Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Google procura o próximo Google

O Google acha que pode ser jovem e maluco novamente. E está apostando US$ 200 milhões nessa possibilidade. No mercado mais aquecido para companhias iniciantes de tecnologia em uma década, a gigante do Vale do Silício está jogando de capitalista de risco numa corrida para descobrir o próximo Facebook ou Zynga.

Outras companhias de tecnologia consolidadas estão fazendo o mesmo, já que os dólares de capital de risco no mercado se aproximam dos níveis vistos pela última vez na era da bolha das pontocom de 2000.

Para alguns, isso é um sinal revelador de um setor superaquecido, sintomático de uma corrida tardia e não recomendada para investir nos tempos bons. Mas o Google diz que tem uma arma para guiá-lo na escolha dos investimentos – um molho secreto que implica usar algoritmos baseados em dados para descobrir o futuro sucesso. Pouco importa que a quantidade de dados seja, com frequência, muito pequena, pelo fato de as companhias serem muito recentes e a maioria dos capitalistas de risco dizer que investir é mais uma arte que uma ciência. No Google, até a arte é quantificável.

“Investir é estar numa sala escura e tentar achar a saída”, disse Bill Maris, sócio gerente do Google Ventures, o braço de investimentos do grupo. “Se você tiver um fósforo, deve acendê-lo.”

Os fundos corporativos de investimento de risco aportaram US$ 583 milhões em empresas iniciantes nos primeiros três meses do ano, segundo a National Venture Capital Association, ante US$ 443 milhões no mesmo período do ano passado e US$ 245 milhões em 2009, antes do investimento em tecnologia começar sua rápida reviravolta. Hoje, 10% dos dólares do capital de risco vêm de corporações, próximo do pico de 15% da era da bolha anterior, em 2000.

Empresas iniciantes

Facebook, Zynga e Amazon.com estão investindo em empresas iniciantes de mídia social. A AOL Ventures reiniciou no ano passado, após três tentativas anteriores, e a Intel Capital espera investir mais neste ano que os US$ 327 milhões de 2010. O Google Ventures diz que investiu tanto dinheiro no primeiro semestre deste ano como em todo o ano passado, e Larry Page, o cofundador da companhia, que se tornou seu presidente executivo neste ano, prometeu manter os cofres abertos.

“Quando o pessoal das corporações se envolve, isso geralmente significa que o mercado está no auge”, disse Andrew S. Rachleff, que leciona sobre capital de risco em Stanford e foi fundador da Benchmark Capital, uma empresa de investimentos de risco. Ele questionou também o uso de algoritmos pelo Google nesta área. “Não há nenhuma análise a ser feita quando se está avaliando uma companhia que está criando um novo mercado, porque não há um mercado para analisar”, disse.

Apesar de até Bill Maris comparar o investimento de risco a “comprar bilhetes de loteria”, o Google diz que tem fé em seus algoritmos. Ao mesmo tempo, ele está dando os passos incomuns de prover às empresas iniciantes selecionadas o acesso a seus 28,7 mil empregados para o aconselhamento em engenharia, recrutamento e negócios, e oferecendo espaço de escritório no Googleplex e aulas sobre a construção de uma empresa.

Page, que não aceitou o pedido de uma entrevista, já comprometeu os US$ 200 milhões do Google Ventures deste ano e diz que uma quantia virtualmente ilimitada está disponível, segundo Maris, enquanto o Google reata com suas raízes iniciais. “Tive conversas com Larry nas quais ele disse: ‘Faça o máximo que puder, o mais rapidamente que puder e da maneira maior e mais inovadora possível’.”

Algoritmos

O Google diz que sua abordagem está dando resultados. Um de seus investimentos, a Ngmoco, foi adquirido por uma companhia de jogos japonesa, DeNA, por até US$ 400 milhões, e outro, HomeAway, para aluguel de casas de praia, teve uma recepção calorosa dos investidores quando abriu seu capital no mês passado. Uma terceira, Silver Spring Networks, uma companhia de rede inteligente, entrou com pedido para abrir seu capital na semana passada.

O Google Ventures investe em várias áreas – internet, biotecnologia e tecnologia limpa. Ele coloca grandes somas de dinheiro em companhias maduras, mas está investindo também pequenas quantias em 100 empresas novas neste ano.

Para fazer suas escolhas, a companhia construiu algoritmos de computador usando dados de investimentos de risco passados e da literatura acadêmica. Por exemplo, para companhias individuais, o Google introduz dados sobre quanto tempo os fundadores trabalharam nas empresas antes de levantar dinheiro e se os fundadores tiveram êxito na fundação de empresas no passado. O grupo coleta informações similares sobre investimentos potenciais antes de dar luz vermelha, amarela ou verde.