Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

José Renato Nalini

‘O modelo democrático possível no século 20 foi a velha democracia representativa. Se as pessoas não sabem governar, presume-se, ao menos, que saibam escolher quem as bem governe.

A Constituição brasileira de 1988 acenou com um novo paradigma: a democracia participativa. Não por acaso, a célebre disposição ‘todo o poder emana do povo e em seu nome será exercido’ ganhou nova dicção. Agora, todo o poder continua a emanar do povo. Mas este ‘o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição’.

Ainda foi tímida a implementação da democracia participativa. Além dos institutos já conhecidos do plebiscito e do referendo, o constituinte introduziu a iniciativa popular. A cidadania pode instaurar o processo legislativo e produzir o ordenamento que entender adequado para reger a vida social.

Melhor seria se tivesse adotado também o veto popular, para expurgar do ordenamento os comandos legislativos incondizentes com a maioria da população e o ‘recall’. No Brasil, o instituto anglo-saxão só é utilizado para a reposição de peças automobilísticas defeituosas, não para cassar defeituoso mandato de quem descumpre promessas eleitorais.

Mas foi um avanço democrático. E se chegou a alimentar a esperança de que a inclusão digital, o acesso facilitado à comunicação eletrônica, seria alavanca para intensificar a participação cidadã na condução da coisa pública. Essa a democracia digital em que acreditei. A possibilidade de cada pessoa, ao acessar um computador, enviar mensagens ao detentor de mando, para sinalizar qual a conduta exigível ou esperada.

Em lugar disso, outros enxergam no presente a substituição da democracia representativa não pela democracia participativa, mas pela democracia midiática. Esta preservaria a representatividade, mas adicionaria elementos eletrônicos às eleições, ao acompanhamento da vida parlamentar e à reprodução de morais predominantes.

Seu veículo principal é a televisão, cujo instrumento básico é o jornalismo, formador da opinião pública. Ao acompanhar os noticiários, o cidadão se sente controlador dos acontecimentos. Se a imprensa dessacralizou a palavra, a TV desmistificou a imagem. O telespectador é levado não só a acreditar no visível – crê-se naquilo que se vê -, como a admitir que não exista o invisível.

É de Régis Debray a observação de que o Estado-Educador cedeu espaço para o Estado-Sedutor. O primeiro, ancorado na razão, acredita na persuasão como via de obtenção do consenso. Sua concepção é abstrata, calcado na lei e na versão republicana, regime sem corpo, fruto da conjugação de vontades abstratas. O Estado-Educador serve-se da repressão física legítima – o monopólio da força – como mecanismo de controle.

O Estado-Sedutor é a entidade da videosfera, do controle pelo estímulo, da cretinização da massa, da videopolítica. Ele diviniza o presente, faz do povo um telecorpo otimista e antenado e do governo, um produto veiculado, propalado e recomendado pela mídia.

Na visão de Edson Passetti, a ecologia, o humanitarismo e o cultural passam a ser as rubricas da sociedade do contato, de uma sociedade de suposta superioridade da sociedade civil. No Estado-Educador importava educar o educador e julgar os juízes. No Estado-Sedutor o que importa é seduzir os sedutores, de forma a enraizar a comunicação sob a forma de publicidade e marketing. São as sondagens que dão atualidade aos desígnios da sociedade civil e estes deverão ser atendidos, seletivamente, pelo governo. Pois o governo é o cliente e produto preferencial.

Já não importa o conteúdo da mensagem, mas a retórica das imagens. A figura política passa a ser vedete na parafernália eletrônica, com instituição de uma liturgia televisual propícia ao populismo e fundada na trindade informação-comunicação-técnica. O telespectador é o alvo no jogo das instantaneidades emocionais, que tomam o lugar da reflexão. Até as charges animadas completam o jogo e fantasiam a cena política, a trivializar fatos ensejadores de lamentos, em lugar de chacotas.

A mídia, todavia, não é a culpada, nem deve ser satanizada. Conforme Giles Lipovetsky, o telespectador pós-moderno não se identifica nem com o homem padronizado das multidões nem com o indivíduo soberano. É o indivíduo ‘zapeador’, de audiência flutuante. Nessa viagem, pode-se escolher. E também é possível desligar o aparelho.

Vive-se, sim, uma nova era, em que a mídia é poderosa, mas não consegue dissolver os desejos e as exuberâncias das festas, os momentos de afetividade partilhada e as diversas formas de agregação social, alegres ou tristes. José Renato Nalini, juiz, é presidente do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo E-mail: nalini@apamagis.com.br’



HISTÓRIA DO JB
Jornal do Brasil

‘Na mudança do século, o JB retoma o seu crescimento (1991-2004)’, copyright Jornal do Brasil, 9/04/04

‘A década de 90 foi marcada pelo agravamento da crise empresarial do Jornal do Brasil. O cerco que começou nos anos 70, com os governos dos generais militares, teve conseqüências dramáticas para a empresa. Paralelamente, as Organizações Globo, apoiadas em redes de televisão, rádios, revistas e jornais, pressionaram anunciantes para asfixiar a empresa com o objetivo de excluí-la do mercado publicitário. O endividamento cresceu e o jornal virou o século em situação financeira extremamente difícil.

