Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Folha de S. Paulo

MÍDIA & POLÍTICA
Cesar Maia

A crise não pegou?

‘TRÊS PESQUISAS -Datafolha, Sensus e Ibope- reforçaram seus resultados. Após oito meses de uma grave crise econômica, a avaliação de Lula volta a crescer. O mais intrigante é a percepção dos brasileiros sobre a crise, que é melhor que em março. Em alguns itens, muito melhor.

Não há indicador econômico que permita chegar a essa conclusão.

As consequências da crise continuaram a avançar. Que razões explicam essa reação da opinião pública? Registre-se que tanto a avaliação de Lula como a percepção dos fatores econômicos se deram em todas as regiões do país, mas não chegaram aos governadores.

Podem-se destacar seis elementos explicativos. O primeiro é a menor intensidade das informações publicadas. À medida que elas são percebidas como parecidas, mantê-las em destaque contrariaria a lógica da renovação do noticiário.

O segundo: depois de um ciclo de três anos de crescimento econômico e de seus efeitos positivos sobre o emprego e renda/consumo, é a esperada torcida para que a crise passe logo.

O terceiro elemento é a própria natureza empresarial dos meios de comunicação, que são parte da crise, com a redução dos patrocínios, da circulação e da audiência. Por isso mesmo, as boas notícias e as previsões otimistas de economistas, empresários e políticos ganham destaque, e as más noticias são deslocadas para os cadernos econômicos. O multiplicador dos fatos negativos tem, assim, a sua aceleração reduzida.

Lula é o quarto elemento. Em seu conhecido voluntarismo, optou por minimizar a crise (‘marolinha’) desde o início. Ao contrário dos líderes europeus e norte-americanos, que sinalizaram para um aumento defensivo da poupança, Lula estimulou o consumo, que, mesmo não tendo vindo, se ajustou ao discurso otimista. Com isso, vestiu o traje de protetor do povo contra a crise (externa) -o que, aliás, sempre lhe coube muito bem.

O quinto elemento é que, num terceiro ano, pré-eleitoral, os governos, federal e estaduais, diante de uma crise imprevisível e dos seus riscos políticos, aceleraram os gastos publicitários. E, finalmente, é importante lembrar que, desde 2006, pós-mensalão, o governo federal passou a ter um forte vetor publicitário direcionado à imprensa das cidades menores, especialmente em polos. A grande imprensa -exceção à TV- não circula nessas cidades. E o custo para o governo dessa sustentação é pequeno. Com isso, foi construída uma enorme rede capilar.

A sinergia desses seis elementos ajuda a explicar as pesquisas. A questão de sua sustentabilidade depende do acerto ou não das previsões otimistas e de suas relações com o cotidiano das pessoas.’

 

JORNALISMO & CIÊNCIA
Folha de S. Paulo

Periódico científico aceita publicar trabalho forjado

‘O editor-chefe do periódico científico de acesso aberto ‘The Open Information Science Journal’, Bambang Parmanto, pediu demissão anteontem, depois que foi revelado que sua revista aceitou publicar um artigo científico sem sentido, gerado por computador por dois pesquisadores brincalhões.

A denúncia foi feita na quarta-feira pela revista norte-americana ‘The Scientist’.

O periódico teria informado aos dois ‘autores’ que seu manuscrito já havia passado por ‘peer-review’ (revisão pelos pares), processo pelo qual artigos científicos são avaliados por pareceristas independentes -justamente para evitar erros ou fraudes. Em seguida, teria cobrado deles US$ 800 de taxa de publicação.

Acontece que tudo no artigo, intitulado ‘Desconstruindo Pontos de Acesso’, era falso. A começar de seus autores, David Philips e Andrew Kent, pseudônimos do doutorando em comunicação científica Philip Davis, da Universidade Cornell (EUA), e de Kent Anderson, executivo do periódico de acesso fechado ‘New England Journal of Medicine’. No artigo de gozação, os autores se intitulavam pesquisadores de um certo Center for Research in Applied Phrenology, ou Crap (‘titica’), na sigla em inglês.

Davis e Anderson produziram seu artigo usando um programa de computador criado no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) que gera randomicamente artigos científicos. Em sua página na internet (pdos.csail.mit.edu/sci gen), os criadores do programa dizem logo de cara: ‘Nosso objetivo é maximizar a diversão, não a coerência’.

‘Eu queria ver se esse artigo passaria por ‘peer-review’, disse Davis à ‘The Scientist’. ‘[Ele] tem a aparência de um artigo, mas não faz sentido nenhum’, afirmou.

