Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

‘Curtir’ algo no Facebook diz muita coisa sobre você

Um amplo estudo acadêmico acaba de revelar a crescente quantidade de informações pessoais que podem ser recolhidas por programas de computador que monitoram a maneira como as pessoas usam o Facebook. Esses programas podem discernir informações privadas confidenciais, como as preferências sexuais dos usuários do Facebook, o uso de drogas e até mesmo se eles têm pais que se separaram quando eles eram jovens, mostra o estudo da Universidade de Cambridge.

Trata-se de um dos maiores estudos do tipo já feitos e nele a equipe de psicometria da universidade e um centro de pesquisas bancado pela Microsoft analisaram dados de 58 mil usuários do Facebook para prever características pessoais e outras informações que não foram fornecidas em seus perfis. Os algoritmos foram 88% precisos na previsão da orientação sexual, 95% na previsão de raça e 80% no quesito inclinação religiosa e política. Tipos de personalidade e estabilidade emocional também foram previstos com exatidão que vai de 62% a 75%. O Facebook não quis comentar o assunto.

O estudo realça as preocupações crescentes com as redes sociais e como os registros de dados podem ser explorados em busca de informações sensíveis, mesmo quando as pessoas tentam manter em segredo informações sobre elas mesmas. Menos de 5% dos usuários prognosticados como gays, por exemplo, estavam ligados a grupos declaradamente gays.

“O leite já está derramado”

Michael Kosinski, um dos autores do estudo, disse ao FT que as técnicas da universidade poderiam ser facilmente copiadas por empresas para deduzir atributos pessoais que uma pessoa não gostaria de revelar, como sua orientação sexual ou visão política: “Usamos métodos muito simples e genéricos. Empresas de marketing e da internet poderiam gastar muito mais tempo e recursos, conseguindo assim uma precisão muito maior que a obtida por nós.”

Na semana passada, a União Europeia concordou em atenuar propostas de uma reorganização radical da regulamentação da privacidade de dados. A medida reflete a relutância do governo em obstruir companhias da internet com decisões que possam prejudicar o crescimento econômico, e segue-se a um forte lobby de companhias como o Facebook e o Google.

Os dados pessoais se tornaram um grande negócio. A Wonga, instituição financeira britânica que opera na internet, faz avaliações de crédito em segundos, com base em milhares de informações que incluem perfil no Facebook. A rede de supermercados Tesco começou neste mês a usar os históricos de compras dos clientes para vender propaganda online direcionada. Kosinski disse que o estudo não foi elaborado para desencorajar o compartilhamento online: “Eu não desencorajaria as pessoas a evitar a tecnologia – até certo ponto, o leite já está derramado e de qualquer maneira há muita informação sobre você circulando na internet. Eu sugeriria uma melhoria das configurações de privacidade.”

******

Bede McCarthy e Robert Cookson, do Financial Times