Apesar dos problemas o Jornal do Brasil continuou refletindo, nas páginas, as enormes transformações que representaram a consolidação do processo democrático no Brasil. Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, o país, o Rio de Janeiro e o mundo foram presenças permanentes nas páginas, com informações criteriosas e análises detalhadas dos acontecimentos que transformaram o Brasil e o mundo política, social e economicamente.

A década de 90 foi marcada por mudanças profundas nos meios e formas de comunicação. O advento da internet redesenhou o universo da difusão de informações e ajudou a moldar os contornos do mundo globalizado.

Simultaneamente a profundas mudanças políticas ocorridas no planeta, como o desmoronamento do império soviético e a formação da Comunidade Européia, sacudiram o Brasil transformações originadas nos últimos anos do século 20.

Apesar da crise empresarial o Jornal do Brasil não perdeu conteúdo nem a relação permanente com os acontecimentos. Em 1999, conquistou o Prêmio Esso de Fotografia com a imagem de Marco Terranova de adultos e crianças, deitados no asfalto, à beira da orla, assustados com um tiroteio. E foi a primeira publicação brasileira a lançar seu conteúdo na internet, em 1995. Os testes de mercado começaram em fevereiro e, já em maio, não só passava a publicar a edição diária integral, mas também fez com que o endereço eletrônico JB ON LINE conquistasse vida própria.

Outra grande iniciativa do Jornal do Brasil, em decorrência da dificuldade financeira, ocorreu no final da década. Por conta da crise, mas premido pela necessidade de acompanhar o que havia de mais moderno, o jornal terceirizou integralmente sua impressão e parte da distribuição com o jornal O Dia. Para qualquer publicação diária brasileira, era uma idéia impensável até aquele momento. Hoje, é tema corrente na imprensa do pais, na busca de uma equação mais competitiva para os custos.

Em 2001, procurando soluções para assegurar a permanência no mercado e garantir o futuro da instituição, os acionistas do JB arrendaram, por 60 anos, a marca Jornal do Brasil à CBM, Companhia Brasileira de Multimídia. A companhia Docasnet, do empresário Nelson Tanure, acionista majoritário da CBM, assumiu a administração da nova empresa. Iniciou-se então um esforço de revitalização empresarial e editorial ainda hoje em curso, começando pelo retorno à Avenida Rio Branco 110, no Edifício Conde Pereira Carneiro – local em que o jornal construiu sua história.

O Jornal do Brasil conseguiu retomar a trajetória de crescimento, sendo o único dos grandes diários brasileiros a não perder circulação no último ano. O feito foi resultado do lançamento de novos produtos, como as revistas JB Ecológico, Vida, Glam, do Caderno H, colunas como a de Márcia Peltier, Hildegard Angel, Ricardo Boechat e Augusto Nunes e mudanças gráficas pontuais, inclusive no título do jornal.

Em fevereiro de 2003, começou a circular a edição diária do Jornal do Brasil em Brasília. Em janeiro deste ano, foi lançado o JB Barra, caderno voltado para a região da Barra da Tijuca, um dos pólos de crescimento do Rio, por intermédio da sucursal do jornal montada naquele bairro.

Em fevereiro de 2003 morreu Manuel Francisco do Nascimento Brito, depois de meio século de presença no comando do Jornal do Brasil. Os atuais responsáveis pela empresa, em sintonia com os novos tempos, estão certos da necessidade de conduzir a publicação e manter o título com a mesma altivez com que o jornal escreveu a sua história.’

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‘A volta para a democracia (1976-1990)’, copyright Jornal do Brasil, 8/04/04

‘Em 1976, o governo do general Ernesto Geisel completava dois anos. O presidente tentava levar adiante o processo de abertura política ‘lenta, gradual e segura’, em meio a resistências da extrema-direita militar. Simultaneamente, adotava medidas centralizadoras e estatizantes na área econômica, afetada pelo aumento dos preços do petróleo. O Jornal do Brasil discordava expressamente dos rumos impostos à economia, embora reconhecesse os avanços ocorridos na caminhada rumo à democracia.

Nesse quadro, o general Hugo Abreu, então chefe do Gabinete Militar da Presidência da República, montou um relatório confidencial – divulgado por Elio Gaspari em 1991, no Informe JB – batizado de ‘Medidas contra o Jornal do Brasil’. Objetivo: reprimir ‘a sua ação contestadora e subversiva permanente’. Entre as sugestões figuravam a suspensão do crédito e publicidade oficiais. Recomendava-se que o governo estadual participasse do esquema de pressões.

Outras medidas incluíam a liquidação sumária dos débitos da empresa com entidades públicas, sem qualquer espécie de negociação; pressões contra anunciantes do jornal, sob ameaça de corte de crédito oficial; investigação fiscal e política da empresa e de seus diretores; suspensão do credenciamento de repórteres da empresa no Planalto, ministérios e órgãos estaduais. Propunha, por fim, a censura a qualquer momento, mas preferencialmente ‘a apreensão do jornal depois de impresso, antes da distribuição’.

