Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Custo e mão de obra limitam expansão de fibra óptica

São nove horas da manhã e os técnicos Danilo Rodrigues, de 26 anos, e Washington Luiz dos Santos, de 30, estão a postos para o primeiro serviço do dia em um apartamento na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo. Eles costumavam levar duas horas para instalar uma conexão residencial de internet, mas nos últimos tempos vêm gastando de quatro a seis horas. O motivo é que em vez de usar a infraestrutura tradicional, de cabo ou cobre, os profissionais da Telefônica/Vivo foram deslocados para instalar as novas conexões em fibra óptica da companhia. “Demora mais e dá trabalho para instalar, mas para o cliente é muito melhor”, diz Rodrigues, enquanto esvazia a mochila, carregada com mais de cinco quilos de aparelhos e fios.

A frase do técnico resume bem o dilema das companhias telefônicas em sua estratégia para expandir a adoção da fibra óptica – que já é usada largamente por empresas e, agora, começa a chegar às residências. O material é uma estrutura semelhante a um fio de cabelo, feito de vidro, e capaz de fazer trafegar mais dados que qualquer outro tipo de infraestrutura, incluindo os cabos de cobre que predominam nas redes de comunicação.

Para o consumidor, a maior vantagem é receber pelo que pagou. Sob outras tecnologias, há uma perda de velocidade que pode que pode chegar a níveis dramáticos. Nos piores casos, o usuário navega com apenas 10% da velocidade prometida. Isso não acontece com a fibra. Mais: com pequenas alterações, as operadoras podem multiplicar a velocidade, chegando facilmente a 1 gigabit por segundo (Gbps). Para comparar, a velocidade média da banda larga nas residências do país gira em torno de 1 megabit por segundo (Mbps), de acordo com a consultoria Teleco.

Última milha

Para as teles, investir em fibra óptica tornou-se uma exigência porque é essa infraestrutura que vai garantir a oferta de serviços mais sofisticados no futuro, como a TV via web, o que possibilitaria margens maiores em um setor muito concorrido. O problema é que, a despeito de suas muitas vantagens, a fibra óptica é cara e difícil de manusear. O custo para instalar uma conexão desse tipo do poste até a casa do assinante – a chamada última milha – não sai por menos de R$ 2 mil por domicílio. A infraestrutura de cabo metálico custa cerca de R$ 1,4 mil, um valor 30% mais baixo. As operadoras podem cobrar mais por uma conexão em fibra óptica, mas a diferença só se torna vantajosa quando a velocidade contratada é superior a 15 Mbps. Abaixo disso, o preço do serviço de internet rápida em fibra custa, em média, de R$ 20 a R$ 30 a mais que uma conexão comum.

Esse conjunto de fatores explica por que os projetos em fibra óptica ainda estão engatinhando no país. As teles argumentam que investiram bastante durante o processo de privatização, a partir de 1998, e, posteriormente, na atualização das redes já existentes. Uma migração mais rápida para a fibra óptica implicaria subutilizar o potencial da rede existente, dizem executivos do setor.

Até agora, só a Telefonica/Vivo e a Oi têm a última milha em fibra óptica. As demais – TIM, GVT e Net – adotam uma solução híbrida, que mistura fibra em parte da rede, com cabos metálicos do poste até a residência do cliente.

Disseminação barateia instalação

Para superar o desafio de garantir o futuro sem prejudicar os negócios atuais, a estratégia tem sido priorizar mercados cuja demanda potencial é maior. O alvo principal da Telefônica/Vivo é o estado de São Paulo. A companhia pretende completar investimentos de R$ 200 milhões em fibra óptica neste ano, com uma projeção 30% superior para 2013. A expectativa é atingir 1 milhão de clientes até 2015. Hoje, o número de usuários em fibra óptica é de 100 mil, embora a rede esteja pronta para atender a um volume maior de pessoas.

Uma das limitações, diz André Kriger, diretor de fibra óptica da Telefonica/Vivo, é a falta de profissionais capacitados para instalar a infraestrutura. Para treinar adequadamente um técnico, afirma o executivo, é necessário retirá-lo das ruas durante 30 dias. Como, em média, um profissional atende a quatro residências por dia com o serviço Speedy (em cobre), isso significa deixar de atender a quase 90 clientes por mês. “É um desafio, mas temos de ter diferentes estratégias para cada tipo de público”, diz Kriger.