Uma prova do que ele diz é o seguinte trecho do falso estudo: ‘Simetrias compactas e compiladores amealharam tremendo interesse tanto de futuristas quanto de biólogos nos últimos anos. A falha desse tipo de solução, no entanto, é que os DHTs podem ser empáticos, extensíveis e em larga escala.’

Por favor, publique

Davis disse que começou a desconfiar da Bentham Science Publishers, empresa que edita o ‘Open Information Science Journal’, depois de receber diversos spams solicitando que submetesse artigos a um de seus ‘mais de 200 periódicos’.

‘Uma das coisas que nos chamaram atenção foi o fato de que eles estavam agressivamente solicitando manuscritos’, disse Anderson à ‘The Scientist’.

O artigo falso foi submetido para publicação em janeiro. Na semana passada, Anderson recebeu um e-mail da Bentham dizendo que o artigo havia sido aceito para publicação -e pedindo o cheque de US$ 800. Mas nunca recebeu os comentários dos pareceristas, algo corriqueiro em publicações com ‘peer-review’. Davis decidiu que seria antiético pagar e suspendeu o ‘experimento’.

O episódio é mais um da guerra que envolve publicações de acesso fechado, como o ‘New England Journal of Medicine’, e periódicos abertos.

Estas revistas ajudam a democratizar a informação científica ao torná-la disponível para qualquer pessoa. Em vez de cobrar do leitor, elas cobram dos autores pela publicação de um artigo -taxas que podem chegar a US$ 3.000, frequentemente pagas por universidades e instituições de fomento.

Por outro lado, diz Davis, o acesso aberto pode facilitar o surgimento de periódicos caça-níqueis, sem qualidade -como parece ser o caso do ‘The Open Information Science Journal’.

Mahmud Alam, diretor de publicações da Bentham, disse à revista ‘New Scientist’ que seu pessoal apenas fingiu que aceitara a fraude para flagrar os falsos autores. O editor que renunciou, porém, disse não ter visto o artigo nem ter ficado sabendo da estratégia do chefe.’

 

TELEVISÃO
Folha de S. Paulo

TV analógica sai do ar e deixa milhões sem sinal nos EUA

‘Apesar de o governo americano ter adiado em quatro meses o fim das transmissões analógicas, a expectativa é que até 2,8 milhões de domicílios fiquem sem sinal de TV hoje nos EUA, quando toda a programação passará a ser levada ao ar exclusivamente no modo digital.

Após 60 anos, ontem foi o último dia em que as redes americanas transmitiram o sinal analógico, deixando só ‘chuviscos’ para as pessoas que têm televisores antigos, ou não assinam TV cabo, ou ainda não compraram os conversores.

De acordo com a Nielsen, 2,8 milhões de lares (2,5% do total que tem TV) não estavam preparados para a mudança até o último domingo -em fevereiro, que era a data inicial para a troca definitiva, 5,8 milhões de domicílios corriam o risco de ficar sem sinal. A falta de preparo para a troca foi um dos motivos que levaram o governo americano a adiar mudança.

Pesquisa patrocinada pelas redes de TV mostrou que os norte-americanos tinham consciência da mudança -a qual vem sendo divulgada há dois anos-, mas que muitos simplesmente deixaram para o último minuto a aquisição de um conversor (alternativa mais barata, que custa de US$ 40 a US$ 60 -há subsídio estatal para os mais pobres) e agora correm o risco de ficar com um aparelho sem função.

NBA com o vizinho

Essa demora levou os americanos a buscar alternativas para acompanhar os seus programas favoritos. O aposentado Leo Jones, 79, disse que terá que ir amanhã à casa de um vizinho para assistir às finais da NBA (campeonato de basquete). Jones foi um dos que pediram na última hora o cupom de US$ 40 para adquirir o conversor, mas a ajuda estatal leva nove dias úteis para chegar, o que o levará a recorrer aos amigos por mais uma semana.

O Departamento de Comércio, responsável pelos cupons, disse que recebeu 320 mil pedidos anteontem, quatro vezes mais que a média de maio. No total, o governo já enviou quase 60 milhões de cupons para aquisição de conversores.

Para alguns, no entanto, nem a ajuda do governo é suficiente. ‘Sou aposentado por invalidez e não tenho condições de comprar um [conversor]’, disse Harvey Durrett, 48, que ficou horas em fila na qual o aparelho estava sendo distribuído gratuitamente -sem sucesso. ‘Não consigo pegar nada na minha TV, então eu imagino que terei que ir à casa de amigos se quiser ver alguma coisa.’