Às voltas com o substancial investimento exigido pelas novas instalações na Avenida Brasil, que abrigaria a sede do JB entre 1973 e 2002, a empresa sofreria o impacto no seu equilíbrio financeiro. Mas nada alterou a trajetória do jornal inovador e inquieto, vocação que superou as restrições forjadas para fazê-lo perder a liderança em circulação e abalar o prestígio de formador de opinião.

Em abril de 1976, publicou-se o primeiro número da Domingo, revista que alcançou imediato sucesso editorial e repercutiu intensamente no meio jornalístico. Ao longo do tempo, a publicação modernizou-se e abrigou equipes sempre formadas por profissionais de primeira linha.

Cerco publicitário, censura, escuta telefônica, prazos improrrogáveis para colocar uma emissora de televisão no ar … de nada o JB foi poupado na virada dos anos 80. Foi a única organização de imprensa a devolver concessões de TV. Tal fato se consumou em setembro de 1978, no Rio e em São Paulo. No plano político, com a sucessão de Geisel pelo general João Figueiredo e a aprovação da Lei da Anistia pelo Congresso, em 1979, o processo de abertura prosseguiu, apesar das ações violentas dos bolsões radicais, que provocaram dezenas de atentados no país, até o episódio da bomba do Riocentro, em 1981.

O Jornal do Brasil obteve um prêmio Esso com o desmonte do relatório das investigações do inquérito sobre o caso do Riocentro e teve importância fundamental na denúncia da tentativa de fraude eletrônica, pela Proconsult, nas eleições estaduais do Rio de Janeiro, em 1982, que visava beneficiar a candidatura de Moreira Franco e impedir a vitória de Leonel Brizola.

Ainda no início da década, o Jornal do Brasil voltou a se interessar pelo investimento em rede de TV, possibilidade aberta com duas licitações novas do governo federal. A campanha contra o jornal na disputa foi comandada pelo general Otávio Medeiros, então chefe do Serviço Nacional de Informações, que apontava o JB como um inimigo do governo Figueiredo.

Em 1983, com o falecimento da condessa Pereira Carneiro, Manuel Francisco do Nascimento Brito, que desempenhava havia anos funções relevantes no comando da empresa, assumiu a presidência. A década de 80 e a comunicação, em todos os seus segmentos, seriam marcadas pela revolução tecnológica, com o surgimento do PC, o computador pessoal, que trouxe a informática para o primeiro plano da modernização das atividades humanas e das empresas de comunicação.

Em fins de outubro de 1983, Nascimento Brito organizou um jantar, na casa do advogado Miguel Lins, em homenagem ao então governador de São Paulo, Franco Montoro. Em meio às conversas, emergiu a idéia da campanha pelas Diretas Já.

Quando o movimento conquistou as ruas, o Jornal do Brasil se engajou, até que o Congresso enterrasse o projeto. A partir daí, o JB vinculou-se à campanha que elegeu Tancredo Neves presidente da República no Colégio Eleitoral em 1985.

A informatização da redação teria início em 1986. Outros produtos de sucesso seriam lançados até o final da década, como os cadernos Cidade e Idéias e a revista Programa, que passou a circular às sextas-feiras.

O Brasil viu José Sarney tornar-se o primeiro civil a assumir a Presidência, com a morte de Tancredo Neves, após duas décadas de governo militar. Com Sarney, o Jornal do Brasil manteve relações difíceis, ao apontar suas fragilidades no exercício do cargo e criticar a prorrogação do mandato presidencial por um ano. Em 1988, o país passou a contar com nova Constituição, da qual o jornal foi um crítico feroz por considerá-la um documento que tornaria o país quase ingovernável.

O JB encerraria a década com brilhantismo, ao receber mais um prêmio Esso, pela entrevista de Zuenir Ventura com Chico Mendes. O líder sindical acreano dizia estar marcado para morrer e apontava os nomes de seus assassinos. Quinze dias depois foi morto.

A década de 80 se despediu com a queda do Muro de Berlim e o fim da guerra fria e do domínio soviético na Europa oriental. No Brasil, pela primeira vez desde 1960, o povo elegeu um presidente nas urnas: Fernando Collor de Mello, com o apoio do Jornal do Brasil, que se identificou, como ocorreria com todas as grandes publicações brasileiras, com as idéias econômicas liberais do jovem candidato.’

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‘A reforma que marcou a imprensa brasileira (1946-1960)’, copyright Jornal do Brasil, 7/04/04

‘Com o final da Segunda Guerra e a derrota dos países do Eixo e, no front interno, com o fim do Estado Novo, as eleições gerais e a promulgação da nova Constituição pela Assembléia Constituinte de 1946, a sensação de se estar vivendo um novo tempo, de mudanças e democracia, no Brasil e em todo o mundo, era uma realidade.

Durante o governo Dutra, o Jornal do Brasil prosseguiu em sua trajetória de jornal popular, mantendo o destaque dos anúncios classificados em suas primeiras páginas.

