Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

A guerra de titãs da internet será em hardware e buscas

Quatro grandes latifúndios tecnológicos – Apple Inc., Amazon.com Inc., Google Inc. e Facebook Inc. –, vêm tentando invadir o campo um do outro há anos. Em 2013, a guerra entre eles deve esquentar em duas frentes: hardware e pesquisa de internet.

Gigantes do software como Google e Amazon estão interessados em desenvolver hardware para aumentar a fidelidade do cliente e ampliar o controle sobre os seus serviços de software e as respectivas receitas. Isso está acelerando sua rota de colisão com a Apple, cuja reação é elaborar mais software próprio, para que seus aparelhos se destaquem.

A Google, que já adquiriu a Motorola Mobility por US$ 12,5 bilhões, planeja usar a fabricante de celulares para lançar novos aparelhos com sistema operacional Android, na tentativa de derrubar o iPhone, da Apple. E a Amazon, que acirrou a guerra dos tablets com seu Kindle Fire, também vem testando seu próprio celular.

As quatro empresas também consideram as buscas na internet uma grande oportunidade para conservar seus clientes e lucrar com eles. Apesar de o modelo da Google de buscas digitadas em um retângulo ter prevalecido por anos, agora suas rivais querem ultrapassá-la por meio da busca móvel em smartphones e outros aparelhos, e mais uma série de serviços de busca que aceitam recomendações de amigos.

A Apple está entrando com a Siri, um serviço ativado por voz que responde a perguntas sobre temas como o clima ou resultados esportivos na tela principal do iPhone ou iPad. No ano que vem, a empresa vai continuar buscando novos dados para alimentar o serviço, tornando-o útil para uma quantidade maior de consultas.

E, numa conferência em setembro, o diretor-presidente da Facebook, Mark Zuckerberg, exaltou as inúmeras formas com que os amigos podem fornecer respostas úteis. Ele disse que, no futuro, a empresa vai ampliar suas capacidades de pesquisa.

Novos territórios

As quatro empresas estão em conflito também em outras áreas, desde o comércio eletrônico até os anúncios on-line.

“Todas elas estão entrando no mercado uma da outra”, disse Greg Sterling, analista da firma Opus Research. “É como uma invasão de terras” para atrair aos desenvolvedores, que podem ajudar a tornar os seus serviços realmente onipresentes.

No caso da Apple, em 2013 ela precisa provar que sabe jogar na defesa.

Várias concorrentes, da Samsung Electronics Co. até a Amazon, estão com os canhões apontados para a empresa de Cupertino, na Califórnia, que há anos vem lançando aparelhos definidores de suas categorias, como o iPhone e o iPad.

Essas concorrentes estão tendo algum sucesso. A fatia da Apple nas vendas mundiais de smartphones caiu de 23% no primeiro trimestre para 15% no terceiro, de acordo com a IDC.

Os celulares são apenas uma das áreas onde a Apple corre perigo. Os tablets Android também estão ganhando terreno contra o iPad. Para defender seu território, a Apple – que este ano se tornou a empresa mais valiosa na história dos Estados Unidos – lançou recentemente o iPad Mini, um tablet mais barato destinado a competir com uma série de tablets menores que estrearam no mercado.

Mas a defesa só pode levar a Apple até certo ponto. Na sala de estar, a Apple vai entrar no ataque. O diretor-presidente, Tim Cook, destacou o “intenso interesse” da Apple pela televisão e a empresa vem testando televisores de alta definição e conversando com provedores de TV a cabo sobre possíveis parcerias para decodificadores.

Ainda não está claro se alguma coisa já vai estar pronta no ano que vem. Um porta-voz da Apple disse que a empresa não queria discutir planos e produtos futuros.

Quanto a outras áreas novas, preste atenção nas buscas e na Siri. Após a incursão malsucedida da Apple na área de mapas este ano, a empresa continua a investir na sua assistente ativada por voz, que encaminha os usuários para os resultados esportivos e outras informações em seus aparelhos móveis. No início do ano, a Apple “roubou” da Amazon o executivo responsável pelas buscas, William Stasior.

Já a Google entrou agressivamente em novos territórios este ano, chocando-se não só com suas principais concorrentes, mas também com operadoras de cabo e de telefonia sem fio.

Versão modificada

No ano que vem, a gigante das pesquisas na web vai se esforçar mais para controlar seu próprio destino e garantir que seu motor de busca, seu site de vídeo YouTube e seus serviços mais novos, como o Google Wallet (que permite usar o smartphone como uma carteira digital) cheguem até o consumidor sem serem prejudicados por uma internet em baixa velocidade, ou bloqueados pelas rivais.