E a troca não afetou só os consumidores, já que 21 estações -de um total de 974-, sem dinheiro para se adaptar à nova tecnologia, simplesmente sairiam do ar, depois do fim da transmissão analógica (o encerramento do sinal deveria ocorrer até as 23h59 nos EUA). Com agências internacionais

 

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No Brasil, TV analógica vai até 2016

‘No Brasil, o sinal analógico continuará a ser transmitido pelas emissoras até junho de 2016, segundo determinação do governo federal.

As transmissões da TV digital, com o padrão japonês, começaram em dezembro de 2007 na Grande São Paulo e a previsão é que, até 2013, chegue a todos os municípios. A partir de julho daquele ano, só serão outorgados canais em tecnologia digital.

Já no final deste ano, a estimativa é ser acessível em todas as capitais, assim como em outras 23 cidades-polo. Agora está presente em 19 cidades e mais uma será adicionada na quarta-feira: João Pessoa.

Para captar o sinal da TV digital, é preciso ter um conversor ou comprar uma televisão com o aparelho já embutido. Além disso, é necessário ter uma antena UHF.

O preço dos primeiros equipamentos lançados no país impediu a venda em larga escala. Os conversores mais caros chegavam a custar R$ 1.099, para televisores de alta definição (1.080 linhas). As chamadas TVs de tubo têm 480 linhas e, com o receptor, podem chegar a ter imagem de DVD.

Segundo o último balanço da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), foram produzidos, até abril, 161.434 conversores e 153.227 televisores de LCD com o receptor já incorporado.’

 

Lúcia Valentim Rodrigues

BBC faz documentário da comédia ‘The Office’

‘A BBC está fazendo dois documentários sobre suas comédias de maior sucesso: ‘The Office’ e ‘Extras’. Cada uma ganhará um filme com três horas e meia de duração. O longa sobre ‘The Office’ deve ser o primeiro a ir ao ar no Reino Unido, entre julho e agosto.

As filmagens vão incluir cenas deletadas, bastidores, conversas com o elenco e com a produção dos seriados e as participações especiais mais memoráveis de cada série.

Entre as estrelas que já concordaram em liberar as imagens, estão Ben Stiller, Kate Winslet e Patrick Stewart.

Celebridades como Richard Curtis e Matthew Perry (que viveu o Chandler de ‘Friends’), que se declararam fãs desses seriados, vão dar depoimentos.

Criada por Ricky Gervais e Stephen Merchant, a britânica ‘The Office’ já foi premiada diversas vezes. Entre os troféus mais importantes, estão três Baftas (espécie de Oscar inglês) entre 2002 e 2004 e um Globo de Ouro em 2004.

Gervais é também o protagonista da sitcom, que retrata a vida em um escritório de David Brent, um chefe que quer ser amigo dos funcionários, mas transfere para eles seus erros e lida mal à beça com os pedidos de demissão da empresa.

Dinheiro do enterro

Em entrevista ao jornal ‘The Sun’, Gervais brincou que ‘normalmente gravam esse tipo de programa quando os criadores já morreram’. ‘Para mim, é bom. Exibir isso agora vai me permitir assistir ao programa e colocar o dinheiro que eu ganhar em algo mais divertido do que meu funeral.’

‘Extras’, coprodução com a HBO, foi feita depois do sucesso de ‘The Office’, pela mesma dupla de criadores. Curta, teve duas temporadas com seis episódios cada uma e um especial de Natal. A lista de prêmios inclui um Emmy, um Bafta (ambos em 2007) e um Globo de Ouro (2008).

Aqui, Gervais vive um ator desempregado, que procura trabalho em diversas produções, mas sempre perde a vaga para atores famosos como Robert de Niro.

‘The Office’ é a série mais popular entre as duas. Seu culto pode ser medido nas diversas adaptações que ganhou. A versão mais famosa é a dos Estados Unidos, que tem o comediante Steve Carrell no papel principal. Mas há outras também no Canadá, na Alemanha, na França e no Chile.

No Brasil, ‘The Office’ britânico foi exibido no Eurochannel. ‘Extras’ foi apresentado pelo HBO. É possível conhecer ambos os shows no site da BBC (bbc.co.uk/comedy/). Um pouco do humor de Gervais está em seu blog (em inglês) www.rickygervais.com/ thissideofthetruth.’

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