A Guerra Fria começava a se estabelecer no cenário internacional. No Brasil, em 1950, após a tragédia da perda da Copa do Mundo para o Uruguai em pleno Maracanã, o povo levava Getúlio Vargas de volta ao poder com ampla maioria de votos.

No início do mesmo ano, morria o diretor do Jornal do Brasil, José Pires do Rio, principal defensor da predominância dos classificados no jornal. Logo após, o conde Pereira Carneiro, por motivo de saúde, se afastou da direção da empresa, vindo a falecer em fevereiro de 1954. Quarenta dias depois, sua viúva, Maurina Dunshee de Abranches Pereira Carneiro, a Condessa, como ficou conhecida, assumiu o lugar do marido.

Desde o início de sua gestão, a Condessa contou com a colaboração de seu genro, Manuel Francisco do Nascimento Brito – que fizera um curso para editores na Universidade de Columbia e estava à frente da Rádio Jornal do Brasil desde 1949 – e do acadêmico e ex-jurista Aníbal Freire, com longa experiência na empresa.

Por intermédio de Nascimento Brito, o jornal adquiriu novos equipamentos gráficos, com os recursos técnicos necessários para sua modernização. A condessa Pereira Carneiro, também convencida de que o jornal precisava mudar para assegurar a sua sobrevivência, viajou aos Estados Unidos em busca de novas idéias.

Após o segundo governo de Vargas e seu suicídio, o Brasil atravessava um período de renovação, com a ascensão de Juscelino Kubitschek à Presidência, em 1956, com um governo voltado fortemente para a industrialização e o desenvolvimento. O país vivia a expectativa de ganhar uma nova capital e, na cultura, sopravam os novos ventos dos primeiros filmes de Nelson Pereira dos Santos e dos primórdios da Bossa Nova.

Em sintonia com esta nova realidade, o Jornal do Brasil, já estruturado como empresa, começou também o seu processo de mudança. Em junho de 1956 foi lançado o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, criado pelo poeta Reynaldo Jardim, que alcançou grande repercussão com a sua forma neoconcretista e seu conteúdo inovador, que misturava artes plásticas, literatura, ciência e outros assuntos e onde escreveram Mário Faustino, Ferreira Gullar, os irmãos Augusto e Haroldo de Campos e Mário Pedrosa, entre outros nomes ilustres de nossa literatura.

O SDJB foi o embrião do futuro Caderno B, lançado em setembro de 1960, que foi o primeiro caderno da imprensa brasileira exclusivamente dedicado a variedades e passou a ser o modelo para os segundos cadernos e cadernos culturais editados em todo o País desde então.

Em 1957, em continuidade ao seu processo de reformulação, a direção do Jornal do Brasil convidou Odylo Costa Filho, que trouxe com ele uma equipe de jovens jornalistas, que trabalhavam no Diário Carioca e na Tribuna da Imprensa, da qual faziam parte Jânio de Freitas, Carlos Lemos, Wilson Figueiredo e Amílcar de Castro, entre outros, que imprimiram ao jornal um estilo mais leve e agressivo ao mesmo tempo.

O espaço do noticiário aumentou, o número de páginas também, a opinião do jornal e o uso de fotos passaram a ter grande destaque. Em 1958, Odylo deixou a casa, junto com alguns companheiros, mas a mudança do Jornal do Brasil prosseguiu.

No aspecto gráfico, Amílcar de Castro, artista plástico mineiro, introduziu muitas inovações, eliminando os fios, implantando a diagramação vertical e valorizando os espaços brancos das páginas. Em junho de 1959, pela primeira vez, a primeira página do jornal saiu com os classificados em L, concretizando a nova realidade do jornal.

A reforma editorial, gráfica e industrial do Jornal do Brasil foi a mais abrangente e importante que um jornal experimentou em nosso país, tornando-se uma referência e influenciando de forma decisiva o jornalismo brasileiro feito a partir daí. Na palavra de um de seus mentores, Nascimento Brito, ‘um processo de modernização, que terá sempre continuidade’.’

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‘Criatividade e ousadia para superar os anos de chumbo (1961-1975)’, copyright Jornal do Brasil, 6/04/04

‘No início dos anos 60, o mundo parecia estar em ebulição. Os fatos se sucediam com tal velocidade que pareciam um aviso sobre o que estava por vir: Fidel triunfava com a revolução cubana, Kennedy era eleito, Gagarin anunciava que a Terra era azul, o Muro de Berlim já dividia as Alemanhas, surgiam os Beatles e os Rolling Stones.

O Brasil, com sua moderníssima nova capital, era bicampeão mundial de futebol e vivia uma efervescência cultural, com o Cinema Novo e a Bossa Nova. Na política, no entanto, após a euforia dos anos JK, o momento era de perplexidade, sob o impacto da renúncia de Jânio Quadros, com apenas oito meses de governo e as idas e vindas das correlações de forças durante o governo João Goulart.

