Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Em nome da concisão

Todo mundo concorda que passamos tempo demais de nossas vidas mandando e recebendo e-mails. Todo mundo concorda que a solução é escrever mensagens mais curtas e mais claras, além de escrever menos mensagens. Todo mundo sabe disso há anos. Mesmo assim, em vez de melhorar, o problema só piora.

Este mês, Chris Anderson, “curador” da conferência anual Technology Entertainment Design (TED) fez um chamado em seu blog. O que precisamos, disse ele, é de um livro de regras de e-mail, e então teremos nossas vidas de volta. Ele forneceu 16 princípios e convidou todos a fazer comentários. No site da TED, no Twitter e no Facebook muita gente demonstrou em alto e bom som seu apoio: Adorei! Grande Ideia! Postagem Impressionante! Gênio!

Alguns dos princípios de Anderson me parecem, ainda que não exatamente o trabalho de um gênio, pelo menos o trabalho de uma pessoa de muito bom senso. O princípio nº1 diz respeito ao tempo do destinatário – sobre o qual é difícil discutir. Outros princípios incluem: não mande um e-mail quando estiver nervoso, não mande um e-mail em letras maiúsculas; não copie as pessoas a menos que isso seja necessário; não coloque na linha de assunto coisas como “re:re:re”, ou “Olá”.

“Longo demais”

Alguns dos demais não são tão sensatos. Ele declara inaceitáveis mensagens que digam simplesmente “obrigado” – baseado no fato de que elas fazem o destinatário perder tempo. Mas certamente é melhor perder um nanossegundo lendo esta palavra do que ficar preocupado durante horas por não saber se sua mensagem foi lida ou não.

Também acontece de Anderson ter uma infeliz afeição pelas assinaturas personalizadas, emoticons e iniciais. Ele gosta de e-mails curtos escritos na linha de assunto seguidos de EOM (end of message, ou fim da mensagem), e mensagens que terminam em NNTR (no need to reply, ou não é preciso responder). Essas pequenas iniciais acabam com o ânimo de qualquer um, especialmente a NNTR; pela experiência que tenho, as pessoas que dizem “não precisa responder” são as pessoas que anseiam que você responda em dobro.

Sua regra final é desligar o computador de vez em quando. Isso realmente é uma ideia brilhante, embora eu raramente tenha encontrado alguém que se dê ao trabalho de segui-la. Ele sugere enviar uma resposta automática: “Obrigado por sua mensagem. Como compromisso com minha saúde mental e de minha família, nós agora enviamos e-mails somente às quartas-feiras. Responderei ao maior número de mensagens que puder na próxima quarta-feira. Obrigado por escrever”, finaliza.

Se alguém enchesse minha caixa de entrada com tanto sentimento de superioridade moral, isso de fato impediria a enxurrada de e-mails: eu os excomungaria todos de uma só vez. Mesmo assim, o verdadeiro problema não é o fato de metade das regras serem inúteis. Nem o fato dos 16 princípios serem muitos para qualquer pessoa se lembrar. É que a própria ideia de uma carta de direitos para os e-mails é errada. Diretrizes somente funcionam quando todos os participantes estão dispostos a aceitá-las e segui-las.

Os comentários feitos no site da TED corroboram esse pessimismo. As pessoas animadamente escrevem “incrível!!”, mas em seguida sabotam seu apoio ao fazer comentários longos e incoerentes. Há um motivo para essa verborragia chata. Escrever qualquer coisa é sempre mais fácil do que pensar primeiro sobre o que você está tentando dizer. Pensar com lucidez é um processo doloroso e não se trata de algo que qualquer um começará a fazer simplesmente porque concordou com essas regras.

Para contornar essa tendência natural de falar besteira, é preciso algo mais forte. Minha alternativa seria não pedir aos remetentes que mudem voluntariamente, e sim dar a eles poder absoluto de veto aos destinatários. Todos eles tomariam a lei em suas mãos e bloqueariam qualquer mensagem escrita de uma maneira que não os satisfizessem.

A maneira mais fácil de fazer isso seria programar as caixas de entrada para aceitarem apenas e-mails breves. Qualquer um que me enviasse uma mensagem divagante receberia uma notificação automática dizendo: “Seu e-mail era longo demais. A caixa de entrada de Lucy Kellaway só aceita mensagens de até cem palavras. O resto de sua mensagem está na lixeira.”

A melhor ideia

Quando um número suficiente de pessoas fizesse isso, todos seriam forçados a escrever de maneira diferente. As pessoas aprenderam a ser sucintas no Twitter e agora aprenderiam novamente no e-mail. Suas mentes seriam forçadas a se concentrar.

Outros filtros também poderiam ser usados. Eu estaria inclinada a bloquear remetentes que não sabem gramática. Ou remetentes que usam “emoticons”. Acima de tudo, eu bloquearia qualquer que dissesse: “vá em frente” ou “prossiga”. A cada vez o remetente seria notificado e o motivo do não recebimento, fornecido. Quanto mais eu penso na ideia, acredito que é a melhor que já tive. Eu acabaria com o mundo dos jargões, melhoraria o nível da escrita e devolveria nossas vidas a todos nós.

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[Lucy Kellaway é colunista do Financial Times]