Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Sucesso do Windows 8 balança nas dobradiças

O sucesso do novo sistema operacional da Microsoft pode depender das dobradiças.

Os fabricantes de hardware estão se debatendo com o fato de que o software Windows 8 tem uma interface orientada para o toque. Isso significa que não basta acrescentar aos computadores uma tela de toque, mas é preciso projetar novamente as dobradiças que conectam a tela ao teclado, para que possam resistir às torções, giros e choques do novo manuseio.

Os fabricantes de computadores têm equipes de engenheiros projetando pinos, juntas e conectores para as máquinas que rodam o novo software. Eles medem o torque, testam diversos tipos de molas e engrenagens e abrem e fecham os computadores milhares de vezes.

O software também está inspirando os designers a imaginar dispositivos conversíveis, de modo que um laptop que abre e fecha também funcione como um tablet.

“A dobradiça é a chave para isso dar certo”, diz Jeff Barney, vice-presidente do grupo PC da Toshiba Corp nos Estados Unidos. Uma dobradiça ruim, diz ele, “é o calcanhar de Aquiles do laptop”.

Os clientes não vão ficar satisfeitos, por exemplo, se o ângulo da tela do novo notebook ou computador de mesa deles ficar mudando quando tocam na tela para abrir um arquivo ou acessar um site. Por outro lado, a dobradiça deve ser flexível o bastante para abrir e fechar facilmente.

Sem barulho

Conseguir projetar a dobradiça certa “é um desafio de design industrial”, diz Ken Musgrave, diretor executivo do grupo de experiência de design da Dell Inc.

Toda essa preocupação se deve a um componente que contribui com menos de US$ 10 para o custo de um computador. Os chips microprocessadores, a tela e o sistema operacional podem custar quase US$ 100 cada um.

Ainda assim, levar a tecnologia de toque do tablet para o PC é um passo de alto risco. A Microsoft e suas aliadas de hardware, que enfrentam queda nas vendas, estão desesperadas para se adaptar aos hábitos do novo mundo dos dispositivos móveis, que fizeram o teclado e o mouse parecerem antiguidades.

Assim, os engenheiros especializados em dobradiças voltaram para a prancheta de desenho, testando novos conceitos e fazendo novas medidas.

Em um computador de mesa novo, por exemplo, a Dell concluiu que o melhor ângulo para tocar na tela é entre menos 5 e 60 graus, diz Musgrave. Isso se baseia, em parte, na distância de que alguém precisaria para alcançar o topo da tela estando sentado, embora ele imagine que muita gente vai tocar no computador estando em pé.

A dobradiça precisa deixar a pessoa girar a tela sem muito esforço, mas a tela não pode se mexer quando é tocada. Musgrave diz que a fórmula da Dell inclui molas e rolamentos de esferas. Há também outras “forças de tensionamento”, diz ele, que se combinam para criar o que especialistas em dobradiças chamam de “grudabilidade”.

Alguns fabricantes de PC se orgulham da sua capacidade de projetar dobradiças. A Toshiba, por exemplo, tem seis engenheiros no Japão trabalhando apenas com projetos de dobradiça, e a empresa já registrou mais de 50 patentes relacionadas a essas articulações.

O carro-chefe dos dispositivos com Windows 8 é um tablet com uma tela que desliza e gira, transformando-se em um laptop. O objetivo é ocultar o teclado quando o aparelho está no modo tablet e assim designs que exijam girar a tela foram evitados.

A dobradiça inicial tinha um mecanismo de deslizamento em cada extremidade da parte de trás da tela. Era um dispositivo “invendável com essa dobradiça”, diz Barney. Se o usuário apertasse mais forte de um lado do que do outro, a tela mudava de lugar, ficando fora do centro.

Uma semana depois, os designers deram uma solução: engrenagens em miniatura feitas de um plástico firme, que compensam a pressão. Depois eles acrescentaram uma pequena barra de metal sustentada por uma mola, para equilibrar melhor a dobradiça. Agora a tela desliza de maneira uniforme.

A desvantagem: “A parte de trás ainda parece um pouco um protótipo”, diz Barney. Mas a dobradiça fica oculta quando o dispositivo está no modo tablet, e as pessoas em geral não passam muito tempo olhando a parte de trás de seus computadores.

A Lenovo Group Ltd., para garantir que a dobradiça de 360 graus que projetou para o seu novo PC conversível Yoga estava à altura do desafio, criou uma máquina de teste que abria e fechava os computadores 25.000 vezes. A empresa também fez questão de que a dobradiça trabalhe sem fazer nenhum barulho, diz Andreas Schupp, diretor de estratégia do centro de design industrial da Lenovo.

Corpo único

Uma equipe de design da Hewlett-Packard Co. passou três meses tentando aperfeiçoar a dobradiça em um novo laptop com tela destacável. A empresa da Califórnia finalmente se decidiu por um modelo que usa ímãs que guiam a tela para que se encaixe no lugar certo.

Para fazer um laptop fácil de abrir e fechar, as dobradiças são projetadas para ter muito pouca resistência entre zero e cinco graus, quando o usuário abre pela primeira vez, ou acaba de fechar. O torque atinge um máximo em cerca de dez graus e então se estabiliza, ficando igual durante o resto da faixa de movimento da tela.

Isso não funciona para uma tela de toque, diz Sumit Agnihotry, vice-presidente de marketing de produtos da Acer Inc. Como as pessoas tendem a empurrar a tela passando além da posição vertical, ela precisava ter mais resistência. Assim, os engenheiros da fabricante de computadores de Taiwan inventaram uma “dobradiça de torque variável”, que aumenta a resistência a partir dos 100 graus.

A Acer tomou a ideia emprestada da arquitetura. Uma dobradiça tradicional, unida por parafusos à parte inferior da tela, pode se deformar com o tempo se sofrer toques constantes, foi a conclusão da empresa. Assim, ela partiu para uma nova ideia, fazendo com que a tela inteira faça parte da dobradiça, como as vigas em T utilizadas nos edifícios, para aumentar a rigidez.

“Depois de alguns projetos percebemos que era imperativo chegar a um design que integra as duas partes em um único corpo”, diz Agnihotry. “É preciso ter uma articulação mais forte do que a dos notebooks de hoje.”

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[Ben Worthen, do Wall Street Journal]