No Jornal do Brasil, em maio de 1961, Alberto Dines passou a ser o editor-chefe, em substituição a Jânio de Freitas e consolidou a reforma iniciada na década passada. Segundo Nascimento Brito, diretor da empresa, Dines sistematizou as modificações, permitindo que se chegasse à verdadeira consciência do que se convencionou chamar de ‘reforma do JB’.

Foi um período riquíssimo para o jornalismo e a cultura do país, em que o jornal firmou sua posição na imprensa carioca e nacional, ganhando uma nova dimensão como formador de opinião e como parâmetro de modernização editorial e gráfica. O caderno B, espelho do comportamento da época, lançou e acolheu nomes como Drummond, Clarice Lispector, Fernando Sabino, Henfil, Ziraldo, Marina Colasanti, Carlos Leonam e Zózimo Barroso do Amaral, entre outros, num jornal que ainda contava com colunistas do porte de Carlos Castello Branco, João Saldanha, Armando Nogueira e Alceu de Amoroso Lima.

Foi também durante a gestão de Dines, de 1961 a 1973, uma das mais longas do jornal, que se criou o Departamento de Pesquisa – que contribuía com dados e análises, para situar os fatos em seus contextos e facilitar a compreensão do leitor – cuja atuação gerou o surgimento de inúmeros bancos de dados pelo país. São desta época ainda o Caderno Especial, os Cadernos de Jornalismo e Comunicação e o Festival JB de Curtametragem.

Paralelamente, o cenário político se agravou e houve o golpe militar de 1964. Mantendo sempre a sua independência e defendendo seu ideário liberal, o Jornal do Brasil apoiou algumas medidas do novo governo, mas nunca hesitou em combatê-lo nas situações de arbítrio e repressão contra as liberdades democráticas.

Durante os vinte anos de duração do regime militar, como represália por suas posições políticas, o Jornal do Brasil teve de conviver com a censura prévia e a presença de censores na redação; com a intimidação e a prisão de diretores e editores, em pelo menos duas ocasiões; com a força, como na invasão de sua sede em 1964 e com o boicote econômico por parte do governo, o que causaria sérios prejuízos à empresa.

Nada, no entanto, o impediu de continuar a produzir bom jornalismo, ganhar muitos prêmios, entre eles vários Essos e três prêmios internacionais Maria Moors Cabot – para Nascimento Brito, Alberto Dines e Carlos Castello Branco – ou de editar algumas das páginas mais brilhantes e subversivas do período, como as que anunciaram o AI-5, repleta de ironias e insinuações e a queda de Allende, com forte impacto e beleza gráfica.

Em 1973, como parte de sua expansão, o Jornal do Brasil transferiu sua sede para um novo prédio, na Avenida Brasil nº 500, projetado para abrigar todas as empresas do grupo e um possível canal de televisão – que então constava dos planos da empresa – num ponto estratégico para a logística de distribuição do jornal. Foi um investimento de vulto que, por força das circunstâncias que se sucederiam, teria influência nos destinos da empresa.

No final de 1975, o jornalista Wladimir Herzog era encontrado morto no DOI-Codi de São Paulo, num episódio cuja apuração aceleraria a volta à democracia pela qual o Brasil tanto ansiava. Muita coisa ocorrera naqueles quinze anos: a minissaia, a pílula, o feminismo, maio de 68, Woodstock, a guerra do Vietnam. Kennedy estava morto, ‘Che’ Guevara também, mas Mao e Fidel viviam. O homem já pisara a Lua e Lennon havia declarado que ‘o sonho acabou’. Certeza, apenas uma: o mundo jamais seria o mesmo após a década de 60.’

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‘Classificados retiram política da primeira página (1931-1945 )’, copyright Jornal do Brasil, 5/04/04

‘O governo Vargas havia iniciado no ano anterior com a Revolução de 30, que derrubou o governo de Washington Luís e pôs fim à chamada República Velha. Em 1931, depois do Jornal do Brasil ter ficado fechado em consequência da invasão de simpatizantes da Revolução, o Conde Pereira Carneiro muda a chefia da redação. Anibal Freire, comprometido com o governo deposto, é susbstituído por Jânio Pombo Brício, que mantinha um bom relacionamento com o governo de Getúlio Vargas. Sempre dentro da linha de moderação, o Jornal do Brasil não demonstrava simpatia pelo Governo Provisório de Getúlio Vargas, mas, discretamente, manteve cautela. Em 1932, o jornal que até então vinha fazendo algumas críticas ao governo Getúlio Vargas, se solidariza aos paulistas, e apóia a Revolução Constitucionalista – um dos mais importantes acontecimentos da história política brasileira ocorridos no Governo Provisório de Getúlio.

Foram três meses de combate entre opositores e simpatizantes do Governo Provisório. Apesar da derrota dos rebeldes, a revolta paulista alertou o Governo Provisório que as eleições para a Assembléia Nacional Constituinte não mais podiam esperar, o que aconteceu no ano seguinte, culminando com a nova Constituição de 1934. O Conde Pereira Carneiro ingressa no Partido Autonomista do Distrito Federal e se candidata à Constituinte – o Jornal do Brasil foi então o veículo de divulgação da plataforma autonomista. Em 1934, chegou ao fim o chamado Governo Provisório e apesar do apoio do jornal à nova Constituição, ao governo de Getúlio o jornal continua a ter críticas.

