Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Engano provoca saia justa na Microsoft

Um deslize levou a uma saia justa na relação entre a imprensa e uma companhia de relações públicas. A revista americana Wired divulgou, na semana passada, um e-mail enviado por engano, em fevereiro, a um de seus repórteres. A mensagem, um memorando interno da Waggener Edstrom Worldwide, firma que representa a gigante Microsoft, falava justamente sobre ele.


O jornalista Fred Vogelstein cobria um projeto de videoblog da Microsoft quando recebeu o documento de 13 páginas. A mensagem, que tinha como objetivo preparar executivos da Microsoft para entrevistas sobre o tema, trazia – além de respostas prontas para prováveis perguntas da imprensa e tópicos que deveriam ser mencionados – observações nada agradáveis sobre Vogelstein. ‘As matérias de Fred tendem a ser um pouco sensacionalistas, embora ele as considere equilibradas e imparciais’, dizia um dos comentários, completando que o jornalista costuma ser ‘malandro’ em entrevistas. ‘Ele leva um tempinho para expor seus pensamentos, então tente ser paciente’, continuava o ‘relatório’ sobre a atuação jornalística de Vogelstein.


O memorando também afirmava que o departamento de marketing da Microsoft poderia vetar o artigo – ‘nós daremos uma olhada nele no início de março’ –, prática abominada por jornalistas. Tanto a Wired como a empresa de relações públicas dizem que tal ‘revisão’ não ocorreu.


Ironia do destino


Frank Shaw, presidente da Waggener Edstrom no comando da conta da Microsoft, afirmou que a pessoa que cometeu o erro ‘se sente terrível’. ‘É o tipo de erro que qualquer um pode cometer’, ressaltou. Shaw observou que, como o artigo escrito por Vogelstein era justamente sobre um projeto da Microsoft que permite que funcionários de uma empresa ‘bloguem’ sobre a rotina corporativa – em um conceito batizado de ‘transparência radical’ –, ‘foi irresistível para a Wired chamar atenção [para o e-mail], para mostrá-lo como o oposto desta prática’.


Já Vogelstein contou que, ao receber a mensagem, teve uma sensação estranha de voyeurismo. ‘Todos nós queremos saber o que as pessoas pensam da gente, mas eu acho que a maioria de nós, se descobrisse, se arrependeria’, diz. ‘Com algumas das coisas [do e-mail] eu estava totalmente bem, mas não gostei de ser chamado de ‘malandro’ e fiquei pensando: ‘nossa, eles realmente acham isso?’’.


Chris Anderson, editor-chefe da Wired, escreveu em seu blog pessoal que o incidente foi um contraponto irônico ao conceito de transparência promovido recentemente pela Microsoft – e mostrado no artigo de Vogelstein. Segundo Evan Cornog, professor da Escola de Jornalismo de Colúmbia, o caso permitiu que o público tivesse uma pequena amostra de como funciona o meio jornalístico. Para ele, é justo que os leitores saibam as dificuldades e desafios enfrentados pelos repórteres para conseguir publicar uma matéria. Informações de Angela Macropoulos [The New York Times, 2/4/07].