Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

“Hashtag é a fogueira da era digital”

Aos 39 anos, o americano Adam Bain tem uma missão fundamental para o crescimento do Twitter em todo o planeta: angariar novas receitas para o microblog fundado em 2006 por Evan Williams, Biz Stone e Jack Dorsey. Só em 2013, segundo levantamento produzido pela empresa de análise de marketing digital eMarketer, a receita publicitária da empresa deve somar 582,8 milhões de dólares, quase o dobro do que foi apresentado no ano passado. Em 2014, esse número pode chegar a 1 bilhão – e o Brasil terá participação especial nessa fatia, uma vez que tem a segunda maior base de usuários do Twitter no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

Há três anos no cargo de presidente de receitas globais da companhia, Bain desembarcou nesta semana em São Paulo para conhecer o mercado nacional junto com outros executivos da companhia. Um, contudo, chamou atenção: Jean-Philippe Maheu, ex-CEO da Bluefin Labs, empresa que analisa comentários em redes sociais para medir a eficácia de comerciais e programas de TV e que foi adquirida recentemente pelo Twitter. Sua presença revela outra estratégia velada da empresa no país: explorar o nascente mercado da segunda tela, como é chamado o uso de smartphones ou tablets para comentar ou complementar a programação da TV em tempo real. Para tanto, Bain acredita no poder das hashtags, espécie de marcação de um tema de discussão no Twitter, reconhecida pelo símbolo “#”. “Hashtags são como uma fogueira. As pessoas se reúnem digitalmente a sua volta”. Confira a entrevista a seguir, concedida em um hotel em São Paulo:

Na sua opinião, qual é a importância do Twitter? 

Adam Bain – Fico impressionado com o papel desempenhado pelas hashtags e o microblog. No passado, o ser humano se reunia em torno do fogo para relatar momentos especiais. Hoje, as pessoas usam o Twitter para compartilhar o que sabem e se informar. Para acompanhar esse relato, nossos usuários geralmente antepõem ao assunto o símbolo sustenido “#”. A hashtag virou a fogueira da era digital. As pessoas se reúnem digitalmente em sua volta e, de uma maneira tão simples, conseguem se aproximar de pessoas de um mesmo interesse. O Twitter é só um intermediário.

Como isso tem funcionado na prática? 

A.B.– Em 2011, durante a última paralisação na liga de basquete do mundo, a NBA, o americano Kevin Durant, um dos maiores astros do esporte, enviou um tuíte em seu perfil pessoal perguntando se alguém queria disputar na cidade de Oklahoma uma partida de flag football (variante do futebol americano que é praticada até em parques de São Paulo). Em segundos, um estudante de uma universidade enviou uma resposta ao jogador, dizendo que amigos se reuniriam para participar de um jogo. Durant se interessou e agradeceu o convite – e compareceu de fato à partida de flag football. Esse relato mostra como é possível aproximar anônimos de famosos.

O que faz o Twitter ser uma empresa rentável? 

A.B.– Não podemos compartilhar números, mas nossas fontes de receitas publicitárias, que permitem que pessoas e marcas alcancem um público maior, são baseadas em três recursos: o envio de mensagens automáticas na página do usuário e a possibilidade de promover algum perfil no microblog de acordo com interesses dos cadastrados, além da inserção e destaque de termos ou palavras entre os assuntos mais discutidos na rede, popularmente conhecidos pelos brasileiros como Trending Topics.

Durante sua passagem no Brasil, o que mais lhe chamou atenção? 

A.B.– Fiquei impressionado com a quantidade de pequenos estabelecimentos, como restaurantes e bares, que adotam o passarinho (símbolo do Twitter) para ampliar o diálogo de seus consumidores nas redes sociais. Devemos aproveitar e vamos abraçar o setor de pequenas e médias empresas aqui no país. Essa é a importância de conhecer novos locais: você acaba se adaptando a eles. Acredito que devemos ter um time dedicado a isso.

Recentemente, o Twitter recrutou um experiente jornalista do The Guardian para coordenar uma área de dados. Afinal, após sete anos de existência, o Twitter é uma empresa de mídia, uma rede social, um microblog ou uma companhia de dados? 

A.B.– O Twitter tem em seu DNA o seguinte valor: que as pessoas sejam informadas e conheçam o que está acontecendo ao seu redor e no mundo. Logo, todas essas características mencionadas por você se cruzam em algum momento.

Qual o futuro que é reservado ao Twitter? Algo voltado ao conceito de segunda tela? 

A.B.– Sim. A empresa tem uma participação nada desprezível no mercado de segunda tela. No Brasil, temos eventos genuinamente populares em nossa plataforma, como jogos de futebol, reality-shows e, principalmente, novelas. Nesta semana, acompanhei de perto os comentários relativos à novelaSalve Jorge, da Rede Globo. Em sua grande maioria, fiquei atento às mensagens da autora da trama, Gloria Perez. Antes mesmo do início do capítulo, ela mesmo fornece algumas pistas ou relata detalhes do que vai acontecer. É um ótimo uso da ferramenta para incentivar ainda mais telespectadores a acompanhar o desfecho da novela.

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Rafael Sbarai, da Veja.com