A crise financeira, sofrida no começo da década, ainda não estava sanada. Surge na história do Jornal do Brasil, José Pires do Rio como diretor-tesoureiro e com a incumbência de reorganizá-lo financeiramente. Com amplos poderes, Pires do Rio desagrada Aníbal Freire, que já estava novamente no jornal. Para ele o Jornal do Brasil deveria ser um boletim de classificados – só assim conseguiria sair da crise. Os fatos políticos passaram a ter menos destaque, assim como as artes e a literatura. As primeiras páginas do jornal eram inteiramente dedicadas aos anúncios. O jornal ganha o apelido pejorativo de ‘jornal das cozinheiras’.

Mesmo assim, todos os fatos políticos – e o período foi intenso, estiveram presentes nas páginas do jornal. Ainda moderado, mas bem mais conservador, o jornal não apoiou a Intentona Comunista de 1935, e simpatizou com a Lei de Segurança Nacional, do mesmo ano. O golpe que instaurou o Estado Novo em 1937, foi visto pelo jornal como uma alternativa viável para a crise política, embora não concordasse com a continuidade de Getúlio no poder, tendo apoiado a candidatura de Armando Sales Oliveira à presidência da República.

Durante a ditadura de Vargas – período do Estado Novo de 1937 a 1945, o jornal adota uma política de cordialidade com o governo e com sua política. Vargas implementou, pela 1ª vez na História do país, uma abrangente política de direitos sociais e trabalhistas, alguns destes antigas reivindicações das classes populares brasileiras, amplamente divulgadas por um aparato de propaganda de massas realizado pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP).

Tendo sido somente cordial, moderado, muitas e muitas vezes contrário, outras tantas a favor, ao governo, o Jornal do Brasil defendeu o não continuísmo da Era Vargas. Pires do Rio, que ainda era diretor, tinha ligações com o candidato oposicionista Eduardo Gomes, e o jornal apoiou a candiatura, assim como a deposição de Vargas. Era o fim de uma era, só que seria a primeira, – ele estaria de volta em 1950.

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‘Pereira Carneiro muda o rumo do jornal (1916-1930)’, copyright Jornal do Brasil, 4/04/04

‘A Primeira Guerra Mundial, iniciada em 1914, trouxe o encarecimento excessivo de vários produtos no Brasil. Um deles, o papel, matéria-prima do jornal, fez com que a crise financeira do Jornal do Brasil se avolumasse. Em 1919, sem condições de resgatar a hipoteca feita ao Conde Pereira Carneiro,o Jornal do Brasil passou para as suas mãos, deixando de ser dos irmãos Mendes, proprietários desde 1894. É hora de mudar.

Durante os quinze anos da gestão dos irmãos Mendes, o jornal voltou-se para as questões populares, muitas vezes sensacionalistas. Com a chegada do Conde Pereira Carneiro , o Jornal do Brasil tinha como objetivo reencontrar as suas melhores tradições sem se afastar da verdade. Ao assumir, o Conde pediu prudência e moderação à sua equipe – o jornal não poderia se envolver em campanhas que representassem risco financeiro. O Conde, graças ao seu talento de empresário, sabia o que era o jornalismo moderno.

As campanhas de interesse público continuaram, mas com uma preocupação especial na maneira de conduzi-las e apresentá-las em uma linguagem elevada. Aos colaboradores de renome que já faziam parte da redação do jornal, somaram-se figuras de prestígio nos meios intelectuais, como Anibal Freire e Barbosa Lima Sobrinho, que escreveu no Jornal do Brasil por quase oitenta anos, tendo começado em 1921, vindo de Pernambuco, aos 24 anos.

Apesar da moderação e da neutralidade impostas na gestão do Conde Pereira Carneiro, todos os fatos – e o período era de grandes mudanças políticas, econômicas e sociais – , estiveram presentes nas páginas do Jornal do Brasil como: a morte do presidente recém-eleito Rodrigues Alves, em 1919, e a posse do seu vice Delfim Moreira, que ao deixar o governo após oito meses concedeu entrevista exclusiva ao jornal; a posse de Epitácio Pessoa, em 1919; a Revolta do Forte de Copacabana, em 1922 e a Semana de Arte Moderna, em 1922. A primeira travessia aérea do Atlântico Sul realizada por Sacadura Cabral e Gago Coutinho, culminado com a chegada ao Rio, em 17 de junho de 1922, mereceu edição especial de 11 mil exemplares, todos vendidos a cem réis cada um.

Ainda em 1922, apesar da posição de neutralidade, o Jornal do Brasil, apoiou discretamente, a candidatura de Nilo Peçanha. Com a vitória de Arthur Bernardes, surgiu uma aproximação do governo, feita por Anibal Freire, em 1924, que na época era diretor do jornal, e foi nomeado ministro da fazenda do novo governo. A Revolução paulista de 1924 também foi coberta pelo jornal. A partida de futebol Vasco e Fluminense, em 1923, traz para a primeira página do jornal, inovando, uma foto de esporte.