A Oi oferece a última milha em fibra óptica nas cidades do Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Nos demais mercados onde atua, o sistema é híbrido. A estratégia da empresa é concentrar-se em conexões ultrarrápidas, a partir de 100 Mbps, destinadas a um público com poder aquisitivo mais alto. “Queremos ter 70% do mercado das classes A e B”, diz Eduardo Aspesi, diretor de produtos da Oi, sem definir prazos. A expectativa do setor é que a disseminação da fibra fique mais fácil com o barateamento do insumo. Segundo Foad Shaikhzadeh, presidente da Furukawa, uma das principais fornecedoras de cabos, será possível, em breve, baratear o custo da instalação. Dos R$ 2 mil atuais, a previsão é chegar a algo em torno de R$ 600 a R$ 1 mil, diz o executivo.

5,4 milhões de quilômetros do insumo

Os grandes centros urbanos vão concentrar as instalações nas fases iniciais não apenas por conta do poder aquisitivo da população. É mais fácil e barato levar a última milha em fibra óptica até edifícios, que concentram um número maior de interessados, do que até casas, afirma Shaikhzadeh.

A projeção da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) é de que sejam vendidos às teles neste ano aproximadamente 4,5 milhões de quilômetros de fibra óptica, um crescimento de 10% em relação a 2011. De acordo com a agência, considerando a manutenção dessa taxa nos próximos anos, estima-se que em 2014 sejam vendidos cerca de 5,4 milhões de quilômetros do insumo.

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Programa vai medir velocidades de internet

Enquanto convivem com a tarefa de, ao mesmo tempo, aderir à fibra óptica sem subutilizar as redes já construídas, as teles têm metas de qualidade do serviço de banda larga a cumprir. Atualmente, pelos contratos, as operadoras não têm a obrigação de entregar a totalidade da velocidade contratada pelo consumidor, mas só 10%. A partir de novembro, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) vai usar outros parâmetros para fiscalizar as velocidades. As empresas terão de garantir, no mínimo, 20% da velocidade prometida. Esse percentual vai aumentar gradativamente, para 30% e 40%, até o fim de 2014. Na média, as velocidades têm de ficar em torno de 60% do que foi contratado, chegando a 80% daqui a dois anos.

Para conseguir fiscalizar esses serviços, a Anatel está recebendo inscrições de voluntários de todo o país, que tenham banda larga e concordem em participar do programa. Batizado de Brasil Banda Larga, o projeto recebeu mais de 45 mil inscritos em pouco mais de 15 dias de início. A Anatel precisa apenas de 12 mil voluntários, que irão receber um aparelho medidor, gratuitamente, em casa, e não poderão revelar a ninguém, sobretudo às operadoras, que participam dessa fiscalização do governo. Para o presidente da Anatel, João Rezende, essa é uma boa oportunidade para que as empresas melhorem suas redes para entregar um serviço melhor. “É importante que cidadãos de todos os Estados participem, para que tenhamos um raio X de como está a banda larga nacionalmente”, afirmou Rezende.

Dos 45 mil inscritos até sexta-feira, mais da metade encontra-se na região Sudeste do país. Do estado de São Paulo, 11.795 se cadastraram. No Rio de Janeiro, foram 5.692 e em Minas Gerais, 5.529 inscrições, feitas online. A Anatel informou que embora as inscrições já tenham superado em quase 400% a necessidade de voluntários, precisará de mais interessados das demais regiões. No Acre, por exemplo, foram apenas 136 inscritos.

As medições só poderão ser feitas nos serviços das empresas que têm mais de 50 mil clientes. Caso da Oi, Net, Telefônica/Vivo, GVT, Algar Telecom (CTBC), Embratel, Sercomtel e Cabo Telecom. A fiscalização da banda larga fixa vem dois meses depois de a Anatel ter avaliado o serviço móvel das teles. Em julho, a agência suspendeu as vendas de chips de três delas por 11 dias.

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[Juliana Colombo, do Valor Econômico]