela decisão do Twitter é apenas um sinal de suas dores de crescimento, ou se a nova abordagem restritiva da empresa a fez cruzar uma fronteira filosófica. Para o mundo das mídias sociais, que depende de uma maré de publicidade para fazer flutuar sua sorte financeira, isso tornou-se uma preocupação central.

Censura contra um usuário

A interpretação benevolente é que o Twitter tem sido vítima das expectativas não realistas de outros. A empresa deu indicações, 18 meses atrás, de que desenvolvedores terceirizados que criam aplicativos para Twitter – para atrair um público para tweets “reempacotados” – provavelmente perderiam o livre acesso ao conteúdo do Twitter. Alguém realmente acreditava que a empresa abriria mão indefinidamente de uma parte tão grande do valor criado por seu serviço? A ira, sem dúvida, vai se dissipar. Mas o empenho do Twitter em conquistar respeitabilidade financeira levanta questões mais profundas.

Assim como outros serviços de internet que pretendem tornar-se plataformas, o Twitter busca atrair três tipos de clientes: usuários que vêm para enviar ou ler mensagens, desenvolvedores que esperam pegar carona na plataforma do Twitter ao criar serviços que trazem usuários de volta com mais frequência; e anunciantes atraídos por um novo e grande público. É difícil manter equilibrados os interesses de todos os três participantes.

O Twitter está entrando com tudo em publicidade. Mas esse modelo de negócios poderá não oferecer a experiência que os usuários exigem. A empresa já demonstrou sua inexperiência em lidar com as tensões inerentes a um negócio de mídia dependente de publicidade. Durante os Jogos Olímpicos de Londres, o Twitter permitiu que um acordo de patrocínio firmado com a NBCUniversal influísse na censura que aplicou contra um usuário que criticou a emissora americana. Uma empresa que construiu seu nome enfrentando governos para defender a liberdade de seus usuários foi obrigada a admitir que tinha cedido a interesses comerciais.

A mina de ouro das mensagens

Os usuários também poderão rebelar-se ao ver a distribuição de seus tweets tornar-se mais restrita para que o Twitter possa remunerá-los por meio da venda de anúncios pela própria empresa. Manter cativos conteúdos produzidos por usuários – especialmente quando outros desenvolvedores por vezes fazem um trabalho melhor que o próprio Twitter na criação de maneiras inovadoras de exibir os tweets – choca-se com o idealismo sob o qual o serviço foi fundado.

Outros modelos de negócio poderiam equilibrar os interesses dos usuários, desenvolvedores e anunciantes de forma mais eficaz. Bill Gross – empresário californiano que inventou a publicidade em mecanismos de busca na década de 90, e acabou vendo sua ideia transformar-se na base da fortuna do Google –, criou um rival do Twitter no ano passado. Denominado Chime.in, o site recompensa os usuários ao permitir que eles embolsem uma eventual receita publicitária gerada pelas mensagens por eles criadas. O App.net, outro serviço anunciado recentemente, coloca os anunciantes totalmente fora do circuito. Em vez desse modelo, o site vai interligar os usuários uns com os outros e com os desenvolvedores. A ideia é que o sistema seja financiado por assinaturas.

Mas novos serviços como esses têm um longo caminho a percorrer para competir com a mina de ouro representada pelas mensagens que circulam no Twitter. E o caminho baseado na publicidade trilhado pelo Twitter pode deixar em aberto maneiras de a empresa apaziguar os desenvolvedores e os usuários que ela se arriscou a hostilizar.

É cedo para dizer que a experiência acabou

Uma ideia que tem recebido alguma consideração no Twitter, segundo pessoas familiarizadas com a empresa, seria liberar a circulação de tweets em toda a web. Segundo essa proposta, cada mensagem se tornaria uma unidade remunerável: clicar em qualquer link dentro de um tweet produziria uma ação que poderia ser monitorada e cobrada, caso resultasse em uma interação com uma marca comercial ou com outra fonte de mídia.

Um compartilhamento de possíveis receitas geradas pelas interações com os tweets poderia, após algum tempo, transformar isso em uma “economia de tweets”.

O Twitter ainda é a mais interessante obra em desenvolvimento no Vale do Silício. Apesar de sua mais recente guinada para o terreno comercial, é cedo demais para declarar que a experiência acabou.

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[Richard Waters, do Financial Times, de San Francisco]