Em 1926, ainda na linha editorial adotada por Pereira Carneiro, de discrição, o Jornal do Brasil apoiou a candidatura de Washington Luís à presidência da República. Com a vitória, o apoio continuou, inclusive quando a oposição ao novo governo foi ganhando força com a candidatura oposicionista de Getúlio Vargas. A campanha contra o governo vigente abrangeu todo o país. Os políticos e tenentes, derrotados nas eleições de 1930, conduziram o movimento, que em menos de um mês, foi vitorioso. Com o apoio de grande parte do povo, o jornal, oposicionista, foi invadido e empastelado. Por quatro meses, o Jornal do Brasil ficou fechado. Era o fim de uma era – o da Primeira República (1889-1930). Getúlio chegava ao poder, pela primeira vez.’

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‘O jornal atravessa com sucesso o novo século (1901-1915)’, copyright Jornal do Brasil, 3/04/04

‘A sede nova, na Avenida Central, recém aberta, era um exemplo de funcionalidade e beleza. Com relógio e holofotes no topo, o prédio combinava com o novo Rio, que foi surgindo, graças às realizações do prefeito Pereira Passos, iniciadas em 1902.

…Ouvia-se o estourar de foguetes nos vários ângulos da cidade, de espaço a espaço o badalar das campainhas dos animais, dos bondes, durante toda a noite, charangas, serenatas, cantorias, tudo quanto poderia exprimir a expansão da alma do povo, pela entrada do novo ano e do século 20.’ Foi assim, que o Jornal do Brasil, no dia dois de janeiro de 1901, saudou o novo século. O jornal já completava 10 anos. Continuava a ser uma tribuna popular. As seções em defesa do povo se multiplicavam. As crônicas policiais, a cobertura do Carnaval e o jogo do bicho eram assuntos constantes. ‘Subúrbios’, ‘Queixas do Povo’, ‘Crimes da Polícia’ davam o tom do jornal. O povo sabia que podia contar com o Jornal do Brasil.

O Brasil era agora, desde 1903, governado por Rodrigues Alves. Dispondo de recursos, e em parceria com o prefeito Pereira Passos, o governo realizou uma série de obras de reurbarnização na capital da República. Surge a Avenida Central, atual Avenida Rio Branco, onde, seguindo a modernização da cidade, o Jornal do Brasil, então com ampla popularidade, inicia em 1905 a construção de sua nova sede. A pedra fundamental havia sido inaugurada em 14 de outubro de 1904.

Apesar da boa vendagem do jornal, a construção da sede e a compra de nova maquinaria trouxeram dificuldades financeiras à empresa. Os irmãos Mendes, proprietários do jornal, transformaram o Jornal do Brasil em sociedade anônima e, a partir de 1º de agosto de 1906, sua primeira página passou a ser totalmente ocupada por anúncios classificados, alteração gráfica que perduraria por mais de quarenta anos.

As mudanças gráficas não alteraram o conteúdo. Ainda com o apelido de ‘O Popularíssimo’, o jornal continuou a se destinar a atender às reivindicações do povo, mas não encampava os movimentos populares, como ficou comprovado pela cobertura da Revolta da Chibata. Durante mais de sessenta dias, o jornal publicou diversas edições diárias, dando amplo destaque para o assunto sem apoiar, no entanto, os revoltosos, posicionando-se a favor da legalidade e da ordem.

Em 12 de janeiro de 1910, a redação e as oficinas passaram a funcionar no novo edifício da Avenida Central, atual Avenida Rio Branco 110 – onde está instalada hoje a sede do jornal. Projetado pelo arquiteto italiano Benvenuto Berna, o prédio era, na primeira décado do século, o mais alto da América Latina e o primeiro a ser construído com estrutura metálica. Alguns toques de art nouveau, que começava a despontar, marcavam o requinte do seu anterior.

Em fevereiro de 1912, em continuidade ao processo de modernização, chegaram à redação as três primeiras máquinas de escrever – as canetas bico-de-pena seriam substituídas em breve. Ainda em 1912, foi lançada a página ilustrada de Esportes às quintas e domingos. Em 1913, surgiu a seção dominical Modas e Elegâncias e uma série de reportagens sobre as condições das favelas, que levaram o presidente Hermes da Fonseca a visitá-las, acompanhado de diretores e redatores do Jornal do Brasil, com a prom essa de melhorá-las.

Com o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, o encarecimento do papel levou o jornal a uma grave crise financeira. A empresa é hipotecada ao Conde Pereira Carneiro.