Isso significa acelerar as iniciativas que ela lançou este ano, tais como a de começar a conectar residências com internet e vídeo de alta velocidade nos EUA. Ela deve ainda explorar maneiras de controlar o acesso sem fio à internet por meio de parcerias; e fabricar smartphones e tablets via Motorola, o que lhe dará maior controle sobre os serviços que rodam nos aparelhos. A Google também deve desenvolver mais dispositivos domésticos conectados à internet, alimentados pelo Android móvel, seu sistema operacional.

Ao mesmo tempo, a Google está fazendo jogadas defensivas contra suas principais concorrentes, Amazon e Facebook. A Google vem trabalhando com os varejistas que competem com a Amazon, ajudando-os a chegar até os consumidores por meio do seu motor de busca.

No ano que vem, também se espera que a Google ajude os varejistas a oferecer entrega no mesmo dia para os compradores on-line. E, para combater a Facebook, a Google vem incentivando os usuários de seu motor de busca, do Gmail e de outros serviços a se inscrever no Google +, um cruzamento entre Facebook e Twitter Inc. que permite compartilhar notícias, fotos, vídeos e muito mais.

A empresa deve decidir no ano que vem se fará parceria com uma montadora para criar um carro que se dirige sozinho usando o software da Google, ou se vai se envolver mais diretamente na fabricação. Em separado, também será lançado o Glass, dispositivo computacional da Google que se usa como um par de óculos.

Na Facebook, 2012 foi o ano da abertura de capital. No ano que vem, o foco será na transformação contínua da rede social em um negócio centrado nos dispositivos móveis. Veremos até que ponto ela pretende chegar para controlar a experiência do usuário no smartphone.

No ano passado, a empresa de Menlo Park, na Califórnia, reescreveu seus aplicativos móveis, lançou produtos de publicidade móvel e promoveu novas aplicações móveis independentes, tais como um serviço de mensagens.

Rivais e executivos de tecnologia também querem saber se – ou quando – a Facebook vai entrar na área de hardware. Zuckerberg desmentiu publicamente os rumores de que a empresa estava criando um telefone Facebook, dizendo que essa seria “uma estratégia errada”. No entanto, pessoas próximas da empresa disseram que a Facebook tem trabalhado em estreita colaboração com fabricantes de celulares, como a HTC Corp., para projetar um aparelho.

Um dispositivo com suporte para Facebook, que provavelmente rodaria uma versão modificada do Android da Google, ajudaria a rede social a promover o uso dos seus aplicativos e a coletar mais dados dos usuários.

Um porta-voz da Facebook e a HTC não quiseram comentar.

Elogios da crítica

A Facebook também deve aumentar suas ofertas de pesquisas no ano que vem. Este mês, ela lançou um novo recurso móvel que ajuda o usuário a descobrir empresas nas suas proximidades, com base nos seus amigos e na rede social em geral.

E o comércio eletrônico será cada vez mais importante para a Facebook, agora que ela vai ampliar sua recém-lançada Gifts. A plataforma de comércio eletrônico, que permite ao usuário enviar produtos aos amigos, como biscoitos ou vales-presente da Starbucks, representa uma ameaça para a Amazon, em especial à medida que a Facebook acrescentar mais parceiros de varejo.

Para a Amazon, 2013 pode ser o ano em que ela lançará seu próprio smartphone.

A varejista de internet, sediada em Seattle, no Estado americano de Washington, vem testando um smartphone com seus fornecedores asiáticos e poderá lançá-lo no ano que vem, segundo pessoas a par dos planos da empresa. Um smartphone da Amazon aproveitaria a experiência da empresa com seu tablete Kindle Fire HD e sua próspera loja de aplicativos, com mais de 60.000 rodando no software Android, da Google.

Um smartphone próprio também poderia corroer a fatia de mercado do iPhone e desafiar os fabricantes de smartphones com Android, tais como a Samsung. A Amazon poderia lançar seu smartphone como um aparelho de baixo custo e baixo lucro, destinado a faturar com a venda de mercadorias no site Amazon.com, bem como livros eletrônicos, jogos e aplicativos. Essa é a abordagem adotada por Jeff Bezos, diretor-presidente da Amazon, com seus tablets, que ele define como plataformas de vendas, e não aparelhos destinados a gerar lucros por si sós.

Um smartphone também aumentaria a pressão sobre os varejistas ao facilitar as compras on-line nas lojas físicas, onde a Amazon tem incentivado os consumidores a experimentar a mercadoria e comprá-la mais tarde on-line.

A Amazon não quis comentar.

Ela também está correndo atrás da Apple em outra área: os tablets. A última versão do seu Kindle Fire ganhou força e elogios da crítica. Podemos esperar que a Amazon lance outra atualização de baixo custo no ano que vem, o que poderia manter ainda mais seus usuários dentro do ecossistema da Amazon.

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[Jessica E. Lessin, Greg Bensinger, Evelyn M. Rusli e Amir Efrati, do Wall Street Journal]