Nestes quinze anos retratados neste capítulo da história do Jornal do Brasil, os acontecimentos do mundo já estão chegando com mais velocidade às páginas como o naufrágio do Titanic, o vôo de Santos Dumont, entre outros. Apesar de ser considerado popular, nem só as reivindicações populares estavam nas páginas do jornal. Os assuntos que marcaram a história do país também estiveram nas páginas do jornal. A vitória de Rodrigues Alves para a presidência da República, em 1902; a vacinação obrigatória imposta por Oswaldo Cruz, em 1904 e toda a campanha e os distúrbios na Capital Federal; os muitos melhoramentos feitos pelo prefeito Pereira Passos – ‘o Rio civiliza-se’, como dizia o slogan na época; as campanhas e as eleições presidenciais de 1906, 1910 e 1914; a criação do Serviço de Proteção aos Índios; a inauguração do Theatro Municipal do Rio, e a tragédia que foi a morte de Euclides da Cunha, estiveram nas páginas do Jornal do Brasil.’’

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‘Começa uma história de 113 anos (1891-1900 )’, copyright Jornal do Brasil, 2/04/04

‘Era 1891.O Brasil republicano dava os primeiros passos. Há menos de dois anos deixara de ser monarquia e se transformara nos Estados Unidos do Brasil. Os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto foram eleitos pelo Congresso, respectivamente, presidente e vice-presidente da República. Inicia-se um período de perturbações políticas em todo o país. De um lado, os republicanos, do outro, os monarquistas, alijados do poder. O Rio, capital federal, fervia e precisava de mais um jornal, assim como os monarquistas. É neste contexto que surge a idéia de se lançar o Jornal do Brasil. Era necessário um novo diário que veiculasse críticas ao governo.

Em 1890, o ex-ministro do Império, Rodolfo de Sousa Dantas, com o apoio do escritor e político Joaquim Nabuco, que seria o correspondente em Londres, e de outros intelectuais da época, começam a discutir as bases do novo jornal. Com a empresa formada, surge em nove de abril de 1891, o Jornal do Brazil, ainda com o ‘z’ no lugar do ‘s’ de Brasil. Nesta data, comemorava-se o 60º aniversário de Te Deum celebrado pela ascensão de dom Pedro II ao trono imperial, comprovando as ligações iniciais do jornal com a monarquia. A sede do jornal ficava na Rua Gonçalves Dias 56, no Centro do Rio. Era um pequeno sobrado com três janelas e uma sacada. A primeira edição saiu com oito páginas. O pavilhão do jornal, como era costume, foi hasteado pelo gerente Henrique de Villeneuve. Era branco com letras pretas, demonstrando a isenção e a neutralidade, apesar de no primeiro momento ter sido fundado por monarquistas.

Os primeiros meses de vida do jornal foram tranqüilos, até a chegada de Joaquim Nabuco, que veio de Londres para assumir a chefia da redação. Neste período, começaram a surgir os problemas do jornal com os governantes. Uma série de artigos intitulados ‘Ilusões Republicanas’ e ‘Outras ilusões republicanas’, criticava o novo regime, provocando animosidade com os do poder, mas também com os monarquistas mais radicais, que condenavam Nabuco por sua moderação. Em cinco de dezembro de 1891, o Jornal do Brasil lançou sua primeira edição especial, por ocasião da morte de dom Pedro II. A relação com o governo ficou ainda mais conflituosa, culminando com a invasão da sede do jornal e o afastamento de Dantas e Nabuco.

Comandada por Henrique de Villeneuve, que também ficou com a chefia da redação, inicia a articulação para transformar a empresa de sociedade comanditária para sociedade anônima. Foram meses difíceis. Em abril de 1892 chegam os novos proprietários, também simpatizantes da monarquia. Apesar da crise financeira pela qual passava, resultado da invasão e das mudanças de comando, o ritmo do jornal continuou o mesmo.

Em abril de 1893, um novo grupo, ligado a Ruy Barbosa, comprou o jornal. Novamente era uma sociedade comanditária. Rui assumiu a direção e recebeu carta branca. O jornal mudou o seu enfoque, deixando de ser monarquista e defendendo o regime republicano, sem apoiar, no entanto, a ditadura de Floriano Peixoto, presidente da República. O apoio de Ruy aos militares que queriam derrubar o governo, demonstrado pela publicação da petição do habeas corpus em favor do almirante Eduardo Wandelkok, acirra as relações com o governo. Floriano exige a saída de Ruy, que não deixa o jornal. Dias depois, explode a Revolta da Armada e o presidente da República decreta o estado de sítio. A imprensa silencia, com exceção do Jornal do Brasil, que publica o fato. Floriano determina a prisão de Ruy, que consegue sair do país. O jornal foi fechado e assim ficou por um ano e quarenta e cinco dias.

A 15 de novembro de 1894, data comemorativa da Proclamação da República, o jornal volta a circular. A opção pela data ratificava o apoio à República. O jornal pertencia agora aos irmãos Mendes. A proposta era ser um jornal popular, voltado para as reivindicações populares.

Seções destinadas a atender às reclamações do povo foram criadas. O noticiário policial ganhou espaço nas páginas do jornal. Em 1897, as primeiras caricaturas foram publicadas e, em 1900, a primeira edição vespertina foi publicada. Nada mais lembra o primeiro Jornal do Brasil – só o nome havia ficado.’